Minha mãe morreu este ano, mais precisamente no fim de maio, deixando
uma profunda saudade e não poderemos hoje comemorar o dia do seu aniversário.
Uma data muito especial principalmente quando meu pai estava vivo e a festa
em comemoração reunia toda a família. Éramos oito
irmãos e a alegria enchia toda a casa de felicidade.
Hoje acordei com a sensação que faltava uma luz e que o dia estava
escuro e descolorido. As cores que eu tanto amo não brilhavam e o mundo
todo era cinza e preto.
O seu aniversário estava sendo comemorado, sim, mas dentro do coração
de cada um dos filhos, agradecendo a Deus pela ventura que foi conviver com
ela, amá-la, sentir seu temperamento fascinante, tão diferente,
mas ao mesmo tempo incrivelmente sedutor.
Um vácuo imenso tomava conta do meu coração e eu a sentia
tão bem, o sorriso bonito brilhando no espaço, os cabelos que
não eram mais grisalhos, porém voltavam a ser negros como graúna,
e os olhos acompanhavam a alegria que transparecia em seu rosto.
Retornei aos meus tempos de infância, vendo-a tão bonita, sentindo
o perfume que me enfeitiçava e querendo sentar no sofá da sala
para responder às suas perguntas ou sentir a presença sempre tão
especial.
Ela estava em minhas recordações profundas tão radiosamente
exuberante que ouvia os ecos da festa em sua homenagem, meu pai tão perto
a oferecer-lhe o infalível e lindo presente de todos os anos escolhido
com carinho e nós todos ali partilhando os momentos de felicidade e alegria
que se repetia todos os anos.
Ali estava a casa em fôramos criados, grande, o quintal abrigando nossas
brincadeiras, gritos e brigas, e a certeza da presença de nossos pais,
o porto seguro de anos a fio.
Minha mãe morreu em maio, o mes que ela tanto apreciava, num dia comum
de semana e a sentia caminhando como gostava de fazer e trazendo essências
de vitalidade na presença no filme que se desenrolava em minhas reminiscências
mais remotas.
Ah, como é bom saber que podemos vê-la tão nítida
em nossos pensamentos e isso nada poderá nos tirar. Ah como é
doce sentir que nenhum detalhe de seu rosto nos escapará e podemos apreciar
até os detalhes mais sutis de sua expressão. Ah como é
tranqüilizante saber que ela está entre nós com forças
e amor e que continuamos a amá-la com o mesmo vigor e admiração.
Ah como é reconfortante poder transmitir a ela o nosso terno e profundo
agradecimento e enviar essa saudade ao mesmo tempo magoante e verdadeira.
Hoje, dia do seu aniversário, imagino como seria seu rosto de bebê
e como os anos em escalada a transformariam naquela mulher segura, imponente,
estranhamente altiva ao mesmo tempo em que perceptiva. E como a natureza, o
mundo é capaz de nos fazer caminhar sempre rumo a um espaço desconhecido,
mas supostamente transbordante de paz e luz.
E é isso que esperamos, meus irmãos e eu, imaginando e confusamente
misturando sonho e realidade, passado e presente, nostalgia e lembranças
que jamais se apagarão de nossos corações, tal é
a força como ficaram marcados o tempo de sua existência, os dias
em que vivemos juntos, e a presença marcante que contornou nossas vidas.
Parabéns, mamãe! Por tudo que você foi e por sua presença
sutil, até que nós mesmos cheguemos e possamos senti-la em nossos
braços.