A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Era Réveillon

(Belvedere)

Caminhava para a casa de uma amiga onde iria passar a virada do ano.

Subitamente algo me chamou a atenção. Estirado na esquina, um corpo de homem cujo sangue já pintara o asfalto. Isolava-o um cone da prefeitura. Sequer um trapo o cobria.

Quem seria aquele homem? Como teria morrido? Ninguém se importava. Cada um seguia seu caminho. Risos, cantorias, clima de festa, cheiro de bebidas exalando no ar... Fiquei algum tempo olhando e pensando... como estaria a família daquele homem ali estirado? Apreensiva, aguardando-o? Ou seria apenas mais um solitário, cuja morte passaria despercebida? Constaria apenas nas estatísticas de morte violenta no final do ano, quem sabe?

Um corpo, sozinho. Sequer uma oração. Nem um ar perplexo na multidão que transitava, fria, buscando apenas as fantasias das alegrias de uma noite de Réveillon.

E os fogos espocavam enquanto o corpo ali jazia... sem nenhuma fantasia e a solidão por companhia.

  • Publicado em: 31/12/2007
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