A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Surreal

(Belvedere)

Percorrendo as ruas, observo as fisionomias. Algumas vivas, cheias de euforia, e outras, como se estivessem com data marcada para a morte, tamanha a apatia.

Não sei em que lado estou.

Sinto-me dividida. Ora rio enfaticamente, chegando a ser escandalosa, e outras vezes me cubro tentando encontrar refúgios em um universo que existe apenas em minha imaginação. Ou além dela?

Não sei por quanto tempo viverei fases tão contraditórias sem perder a sanidade mental. Surreal seria a palavra indicada para definir esse tempo que corre.

Vivo esses dias vazios. Sinto frio...

Mas, tantas vezes me inebrio. E rio, rio...

Parece que um vinco teima em permanecer entre as minhas sobrancelhas, e meus olhos já não têm o brilho de antes. A pele é fosca... não sei, mas algo me diz que minha voz está um tanto rouca. Ai, é a minha jovialidade fugindo de mim, sorrateiramente. Corro para buscá-la. Não quero que se vá!

Abro a janela de meu quarto e refúgio, olho o movimento na rua. Quanto burburinho, quanto disse-que-disse...

Não quero saber de nada! Fecho a janela, puxo as cortinas, ligo o ar refrigerado e vou dormir.

Quem sabe sonho que ainda tenho quinze anos e me preparo para uma grande festa? Vestidinho azul, batom cor-de-rosa, pó na face e sapatos com saltinho, cheia de cuidados para não tropeçar pelo caminho.

Como estou linda, feliz e cheia de esperança!

  • Publicado em: 19/10/2004
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente