A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A RUPTURA

(Belvedere)

Não sabia como usar as palavras, de forma a não chocar, na minha brusca iniciativa de romper um relacionamento de vinte e cinco anos.

De repente parecia que havia nuvens dispersas em todas as áreas por onde transitasse. Uma sensação de inutilidade, de beco sem saída... A única explicação plausível estaria no enfraquecimento desse caso de amor. Havia perdido toda essência. Insosso, sem ritmo, vazio.

Então, fantasiei-me de lamúrias, deitei no sofá fingindo ânsias do que já não existia, para que desse o exato tom: provar que nada mais havia para que continuássemos naquele faz-de-conta.

Ele me olhou fixamente, levantou as sobrancelhas e disse que ultimamente eu estava parecendo maluca, e disso ele andava farto. Ainda frisou que, a bem da verdade, não tinha mais nenhum tesão por mim.

Pior é que o danado estava bonito! Naquela jaqueta importada... com perfume Calvin Klein...

Fechou a porta, e através da janela ainda o vi dobrar a esquina.

Seu cheiro impregnara o quarto, enquanto uma perplexidade incomensurável tomava conta de mim, sem nenhuma cerimônia.

  • Publicado em: 01/09/2003
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