Esse é um momento de muita emoção. Muita. O escritor Artur
da Távola era antes de tudo um ser humano maravilhoso. Que se preocupava
pelos seus semelhantes de uma maneira especial e que tinha um extremo cuidado
pelo "outro".
Perdeu o pai muito cedo e tinha pela mãe, Dona Magdalena um amor-veneração
que em nenhum momento ele ocultava. Numa de suas inumeráveis crônicas
escreve pondo sua alma à mostra: "Não estou aqui, porém,
para elogiar minha mãe porque morreu há quase dezesseis anos,
mas para dizer que, no recato de minha dor e na interiorização
do meu sentir, mais que todos, eu poderia pensar com orgulho e egoísmo:
sim, egoísmo, porque o que era teor dela em caráter e exemplo,
agora me pertence mais que a todos. Fui seu cúmplice toda a vida e aprendi
as admirações que lhe tributei. A morte nos permite essa apropriação
sem inventário."
Embora formado, dizia que era um autodidata porque aprendera o verdadeiro sentido
da vida nas ruas do Rio de Janeiro, na batalha de todos os dias e com a simplicidade
que o caracterizava expunha os motivos que o fazia pensar assim.
Falava de sua terra com inusitado amor e ultimamente até escreveu uma
série de crônicas num livro eletrônico "Rio, Um olhar
de amor" em que fala de sua recordações, enaltecendo bairros
e acontecimentos bem cariocas e incrivelmente emocionantes, principalmente para
seus conterrâneos.
Sus crônicas normalmente se baseavam no dia-a dia, nos acontecimentos
presentes, no olhar de observação para cada momento da vida.
Artur da Távola era o pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro
de Barros e seus livros foram apreciados em grande escala embora eu ache que
ele merecia muito mais reconhecimento pelas obras que editou. Amava a música
desmedidamente e ia fundo quando se tratava de enaltecê-la.
Presidente atual da Rádio Roquette Pinto dedicava-se ao cargo tão
intensamente como o fizera em todas as outras atividades de sua vida.
Seu caráter e ética permearam sua existência tanto como
homem de família, literato, político, jornalista amigo e tenho
certeza que está sendo esperado em seu espaço de luz enquanto
caminha tranqüilamente na direção indicada.
Poeta que marcou parte de minha vida e que eu admirava profundamente não
só pelo carisma e sensibilidade mas também pelo talento fascinante
e auto-conscientização de sua missão neste planeta.
Ele me procurou pela primeira vez quando leu meu texto "Primavera"
e desde aí não deixou de me prestigiar com seu carinho e amizade.
Escreveu uma linda mensagem na orelha de meu livro 'Pelos caminhos da Vida"
e enviava crônicas diretamente para que eu as publicasse em sua coluna
no meu portal. Continuamente tinha uma palavra de estímulo, divulgando
meu portal em sua Casa de Cultura e enviando mensagens que me estimulavam a
escrever cada vez com mais entusiasmo.
Ao erguer sua coluna em meu Portal há muitos anos pedi que falasse um
pouco de sua personalidade e ele me respondeu com sua singular humildade:
"Vânia: Como eu gostaria de ser tão bom quanto você
sinceramente considera!. Sou uma pessoa pacífica, quase comum, filho
de viúva muito cedo, torço pelo Fluminense, com humores, apetites,
gostos populares, bom humor e dúvidas existenciais. Gosto de música,
mulher que fala baixo e adoro ler vida de santos. Exatamente porque não
o sou. Mas fico feliz por sua generosidade que aquece este velho coração."
E depois completou quando falamos sobre literatura: "Escrever é
um trabalho braçal com um pedacinho de inspiração e uma
secreta alegria que pagam a rudeza da tarefa."
Artur da Távola foi embora, com a certeza que cumpriu seu papel e que
está deixando aos que ficam um exemplo de amor aos semelhantes e quem
o conheceu ou acompanhou sua vida e sua obra jamais poderá esquece-lo.
E nessa saudosa hora de despedida desejo, de onde ele estiver que receba meu
pessoal agradecimento pelo carinho, força, mensagens que deixou e que
eu jamais poderei olvidar.
À sua família, o meus sentimentos de ternura e minhas orações
para que tenham força numa hora tão difícil.
Artur, grande mestre, muito obrigada. Obrigada pelos ensinamentos, pela lição
de vida e por ter confiado no meu trabalho. Obrigada por ter deixado a todos
nós um exemplo inexcedível de conduta intocável e principalmente
de amor à humanidade.
Obrigada e minha saudade.