Há mais de um ano, aquela obra chamava minha atenção. Bairro
nobre, ponto estratégico. O que sairia dali? Um dia tomei coragem e perguntei
a um dos pedreiros. Disse que seria um restaurante de comidas especializadas.
Bom, pensei. O tempo corria e nada. Parecia que a obra nunca teria fim.
Certa noite, final de semana, fui jantar em um restaurante na mesma rua e o
mesmo estava inaugurando. Vazio. Cogitei ainda em entrar, dar uma força,
mas analisei melhor. Poderiam estar aguardando convidados VIPs.
Um domingo, fui conhecer o serviço - um tanto demorado. Se vazio demoravam,
imagine quando enchesse! Tornei a ir, sempre gosto de prestigiar locais recém-inaugurados.
A espera cansou-me.
Continuei a passar pela rua, que é movimentada, e o restaurante sempre
vazio. Almoço, jantar, nada atraía clientela. Preocupei-me. E
o dono, que tanto investira naquela obra? Que decepção! Plena
crise essa que atravessamos. O cidadão investe, para quê?
Tinha que haver saída para aquele cidadão. Não me conformava
com todo aquele espaço vazio, as tentativas vãs de atrair clientela...
Decidi propor-lhe um negócio. Marquei dia e hora para que me recebesse.
No dia aprazado, surpreendeu-se quando eu disse que nada entendia de restaurantes.
O que tinha então a sugerir? Falei que o local deveria servir para atrair
uma clientela diferente. Propus um espaço para música. Jazz, bossa
nova e uma modernização na estrutura do ambiente para torná-lo
mais acolhedor. Ele achou boa a idéia.
Já havia observado que a decoração era muito fria, não
agradava mesmo. Enfatizei na remodelação do jardim, cujas cores
das flores eram tristes. Tínhamos que colocar alegria na entrada. E a
mudança do nome do restaurante era imprescindível, pois nada de
comida especializada. Deveria ter comida para todos os gostos. Da forma como
estava, restringia a clientela. Ele concordava com tudo.
Senti-me nas nuvens ao ver que acatava tão bem as minhas idéias.
Eu, agindo como uma mulher de negócios... maior respeito!
Falei em uma reinauguração, onde faríamos uma festa monumental.
Para isso, pensei em um grupo de bossa nova maravilhoso daqui da cidade. Fariam
o evento pela metade do preço, já que conheço um dos integrantes.
O dono do restaurante empolgou-se.
Despedi-me dizendo que voltaria no dia seguinte para acertar detalhes. Ele,
então, me perguntou:
- Gostaria de saber com quanto a senhora vai entrar nessa sociedade...
Respondi:
- Como?
Ele não fez por menos e disse:
- Suas propostas são excepcionais, aceito-as, desde que arque com as
despesas e formemos uma sociedade.
E agora? Quando vou parar com essa eterna mania de meter a colher nas coisas
alheias? Não querer ver as pessoas afundarem em decepções
após tantos investimentos...
É, dessa vez creio que vou ter que sair de fininho da área e até
deixar de freqüentar meu restaurante preferido, que está localizado
justamente na mesma rua. Ou quem sabe aceitar a proposta, investir e me tornar
uma mulher de negócios.