Percorrendo as ruas, observo as fisionomias. Algumas vivas, cheias de euforia,
e outras, como se estivessem com data marcada para a morte, tamanha a apatia.
Não sei em que lado estou.
Sinto-me dividida. Ora rio enfaticamente, chegando a ser escandalosa, e outras
vezes me cubro tentando encontrar refúgios em um universo que existe
apenas em minha imaginação. Ou além dela?
Não sei por quanto tempo viverei fases tão contraditórias
sem perder a sanidade mental. Surreal seria a palavra indicada para definir
esse tempo que corre.
Vivo esses dias vazios. Sinto frio...
Mas, tantas vezes me inebrio. E rio, rio...
Parece que um vinco teima em permanecer entre as minhas sobrancelhas, e meus
olhos já não têm o brilho de antes. A pele é fosca...
não sei, mas algo me diz que minha voz está um tanto rouca. Ai,
é a minha jovialidade fugindo de mim, sorrateiramente. Corro para buscá-la.
Não quero que se vá!
Abro a janela de meu quarto e refúgio, olho o movimento na rua. Quanto
burburinho, quanto disse-que-disse...
Não quero saber de nada! Fecho a janela, puxo as cortinas, ligo o ar
refrigerado e vou dormir.
Quem sabe sonho que ainda tenho quinze anos e me preparo para uma grande festa?
Vestidinho azul, batom cor-de-rosa, pó na face e sapatos com saltinho,
cheia de cuidados para não tropeçar pelo caminho.
Como estou linda, feliz e cheia de esperança!