A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O CIGARRO

(Belvedere)

Quando a paciente Neusa Maria deu entrada naquela enfermaria, recebi-a com carinho e conversei longamente com ela. Tinha absoluta ciência da gravidade de seu estado. Naquela enfermaria todos estavam graves, não havia exceção.

Diariamente ao chegar, visitava cada paciente, observando o estado de cada um, ouvindo-os e tentando dar um pouco de alento àquelas almas sofridas. Muitas vezes conversei com Neusa Maria sobre o terrível hábito do tabagismo. Ela insistia. Fumava às escondidas e quando não agüentava andar fumava no próprio leito. Era como se dependesse do vício para viver seus derradeiros dias. Talvez para ela, sem o cigarro, tudo ficasse pior...

Era calada. Ouvia o que eu dizia, mas no fundo devia pensar que se estava condenada para que abandonar o cigarro?

E os dias iam passando.

Uma tarde, cheguei e como de praxe fui a cada leito. Ao chegar ao dela, havia um cigarro ainda soltando fumaça num cinzeiro improvisado. Ela estava morta.

  • Publicado em: 23/08/2004
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