Lá vem o Dia dos Namorados e, mais uma vez, teimo em escrever sobre ele.
Mas é porque namorado é coisa de adolescente, como eu.
E, já que estou em plena adolescência tardia ou, como prefiro, readolescência,
cabe perfeitamente martelar sobre o tema.
Vale colocar que nem todos sabem direito o que é ser namorado.
Namorado não é ficante, não é amigo colorido (nem
preto & branco), não é amante, não é marido, não
é noivo.
Namorado nem precisa amar, pra falar a verdade, embora a maioria ame, mesmo que
não saiba.
A condição básica para ser namorado é estar apaixonado.
Sabe como é, aquela condição em que a gente fica bobo, fazendo
coisas bobas, mas muito feliz.
É sair de mãos dadas com seu amor, caminhando na Floresta da Tijuca
depois de um dia de chuva, encharcando o tênis em poças, mas não
estando nem aí pra isso, porque ele está ali, do seu lado.
É emaranhar os dedos e os cabelos nas teias úmidas de aranhas impertinentes,
e tentar lavar as mãos no riacho, respingando seu amor de surpresa.
É brincar de pegar, por entre as árvores, com ele e os raios de
sol, filtrados pela folhagem.
É olhá-lo o tempo todo, seja dirigindo, seja distraído, ou
seja olhando pra você.
É não se cansar de beijá-lo na boca e, a cada vez, perceber
um novo sabor, uma nova sensação, embora tenha a certeza de que
o identificaria entre um milhão de bocas.
É percorrer os dedos por sobre sua pele, brincar com seus sinais e pêlos
longos, descobrir pequenas reentrâncias e se aventurar nos músculos
retesados de prazer.
É sentir seu olhar de qualquer distância, mesmo que só na
lembrança, a quilômetros, em outra rua, outro bairro, outra cidade.
É ouvir sua voz chamando nosso nome no ruído do vento.
É convidá-lo para almoçar e não conseguir lembrar
qual foi a comida que nos alimentou.
É implorar a "São Graham Bell" que o telefone toque e
seja ele, e depois não querer desligar nunca mais.
É perder a concentração no trabalho, guardar na mesa do escritório
aquele bichinho de pelúcia ridículo (para a sua idade), mas que
faz você lembrá-lo tanto.
É ficar agoniada quando ele demora mais do que você calculou.
É viajar no ônibus lotado, completamente amassada, tal e qual sardinha,
mas com um sorriso sem sentido nos lábios, pensando nele.
É matar sua amiga de inveja, ao receber e-mails obscenos dele, e deixar
que ela leia só a primeira parte.
É surpreendê-lo com seu chocolate preferido, colocado estrategicamente
em locais para ser encontrado em momentos inesperados.
É telefonar 20 vezes por dia e, a cada vez, ter a sensação
de que não falava com ele havia séculos.
É imaginar o dia inteiro o que ele deva estar fazendo.
É receber "torpedinhos" de amor no celular.
É perceber seu olhar de ciúme quando o colega a elogia para ele.
É odiar mortalmente aquela moça que ele comentou que já deu
bola par ele uma certa ocasião, mesmo antes de vocês se conhecerem.
É ver os sacrifícios que ele faz e as novidades que inventa só
para ver você um pouquinho.
É comemorar o Dia dos Namorados, presenteando, apesar de não ter
mais 15 anos, com bichinhos e coraçõezinhos, cartinhas, bilhetinhos.,
tudo no diminutivo.
É terem sua música romântica e você sempre olhar para
ele, de maneira cúmplice, quando ela toca em qualquer lugar.
É olhar pra ele e lembrar de edredom, quando o tempo esfria.
É saber que será sempre sua namorada.
.É escrever sobre o Dia dos Namorados, quando não há absolutamente
mais nada o que se escrever sobre esse dia comercial, inventado por alguém
muito esperto mas, provavelmente, enamorado.