A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Simplesmente um sorriso

(Vânia Moreira Diniz)

Ontem dia 26 de dezembro, que procede ao Dia de Natal, voltávamos meu marido e eu do Restaurante onde fôramos almoçar e sentimos a calma desse dia depois de tantas efusões e excitamentos que apreciamos nos dias anteriores à data máxima da cristandade.

Respiramos paz e sossego, com o movimento relativamente pequeno de carros e pessoas. É estranho esse dia que vem depois. Sempre o analisei mesmo nos tempos áureos de minha adolescência e juventude. E sempre me parecia esquisito depois do barulho estarrecedor.

Com o passar do tempo fui compreendendo mais ainda o quanto o comércio é o responsável por essa data tão bonita, mas cada vez mais transformada em troca de votos que se esvaem apenas com um dia de sua concretização.

Parece que todos se acalmam depois de extravasar momentos lúdicos em compras de presentes, festas ruidosas, votos de feliz natal e esperam ano novo que novamente transformará as ruas em luz efervescente e ilusória.

Foi nesse rumo de pensamentos que paramos num sinal relativamente perto de nossa casa e pudemos ver de repente um rapaz numa cadeira de rodas com um dos sorrisos mais bonitos que já víramos. Ele pedia auxílio, porém não deixava de se dirigir às pessoas que estavam nos carros em fila, com uma simpatia difícil de encontrar numa pessoa que vive tão tristemente.

O rapaz a que me referi mostrava várias falhas nos dentes da frente superiores e inferiores, mas isso não tirava a sinceridade e beleza daquele sorriso, que nos emocionou em igual proporção. Não era um esgar como às vezes observamos em certas pessoas que riem apenas exteriormente, mas vinha de dentro como uma luz verdadeira.

O jovem parou perto do nosso carro e pudemos conversar durante alguns instantes, o que mais aumentou sua expressão diferente e emocionante. Ao mesmo tempo ele já de longe falou que nossa presença tinha "levantado" seu espírito.

Não sabemos explicar o que aconteceu conosco naquele momento, mas sua figura simpática não saiu de nosso pensamento durante toda a tarde e conversamos várias vezes sobre o rapaz.

Gostaríamos de encontrá-lo novamente e pudermos ajudá-lo no sentido lato da palavra e se Deus quiser nos proporcionará essa alegria. Gostaríamos muito. Isso é que é empatia, mas uma empatia proveniente de sua figura humilde e carismática que não precisava nem dos dentes completos para iluminar o rosto sofrido.

Achei interessante relatar esse acontecimento que tanto nos emocionou e espero realmente vê-lo mais uma vez para que possamos ressarcir o bem que nos fez.

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