Silvana chorava sentada em um canteiro na rua. Por que chorava Silvana, pessoa alegre, sempre com uma palavra para animar as pessoas, nunca deixando que os fatos desagradáveis do cotidiano a afetassem? Doutor Djalma, velho conhecido de sua família, por acaso passava pelo local e, reconhecendo-a, parou para saber o que ocorria. Ela, então, explicou...
Quando estava no elevador, em direção ao décimo segundo andar do prédio de seu homeopata, encontrou uma carteira. Guardou-a logo para observar depois com cuidado. Ao entrar no consultório foi direto para o banheiro e abriu a carteira. Tinha quinhentos reais em notas de cem. Após a consulta, sem saber como proceder, foi surpreendida pelos gritos de um homem no corredor do mesmo andar onde estava. Ele dizia: "Deus meu, o que faço da vida? Todo meu pagamento..." Silvana perguntou o que ocorrera e o homem respondeu que havia perdido a carteira com todo o pagamento. Ela nada perguntou, pegou a carteira e entregou a ele.
Depois, na rua, ainda pensando no ocorrido e no bem que havia feito, depara-se com uma senhora, na faixa dos oitenta anos, chorando e procurando algo nos canteiros e depósitos de lixo. Silvana, então, pergunta:
- O que houve, minha senhora? Perdeu algo?
Ela responde, desesperada:
- Perdi minha carteira com toda minha pensão... quinhentos reais!
Silvana estremece.
- Como!?
Ela disse não saber. Tinha ido ao médico no Edifício das Clínicas e acreditava que ao mexer na carteira dentro do elevador, para pegar a carteirinha do plano de saúde, talvez a tivesse deixado cair sem sentir. Perguntou a várias pessoas, mas ninguém havia visto.
Chorando, ainda falou:
- E ainda tinha uma oração com a imagem de Santo Expedito dentro da carteira. Por que ele não me protegeu?
Silvana se arrepia, pois foi a primeira coisa que viu ao abrir a carteira. Nada podia dizer à pobre senhora, porém reconhecia que havia sido vítima de um golpe.
Sente ódio, um ódio crescente e àquele golpista ela lança sua maldição eterna. De sua boca saem palavras que o doutor Djalma nunca havia escutado. A praga era uma mistura de palavras ininteligíveis, piscada de olho, estalar de dedos, tudo sob o olhar assustado do doutor que, com sua bíblia nas mãos, ora no mesmo instante um pai-nosso, pedindo a Deus que a abençoe, e segue seu caminho...