A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Indiferença, arma cruel e certeira

(Vânia Moreira Diniz)

Não vou escrever sobre a necessidade ou não da guerra de Israel e Líbano e seus motivos mais profundos. Deixo isso para os "entendidos". O que quero realmente expor é a dolorosa violência que conturba a humanidade toda. E a indiferença com que muitas vezes presenciamos o sofrimento alheio. Nada começou daí. A indiferença pelo sofrimento de outras pessoas inicia em nossas próprias casas, entre os parentes, amigos e conhecidos, nas pessoas que estão próximas e para as quais olhamos incapazes de um gesto, de um sorriso, de um olhar de compreensão ou de uma atitude de cumplicidade..

É aí que começa a insensibilidade pelo sofrimento alheio ou mesmo a grosseria que não faz parte da indiferença, mas da reação agressiva de um ser humano por outro.

A Guerra urbana mata milhões de pessoas, a truculência covarde e falta absoluta de sensibilidade quando lidamos com nosso próximo, excluindo pessoas humanas com necessidades especiais, doentes, velhos, carentes em todos os sentidos e que não podem se defender. Isso é o máximo da ausência de amor que conturba a humanidade.

Rimos, brincamos, passamos por cima da dor de outras pessoas contanto que estejamos bem, que nosso ego perdure satisfeito ou tenhamos por vezes a errônea consciência que o mundo gira em torno de nós.

Assim acontece nessa guerra dando-nos a sensação que não podemos esperar mais nada da vida, presenciando mesmo de longe o massacre de milhões de pessoas, e crendo que não há nada que justifique tanto sofrimento de crianças, mulheres, homens, seres humanos enfim, cuja dor não tem fim.

Como é horrível usufruir as coisas mais simples, orgulhar-se de seus próprios méritos, gargalhar, ser feliz sabendo e vendo as cruas cenas de carnificina mostradas ao mundo inteiro como se estivéssemos no cinema assistindo a um filme de suspense e à destruição e à barbárie que o mundo presencia em capítulos dolorosos.

Não há nada que possa justificar tanta destruição, sangue derramado, horror, desgraças, miséria, e morte. E não há alegrias capazes de empanar o espetáculo aterrorizante que se passa nessa guerra fria e cruenta, maltratando a humanidade na verdade porque atinge todas as pessoas que acompanham esse sacrifício inútil.

E a guerra não está só lá, distante de nós, está em cada rua da cidade, em cada pessoa que nega seu auxílio à outra, no desemprego, na exclusão, na insensibilidade dos mais poderosos, na pobreza, nas doenças, na frieza de se negar a estender a mão aos mais fracos, no egoísmo, na traição, na empáfia, no desinteresse repulsando nossos irmãos de caminhada, na insensibilidade, no não reconhecimento da luta pelos excluídos.

Estamos no momento crucial de uma humanidade que permeia e define seus caminhos. Amor, amizade, solidariedade não são termos vãos, mas palavras chaves que poderão levantar e tornar esse mundo menos perverso ou destruí-lo totalmente.

Não podemos ficar indiferentes a tudo, acostumados a ver a aflição alheia, sem um gesto de revolta, reação natural nos seres humanos normais.

Afinal estamos a favor ou contra a destruição, a guerra e a devastação? Será que podemos em sã consciência curtir a vida em seus momentos mais prazerosos com o espectro de uma humanidade sofredora, desesperada e clamando por socorro?

Será que realmente podemos nos divertir alegremente enquanto pessoas humanas são feridas, torturadas e mortas?

Indiferença, o sentimento mais covarde que existe não pode permanecer entre nós porque seria o fim desse planeta que já se manifesta até nos fenômenos da natureza.

Sejamos então compassivos com nossos próximos, tão semelhante a nós na certeza que precisamos um dos outros, com a mesma intensidade. Abominemos a mentira, o disfarce, o fingimento e voemos nas asas libertas da verdade. Elas são mais fascinantes, sedutoras e nela encontraremos o porto que aguardamos.

Precisamos urgentemente que a violência amaine não só nas ruas como entre os povos que desde o começo de nossa história brigam, se machucam e guerreiam de uma forma brutal. Que possam seguir a estrada com mais humanidade e como seres humanos e não animais ferozes em busca de sua presa.

Precisamos nos unir e encontrar a paz, para que nossos descendentes encontrem a felicidade na luz, afastem a escuridão e sejam solidários para que possam sentir o retorno da verdadeira prosperidade e a presença do amor, do "amai-vos uns aos outros" e do "eterno" mesmo na efemeridade da vida.


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