Quando a paciente Neusa Maria deu entrada naquela enfermaria, recebi-a com carinho
e conversei longamente com ela. Tinha absoluta ciência da gravidade de
seu estado. Naquela enfermaria todos estavam graves, não havia exceção.
Diariamente ao chegar, visitava cada paciente, observando o estado de cada
um, ouvindo-os e tentando dar um pouco de alento àquelas almas sofridas.
Muitas vezes conversei com Neusa Maria sobre o terrível hábito
do tabagismo. Ela insistia. Fumava às escondidas e quando não
agüentava andar fumava no próprio leito. Era como se dependesse
do vício para viver seus derradeiros dias. Talvez para ela, sem o cigarro,
tudo ficasse pior...
Era calada. Ouvia o que eu dizia, mas no fundo devia pensar que se estava condenada
para que abandonar o cigarro?
E os dias iam passando.
Uma tarde, cheguei e como de praxe fui a cada leito. Ao chegar ao dela, havia
um cigarro ainda soltando fumaça num cinzeiro improvisado. Ela estava
morta.