A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

MULHERES ANÔNIMAS

(Lílian Maial)

Interessante como as pessoas covardes tornam-se corajosas e cheias de moral, quando se utilizam do anonimato. Acusam, falam o que querem, e somem, sem dar chance a retórica.

Pessoas que são anônimas na vida, nos relacionamentos, na profissão (se tiverem alguma, que não viver parasitando alguém), pessoas que não possuem identidade. No fundo, amargas, por não conseguirem progredir na vida e no espírito, apregoam religiosidade, moralismo, ética, mas, no íntimo, sabem-se cruéis, infelizes, mal amadas, dotadas de falso moralismo e, pior, não conseguem conviver com a felicidade e o sucesso alheios.

Falta-lhes, é certo, além de um profundo exame de consciência, um pouco mais de ousadia, liberdade interior e busca de seu próprio caminho. Falta-lhes o entendimento do quanto suas próprias vidas são vazias, tanto assim que perdem seu tempo ruminando o mal.

Todos já esbarramos naquelas mulheres feias, sem viço, sem atrativo algum, que, por puro despeito, adoram apedrejar as que se sobressaem, jogar lama em sua conduta, tentar roubar-lhes qualquer coisa, nem que seja o nome, no momento em que as enxovalham. São pessoas que poderiam até ser embelezadas de alguma forma, na parte externa, no corpo, na aparência, muito embora seu interior cause, por si só, horror a si e aos outros.

Quem já não conheceu o homem fracassado, com sentimentos de inferioridade, que nunca conseguiu se ajudar, mas que não perde tempo em chamar aquele homem bem sucedido de ladrão, politiqueiro e, sistematicamente, corno, ainda mais se a mulher que anda a seu lado (e isso quase sempre acontece, por méritos próprios) for uma verdadeira representante do sexo feminino, com todos os atributos que a tornam desejável a qualquer mortal. E a quem chamam de vadia, certamente por não conseguirem que ela os veja como homens de verdade, pois não o são.

Entre as mulheres, então, isso é muito freqüente. Ao invés de sentirem-se gratificadas de ver a outra alcançar um patamar onde é considerada vitoriosa, de vivenciar a alegria de saber que uma mulher se sobressai em diversos campos profissionais e ainda consegue manter a família, a aparência, e deixar para a humanidade sua marca na História, ao contrário, sua vil formação de caráter torna-as invejosas, sofredoras e potenciais armas de difamação e intriga, que fazem do alcance de seus objetivos medíocres o caminho e a meta de suas vidas, sempre através do anonimato.

Sim, porque na frente, olho no olho, não têm coragem.

Não se encontrariam pessoalmente com quem as incomoda, porque seria duro demais encarar a desvantagem. Seria triste demais reconhecer sua posição inferior, ver que tudo o que fala ao atacar a outra é simples reflexo da pobreza que têm por dentro.

Essas pessoas vivem da mágoa de não terem conseguido o que as outras, às quais achincalha, têm.

Por mais que a maldade tenha poder, e isso sem o menor cunho religioso, não consegue derrubar o que uma pessoa constrói por seus méritos. Apenas porque o que cada um constrói de sólido, no seu "eu", é indestrutível, por maior que seja a maledicência. Ela está em paz consigo e naquilo que acredita.

Quem maldiz, não tem idéia do que o outro seja de verdade, em seu íntimo. E também nem se importa. O que precisa é falar mal, por puro despeito e insegurança.

Sempre acreditei que toda pessoa tem seu lado bom, ou, sem ser muito apelativa, seu lado Yin e Yang, positivo e negativo, porém com um equilíbrio saudável, que ela mesma cria, para a convivência com os iguais. Eventualmente há os deslizes. Contudo, com um momento de reflexão, as coisas tendem ao normal.

No entanto, há aquelas que não atingem o mínimo de auto-valorização, e deixam-se cair na vala, no negrume de suas mentes, e só enxergam o lado triste e inútil da vida.

São as pessoas que olham um dia chuvoso e pensam na chateação de não ter sol, ao invés de ver que ela, a chuva, irriga as plantas, traz a água necessária à reciclagem da vida, e traz o aconchego do colo, o calor humano da aproximação das pessoas.

Por outro lado, ao se depararem com um belo dia de sol, atormentam-se com o calor, com o suor, com a seca do sertão, com a amolação da condução para o trabalho, quando, no mínimo, deveriam ficar felizes com a luz, o aquecimento do solo para plantio, a vida, a reprodução, a beleza.

É, definitivamente as pessoas não sabem o que perdem, por não olharem ao seu redor e para dentro de si. Infelizmente tornam-se anônimas para elas mesmas. Não sabem mais quem são.

E não há nada mais desolador que uma mulher anônima. Dessas que ninguém nota, que passa desapercebida pela multidão, que entra numa festa e ninguém repara se já estava lá, ou acabou de chegar (isso, se souberem quem a convidou). Mulheres com a idade do mundo, amargas, sem brilho próprio, sem capacidade de compreender a beleza da vida, sua grandeza e seu papel no mundo. Mulheres que viveram presas a preconceitos, a pecados que sempre imaginaram, mas que nunca realizaram, por pura covardia. Mulheres que profanam a palavra, a simplicidade, a humanidade que há em cada um de nós.

Tenho pena dessas mulheres anônimas, que nunca serão felizes. Porque, no momento em que conseguem a aparente destruição de alguém de sucesso, logo seu alvo muda para outro alguém, e tudo começa de novo.

Bem lá no fundo, o que essas mulheres precisam, para deixarem de ser anônimas, é de uma personalidade forte, de assumir a responsabilidade de seus atos, a começar pela assinatura de um nome.

  • Publicado em: 17/10/2003
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente