A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A SIMPATIA

(Belvedere)

Paola conversava animadamente comigo sobre as ocorrências de seu final de semana. Paqueras, encontros chatos, bebedeiras de amigos, quando o telefone tocou. Era Priscilla. À medida que Paola ouvia, seus olhos iam se arregalando e ela falava: "Jura?" E ria...

Curiosa, eu quis saber do que se tratava, após sua permanência ao telefone por uma hora e meia. Era tanta risada, tanto olho arregalado, tantos ais e uis... Insisti para saber. A princípio Paola relutou, mas decidiu narrar.

Como sua melhor amiga, Priscilla, estava há sete meses sem namorado e já em desespero de causa, resolveu ir a uma cartomante e benzedeira. Chamava-se Mãe Joaquina e morava lá no Areal, um cantinho bucólico que temos aqui. Lá chegando, Priscilla observou o ambiente, cheio de luzes azuis, vermelhas, cortinas. E a Mãe Joaquina, vestida como cigana, foi logo perguntando se ela queria o namorado de volta. Respondeu que sim e que o intuito da consulta era para que ele decidisse o casório, pois namoravam há oito anos. Ela já estava com 33, mais que hora de casar, ter sua família. O namorado, Bernardo, vivia tapeando.

Mãe Joaquina lê as cartas e diz que há um outro homem em sua vida. Um oficial da marinha. Priscilla se empolga, mas diz querer o Bernardo de volta. Brigaram pela insistência dela em marcar o casório para a primeira quinzena de dezembro.

A cartomante começa dizendo o que deve, e não, fazer para conseguir o namorado de volta. Caso não dê certo apelará para o outro que aparece nas cartas.

A simpatia consistia em colocar o nome dela acima do dele em um papel imerso em mel, que deveria ficar embaixo de uma vela de sete dias, com orações diárias para que o anjo da guarda dele o trouxesse de volta. Havia um porém: não podia aparecer formiga, senão a simpatia não teria efeito. Bem, Priscilla faz tudo, mas no segundo dia estava infestado de formiga. Então, joga tudo na lixeira e desolada começa a chorar.

Aí, nesse mesmo dia, aparece Geysa, contando a ela sobre uma nova simpatia, que era infalível! Várias amigas já haviam comprovado. "Muito fácil", disse Geysa. Bastava colocar o nome dele em um papel e deixar no congelador que em poucos dias o rapaz retornaria. Passados exatamente sete dias, Bernardo voltou para Priscilla.

Felizes que estavam, decidiram convidar Geysa para irem jantar na Cantina Di Paola. Lá chegando, para surpresa de Geysa, Bernardo havia levado um amigo, que já apresentara a Priscilla. Lindo! Olhos azuis, cabelos lisos e muito educado. Conversa vai, conversa vem, ele diz: "Sou oficial da marinha..."

Priscilla se arrepia, lembrando-se bem das palavras de Mãe Joaquina: Há um outro homem em seu caminho. Um oficial da marinha.

Começa a olhá-lo, embevecida com a tonalidade do azul cristalino de seus olhos, o sorriso meio de menino, a voz firme... e ela se imagina mergulhando naquele novo horizonte que se descortina.

  • Publicado em: 29/12/2003
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