A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A Velhice, idade do conhecimento

(Vânia Moreira Diniz)

Nos países de sabedoria oriental, quanto mais velho se torna alguém mais respeitado é pela sabedoria impregnada. E é lamentável que no Brasil essas pessoas sejam tão pouco reconhecidas embora essa visão já esteja mudando positivamente.

O exemplo de carisma na velhice eu encontrei em meu avô. Olhando-o absorvendo tudo que dizia com uma concentração rara não só eu como todas as pessoas jamais poderiam julgá-lo um "velho". Em sua casa, reuniam-se nas noites quentes do nosso Rio de Janeiro estudantes que ficavam seduzidos pelo seu conhecimento.

Nunca, em oportunidade alguma encontrei alguém, tão fascinante como meu avô. Aprendi com ele quase tudo que sei, não só em vivência como também em conhecimento. Havia uma pequena cadeirinha, em que me sentava ao seu lado absorvendo o que ele ia dizendo e que eu guardava em minha memória e também em meu coração.

Era escritor, advogado, político, jornalista e exercia vários cargos, mas isso não impedia que reservasse um tempo, em que me falava de assuntos triviais até os mais sérios e filosóficos. Muitas vezes compreendi seu modo de entender a vida e seus ensinamentos e sua cultura vastíssima fazia com que eu me perdesse em suas palavras querendo "aprender" cada vez mais.

A velhice apenas confirmou e transpôs os limites naturais de seus conhecimentos e de sua sapiência. Aprendi muito de solidariedade, amor, compreensão, doçura, energia apreciando-o e observando-o.

O estudo para aquele sábio homem cuja fonte de conhecimentos generosa e pródiga costumava me saciar era primordial, acudia com naturalidade pessoas que não tinham condições para fazê-lo e vi muitas vezes estudantes hóspedes em sua grande e atraente casa.

Fiquei tão deslumbrada com isso, que anos depois fiz uma pesquisa de campo sobre a velhice e para isso freqüentei asilos onde vi e convivi com velhos de ambos os sexos e pude desfrutar da experiência de muitos contadores de história, realmente impressionantes.

Mesmo nas pessoas que não tiveram oportunidade de estudar usufruí a convivência com pessoas mais velhas e encantadoras aprendendo muito com eles. Isso me faz lembrar uma amiga de minha avó, uma das mulheres mais bonitas que conheci. Era já idosa, mas seus traços se conservaram extraordinariamente belos e gostava de olhá-la profundamente enquanto ela contava casos ou tocava seu antigo piano.

Impressionante como essa senhora reunia gente jovem, muito jovem ao seu redor, seduzidos pelo seu espírito, inteligência, arte, exuberância encantando a quantos a conheciam. Histórias, ela tinha inúmeras, sempre diversas e palpitantes que vibravam de vida e calor.

E é por esta razão que faço uma homenagem à terceira idade maravilhosa, quando sabem vivê-la com arte e apreciá-la. Todos caminhamos mais hoje mais amanhã para essa fase contraditória e bela e quando chegar lá, quero estar plena e conscientemente laboriosa, feliz e cativada pelo viver de cada dia.

Estou querendo enaltecer as pessoas que sabem tirar de sua existência uma fonte de aprendizado, felicidade e aceitação dos anos que se foram, mas continuam presentes em suas lembranças e ensinamentos.


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