Cedo teve consciência de seu poder de sedução. Olhares eram
dirigidos a ela constantemente. Curtia brincadeiras, principalmente a de olhar
com olhos semicerrados. Convite mudo, pensavam.
Andava com um sensual balancear dos quadris, e as mãos passeavam pelos
cabelos, enrolando-os no alto da cabeça, para que logo caíssem
sobre os ombros como uma cascata. Já tinha a sensualidade declarada através
daquela voz rouca, que mais se acentuava quando queria exuberância nas
suas aparições. Seios fartos, sempre soltos, eram verdadeiro convite
à contemplação. Tinha mania de mordiscar os lábios,
e umedecia-os com a língua , como se pedisse beijos.
Sair sem rumo pelas ruas , exercer seu fascínio, sentir seu domínio...
Corpo, puro aroma de almíscar!
O tempo voa...Um dia, acorda se perguntando o que, de fato, buscara na vida
. Até quando teria sua beleza e o poder de sedução? Reflete
sobre a voracidade do tempo, percebendo o vazio de sua existência. Olha-se
no espelho, vê as finas rugas desenhadas em torno dos olhos, e os lábios,
já sem o antigo frescor.
Sente, então, o sabor do sal misturado ao aroma de almíscar, que
vai se desvanecendo, enquanto todos os olhos do mundo parecem zombar dessa estranha
sensação que envolve seu ser. A vida perdera o colorido, transformando-se
num filme em preto e branco
Caminhando pelas ruas, busca outros rumos, evitando rotas tempestuosas. Quem
sabe, ainda não encontraria enredos que, mais do que um novo epílogo,
dessem novas profundidades para a sua história?
Uma coisa era certa: olhando sob esse ângulo, a vida se tornava muito
mais sedutora!