Estive em uma tarde quente, em um presídio.
  Parecia um terror.
  Primeira visão, de funcionários que não lhe encaram de 
  frente e mal fazem o que lhe são pagos.
  Também, coitados, com o que ganham e vivendo aquele cenário todos 
  os dias e tendo de lidar com todo tipo de gente, há de se criar um certo 
  tipo de muro entre o humano e o racional.
  Segundo, vislumbrei senhoras, moças, grávidas, crianças 
  amontoadas esperando sua vez para ficar durante uma hora com seus parentes, 
  amigos, primos, tios, sabe-se lá o quê, pelo menos um pouquinho 
  que fosse, pois a visitação é de semana em semana.
  Se quisessem visita íntima em um quartinho separado, seria pago mais 
  cinqüenta reais para isso durante mais uma horinha.
  Se for dia de visita especial, mais vinte reais por dia.
  Soube que a alimentação é azeda e que para se comer algo 
  melhor paga-se duas vezes por semana 50 reais para o detento comer algo melhor.
  Soube ainda que se quisessem ainda poderiam nessa ida, comprar um refrigerante 
  por quatro reais e um prato ou de batatas-fritas, pizza, ou frango a passarinho 
  para eles comerem algo melhor, pois tem até um "garçom" 
  lá servindo às famílias.
  É muito triste e o pior é ver o espaço como encontram depois 
  de devidamente revistadas e chamadas por um número, só entrando 
  sua carteira no máximo e a espera de seus parentes ansiosas iam-se elas 
  para o "quadradinho" para ver seus amados ou amores.
  Quente, esse lugar, mais parecia um inferno.
  Mal cheiroso, um barulho ensurdecedor, mas todos de uma forma muito complexa 
  de se explicar felizes, beijando-se, abraçando-se, alguns até 
  namorando mesmo, mas alguns chorando e quase caindo de dor, por estarem em um 
  lugar que não deveriam estar.
  Muitos até religiosos, com seus filhos, passando tão mal que até 
  gélidos e brancos ficavam.
  Vi alguns que comiam feito loucos e pediam mais, levantando-se e dizendo não 
  mais agüentar, mas tinham que empurrar para sobreviver.
  Alguns nada conseguiam colocar na boca.
  Um disse-me que estava muito gripado, pois há uma bactéria que 
  só existe lá dentro do "xadrez", aliás um espaço 
  de quarenta metros quadrados onde ficam 67 pessoas.
  Não se pode dar um movimento que esbarra-se em outro detento nesse calabouço 
  que é pior que o inferno segundo esse senhor.
  Além disso, esse presídio é tido como o pior da América 
  Latina.
  É doído ver a situação do outro lado, de quem está 
  lá.
  A tortura é diária, tanto física quanto psicológica, 
  ainda por cima, há o abandono por todas as partes.
  Dói muito a todos que vêm esse tipo de coisa.
  Agora, peço para quem puder avaliar:
  PODEMOS JULGAR ALGUÉM DESSA FORMA?
  ESTAMOS AQUI FORA, PROTEGIDOS, OU DESPROTEGIDOS, E ELES ESTãO PIORES.
  ACHO QUE O ASSASSINO, TRAFICANTE, O BANDIDO DE VERDADE ESTá ACOSTUMADO, 
  FICA EM UMA SITUAçãO DESSAS "NUMA BOA" COMO DIZEM AS 
  MáS LÍNGÜAS, MAS O HOMEM DE BEM SE DISTINGUE POR Lá 
  E SABE-SE PELO SEMBLANTE SOFRIDO QUE AQUILO NãO É PARA ELE.
  PARA ISSO, POR ESSA JUSTIçA TORTA QUE EXISTEM OS TAIS DIREITOS HUMANOS, 
  POIS Há O BEM E O MAL POR Lá, NãO SE SABE QUEM É 
  QUEM, QUANDO SE CAI EM UMA DESSAS NãO SE SABE MAIS O QUE É O QUE.
  ENTãO A QUEM PUDER ESCUTAR-ME, NãO É O SISTEMA PENITENCIáRIO 
  O CULPADO, ELE É UMA DAS MAIORES VÍTIMAS, MAS A JUSTIçA 
  SIM, ACABA POR ESTAR CADA DIA MAIS INJUSTA, LENTA E TORTA!
  ISSO NãO PODE CONTINUAR DESTA FORMA!
(08 de agosto de 2003)