A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Uma Breve Lembrança

(Cristiana de Barcellos Passinato)

Engraçada essa sensação que sinto que meu passado ainda não passou e que ele vive a cada suspiro, e cada música, canto de minha casa, sala, quarto, cozinha. São mesclados sonhos, cheiros, gostos, sons, sentimentos de saudosismo que parece pieguice, mas é a mais profunda melancolia de ver o que se transformou o meu mundo. Meu mundinho que não passa das paredes de meu quarto. Ele foi se estreitando, se delimitando, pois não cabe mais tanta coisa. Muitos livros, CD´s, uma parafernália de computação e eletrônicos, enfim, tanta tecnologia e nostalgia, que me fazem chorar de saudade dos meus tempos de gravador de mão e da vitrolinha que tocava com o auto-falante o disquinho de vinil "single" das Patotinhas patinando na capa e vendo a Eliana ainda adolescente com cara de menina boba e não aquela apresentadora que parece uma Barbie, que também surgiu nessa época e foi sensação, sim porque antes dessa, eu tive várias Susies, alguém se lembra?

Li outro dia um e-mail sobre lembrar de determinadas coisas, e com as fotos, nossa foi um chororô desgramado... Isso porque vocês não podem nem imaginar, vocês não tem a menor noção de minhas brincadeiras na escola, e os problemas que atravessava de adaptação e Eu peguei do bambolê, elástico, iô-iô da coca-cola, aquelas coleções de garrafinhas de coca pequeninas, estava lançando a Sprite, meu Deus, como o tempo passou. Gostava muito do Genius, tinha pavor de uma mão verde do Hulk, alguém se lembra dele? E um gancho vermelho.

E os jogos da Grow? Nossa, aqueles play mobil e casinhas de madeira que montava e fazia uma cidade, porque ainda não havia chegado o Lego na minha época. Enfim, bebia no intervalo, no Recreio mesmo das aulas, um Ola Ola, sabe aquela mistura de todos os refrigerantes de máquina juntos e um misto ou cheese-burguer...

Jesus amado, como o tempo voa, ainda ontem eu saia para as festas de 15 anos. Ainda ontem, eu dei o primeiro beijo que odiei... Ainda ontem, passei no vestibular, e não é que até hoje estou lá na faculdade presa no passado que queria que passasse, mas esse teima em não sair de minha vida.

Meu Jesus, olha aqui a minha coleção de papéis de carta! Não, não é a do computador não, é aquela das pastas e pastas e as figurinhas, olha? Figurinhas de álbum Sarah Key, uma espécie de Ane Geddes da época só que de desenhinhos bonitinhos, tipo fofolete, sabe? E o Amar É... Aqueles bonequinhos peladinhos com frases lindas de amor, que nem auto-colantes eram, que engraçado lembrar disso?

Meninos, e quando começaram a fazer xerox? Foi um advento para mim comparado na época ao computador, sabe... Porque peguei o mimeógrafo e os carbonos de mamãe me sujavam toda a mão e os jornaizinhos da quinta série, eu rodei nele, no mimeógrafo da mamãe e bati na minha olivete portátil, super moderna, que nem elétrica era. Tinha que rir mesmo, eu nem sabia que iria fazer tudo assim num instrumento que depois de tudo corrigidinho, e olha que nem sempre sai perfeitinho, agente imprime, não é legal? Pois é... Delícia não é?

Pois então, com um passado tão doce, o que eu me prepararia no futuro? Enganaram-me que tudo ia ser lindo, que eu ia dar certo e que tudo ia ser florido e lindo em meus lindos e sorridentes dias. Esqueceram-se de me mostrar e preparar pra esse mundo cão, que me engole na primeira mordida para as grades de meu quarto que me prende nesse passado que não me faz cair no chão...

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