Já estava me ajeitando entre meus cinco travesseiros quando o telefone
tocou. Quem seria? O dia ele toca sem parar. Agora decidi deixar a secretária
eletrônica atender a maioria das chamadas, pois já ando meio estafada.
No entanto, decidi atender, pois eram altas horas. Do outro lado, Dalva me diz:
- Bel, o Miguel está querendo namorar, acredita?
Caí na risada. Ela meio sem graça disse ainda:
- É segredo. Não conte a ninguém.
Eu ria sem parar.
- Cedo ainda - continuou ela. - Veja só, Elma morreu apenas há
seis meses.
Eu, então, disse:
- Que maravilha saber disso! Foi a melhor notícia do ano, até
agora.
Acompanhei a dor de Miguel ao perder Elma e parecia que seu universo estava
destroçado. Tudo que eu pedi no dia 31 de dezembro, enquanto via aquele
show maravilhoso de fogos na praia e jogava minhas flores a Iemanjá,
foi que aparecesse alguém para Miguel e que ele voltasse a sorrir com
aqueles olhos matreiros. Eu já não reconhecia meu querido amigo,
tão envolto em dor e lágrimas... a saudade parecia destroçar
todo seu ser. Como me preocupei com ele. Não mais o veria sorrir, dançar,
cantar?
Falam muito sobre o tal do tempo para que se reconstruam vidas após perdas.
Isso é fato que não se discute. Cada um tem seu próprio
tempo. Não é algo delimitado segundo convenções.
Temos sempre que aceitar, aproveitar o que a vida nos oferece. Ele não
teve tempo para saber que Elma partiria tão repentinamente, e por que
existirá um tempo para que ele viva seu novo amor?
Não vejo a hora de encontrá-lo e falar sobre minha alegria. Estou
feliz demais!
Miguel, seque as lágrimas de vez! Abra um sorriso e abrace esse universo
que lhe pareceu hostil, mas que lhe acena agora de forma suave...
Sinto como se ondas leves, tais quais aquelas que no dia 31 lavaram meus pés,
batessem sobre todo o corpo de Miguel e o lavassem de todas as tristezas para
que, a partir de agora, ele viva um novo tempo.
Felicidade, Miguel!