Engraçada essa sensação que sinto que meu passado ainda
não passou e que ele vive a cada suspiro, e cada música, canto
de minha casa, sala, quarto, cozinha. São mesclados sonhos, cheiros,
gostos, sons, sentimentos de saudosismo que parece pieguice, mas é a
mais profunda melancolia de ver o que se transformou o meu mundo. Meu mundinho
que não passa das paredes de meu quarto. Ele foi se estreitando, se delimitando,
pois não cabe mais tanta coisa. Muitos livros, CD´s, uma parafernália
de computação e eletrônicos, enfim, tanta tecnologia e nostalgia,
que me fazem chorar de saudade dos meus tempos de gravador de mão e da
vitrolinha que tocava com o auto-falante o disquinho de vinil "single"
das Patotinhas patinando na capa e vendo a Eliana ainda adolescente com cara
de menina boba e não aquela apresentadora que parece uma Barbie, que
também surgiu nessa época e foi sensação, sim porque
antes dessa, eu tive várias Susies, alguém se lembra?
Li outro dia um e-mail sobre lembrar de determinadas coisas, e com as fotos,
nossa foi um chororô desgramado... Isso porque vocês não
podem nem imaginar, vocês não tem a menor noção de
minhas brincadeiras na escola, e os problemas que atravessava de adaptação
e Eu peguei do bambolê, elástico, iô-iô da coca-cola,
aquelas coleções de garrafinhas de coca pequeninas, estava lançando
a Sprite, meu Deus, como o tempo passou. Gostava muito do Genius, tinha pavor
de uma mão verde do Hulk, alguém se lembra dele? E um gancho vermelho.
E os jogos da Grow? Nossa, aqueles play mobil e casinhas de madeira que montava
e fazia uma cidade, porque ainda não havia chegado o Lego na minha época.
Enfim, bebia no intervalo, no Recreio mesmo das aulas, um Ola Ola, sabe aquela
mistura de todos os refrigerantes de máquina juntos e um misto ou cheese-burguer...
Jesus amado, como o tempo voa, ainda ontem eu saia para as festas de 15 anos.
Ainda ontem, eu dei o primeiro beijo que odiei... Ainda ontem, passei no vestibular,
e não é que até hoje estou lá na faculdade presa
no passado que queria que passasse, mas esse teima em não sair de minha
vida.
Meu Jesus, olha aqui a minha coleção de papéis de carta!
Não, não é a do computador não, é aquela
das pastas e pastas e as figurinhas, olha? Figurinhas de álbum Sarah
Key, uma espécie de Ane Geddes da época só que de desenhinhos
bonitinhos, tipo fofolete, sabe? E o Amar É... Aqueles bonequinhos peladinhos
com frases lindas de amor, que nem auto-colantes eram, que engraçado
lembrar disso?
Meninos, e quando começaram a fazer xerox? Foi um advento para mim comparado
na época ao computador, sabe... Porque peguei o mimeógrafo e os
carbonos de mamãe me sujavam toda a mão e os jornaizinhos da quinta
série, eu rodei nele, no mimeógrafo da mamãe e bati na
minha olivete portátil, super moderna, que nem elétrica era. Tinha
que rir mesmo, eu nem sabia que iria fazer tudo assim num instrumento que depois
de tudo corrigidinho, e olha que nem sempre sai perfeitinho, agente imprime,
não é legal? Pois é... Delícia não é?
Pois então, com um passado tão doce, o que eu me prepararia no
futuro? Enganaram-me que tudo ia ser lindo, que eu ia dar certo e que tudo ia
ser florido e lindo em meus lindos e sorridentes dias. Esqueceram-se de me mostrar
e preparar pra esse mundo cão, que me engole na primeira mordida para
as grades de meu quarto que me prende nesse passado que não me faz cair
no chão...