Se você, caro leitor, assumiu Tiririca ou similares como opção
à falta de opções para candidatos nas próximas eleições,
sugiro uma lida nas diretrizes gerais da candidatura de Plínio Arruda
Sampaio. Não sou ativista política. Sou cidadã brasileira
cansada de promessas não cumpridas, de discursos mirabolantes, de resoluções
inviáveis. Cansada de viver esperando o futuro chegar ("Brasil,
o país do futuro...").
Há algumas semanas, observando candidatos e debates na televisão
(que monopoliza sutilmente a opinião pública), tive a oportunidade
de assistir ao candidato do PSOL à Presidência da República
- Plínio Arruda Sampaio - brigar pela oportunidade de participar dos
debates. Foi-lhe negada tal participação, por não ser um
dos líderes das pesquisas. Um absurdo, em se tratando de democracia!
A partir desse episódio, comecei a prestar atenção naquele
senhor de aparência frágil, mas de comportamento leonino na defesa
dos direitos - seus e dos cidadãos brasileiros. O direito de qualquer
um de nós podermos pleitear dirigir a nação, pelo simples
fato de sermos brasileiros.
Fui buscar informação no sítio (site) do PSOL, e
tive a grata surpresa de encontrar, entre suas diretrizes, quase tudo o que
penso e sinto em relação à verdadeira democracia e defesa
de direitos dos brasileiros como um todo, e não apenas da classe política
e empresarial (leia-se: banqueiros).
Começa com um assunto polêmico e um tanto desconfortável,
que é a auditoria da dívida pública, com suspensão
do pagamento dos juros e amortizações, controle do fluxo de capitais
e do câmbio, com subordinação do Banco Central (BC) ao Estado,
e taxação progressiva das grandes fortunas (acima de R$ 2 milhões).
Uau! Precisa muita coragem para tamanho desafio!
Lembro de ter assistido aos entrevistadores da TV Globo ridicularizando aquele
senhor - que poderia ser pai deles - sem, ao menos, dar-lhe chance de explicação,
numa demonstração de onipotência típica dos "globais".
No entanto, Plínio não pára por aí. Ele defende
a reestatização da Vale, em especial de empresas como os Correios
e a Petrobrás, além do fim da privatização das florestas,
revogação da MP 458, que legaliza a grilagem no campo; desmatamento
zero, com apoio aos povos indígenas, ribeirinhos e das populações
tradicionais. Ou seja, um homem que dá valor ao brasileiro de origem,
ao povo que já habitava nosso país antes de nós. Apoio
à demarcação, homologação, titulação
e garantia de inviolabilidade dos territórios indígenas, quilombolas
e os territórios de matriz africana; combate ao racismo ambiental.
Uma das bases de sua plataforma de governo é a reforma agrária,
com limitação do tamanho da propriedade rural ao tamanho máximo
de mil hectares, com expropriação de todas as terras que utilizem
trabalho escravo e infantil.
Alguns outros pontos são, também, bastante polêmicos, mas
não menos dignos de debates populares, sem a velha ironia e descaso com
que sempre foram tratados, como: direito de greve, inclusive de servidores públicos,
e contra as medidas e projetos que visam precarizar, privatizar e destruir os
direitos dos servidores e os serviços públicos; o fim do fator
previdenciário e a defesa da previdência pública; a redução
da jornada de trabalho de 40 horas, sem redução de salários;
fim dos bancos de horas.
Defesa do Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira
e destinação de 10% do PIB para garantir educação
pública em todos os níveis.
Fim do modelo de gestão por Organizações Sociais na Saúde
e extinção das Fundações privadas na gestão
pública; defesa da saúde pública universal, integral
e com controle social.
Reforma política com participação popular, baseada
no financiamento público exclusivo de campanha. Defende o fim da criminalização
das mulheres que se submetem ao aborto. É contrário ao racismo,
a homofobia e o machismo.
É favorável à democratização dos meios
de comunicação; auditoria de todas as concessões das
emissoras de rádio e TV; fim da criminalização das rádios
comunitárias; anistia aos comunicadores populares; proibição
da propriedade cruzada dos meios de comunicação; banda larga universal
operada em regime público; criação do Conselho Nacional
de Comunicação como instância deliberativa de definição
das políticas de comunicação com participação
popular; políticas públicas de incentivo à implementação
de softwares públicos e livres, ampliando o acesso e a democratização.
Combate sem tréguas à corrupção institucionalizada
no Brasil - defendendo a punição de todos os envolvidos em denúncias
de desvios de verbas, cassação de mandatos de parlamentares corruptos,
financiamento público exclusivo de campanha.
Enfim, luz no fim do túnel!
Não é uma campanha com promessas de construir nada faraônico,
de mudar ou abandonar nada do que vem dando certo, mas de moralizar o que está
imoral, de incentivar o que está deixado de lado, de promover igualdade
de chances para um povo tão desigual, tão díspar, mas com
a "consciência pública" tão democrática...
Não sou politizada, nem filiada a nenhum partido, repito, porém,
se ao invés de votar em tipos como o Tiririca, apenas como forma de protesto,
lembrando que ele ocupará uma cadeira com direito a decidir a vida do
país e dos cidadãos de hoje e de amanhã, por que não
investir tanta energia e humor numa possibilidade mais palpável de consertar
o que está roto, num país já tão agraciado pela
natureza e por seu povo miscigenado, rico de potencialidades e pleno de habilidades?
Por que não deixar de esperar o futuro e partir para a solidificação
do presente? Por que não dar uma chance de fazer alguma coisa de mais
verdadeira para você mesmo e seus compatriotas?
Não se trata de pedir voto ou fazer a cabeça de ninguém,
mas se você é desses que não tem tiririca na cabeça,
estude as plataformas de governo dos candidatos, deixando de lado a causa própria
e pensando um pouco mais em termos de massa, de país, de democracia.
Afinal, por que você não se candidata? Já pensou nas razões?
Nas dificuldades? Pela constituição, qualquer um de nós
pode.
Vamos começar? Se não para você, por que não contribuir
com alguém que possa e queira, e que defenda ideias semelhantes às
suas? A menos que você realmente esteja com Tiririca na cabeça...
(19/09/2010)