Caminhava para a casa de uma amiga onde iria passar a virada do ano.
Subitamente algo me chamou a atenção. Estirado na esquina, um
corpo de homem cujo sangue já pintara o asfalto. Isolava-o um cone da
prefeitura. Sequer um trapo o cobria.
Quem seria aquele homem? Como teria morrido? Ninguém se importava. Cada
um seguia seu caminho. Risos, cantorias, clima de festa, cheiro de bebidas exalando
no ar... Fiquei algum tempo olhando e pensando... como estaria a família
daquele homem ali estirado? Apreensiva, aguardando-o? Ou seria apenas mais um
solitário, cuja morte passaria despercebida? Constaria apenas nas estatísticas
de morte violenta no final do ano, quem sabe?
Um corpo, sozinho. Sequer uma oração. Nem um ar perplexo na multidão
que transitava, fria, buscando apenas as fantasias das alegrias de uma noite
de Réveillon.
E os fogos espocavam enquanto o corpo ali jazia... sem nenhuma fantasia e a
solidão por companhia.