Hoje pela primeira vez em muitos e muitos anos tenho uma folga para escrever
aleatoriamente. Meu site está fora do ar e embora tendo muito trabalho
a fazer, sou obrigada a deixá-lo para mais tarde. Ontem fui ao Clube
sentir o carnaval que tanto amo.
E li quase a manhã inteira, o que adoro fazer, como se ali pudesse encontrar
a explicação para muitas e inexplicáveis dúvidas.
Agora o que realmente preciso depois de uma semana de muito trabalho é
olhar simplesmente para o horizonte da capital e procurar entender porque estou
me distanciando de mim mesma. Talvez deva trabalhar nesse livro que estou escrevendo
longe, muito longe, desligar o meu e-mail, desconectar-me, para que possa compreender
em sua essência o que transmito e as reações das pessoas
começando por mim mesma. Às vezes sinto que minhas atividades
se perdem num vazio. O que sempre chamei de ideal não será utopia?
É o que reflito nesse momento, depois da alegria de ter realizado no
ano de 2005 tantos projetos de fundamental importância para mim.
Acho que nada é importante. Nem meu trabalho de divulgação
de talentosos escritores, nem a dedicação e carinho com que empreendo
esse sonho, nem mesmo a ternura de ansiar cada vez mais por um mundo igual,
humano e menos perverso.
Devo me afastar? Caminhar por outras alamedas, procurar outras formas de ajudar
a essa humanidade carente cuja única certeza é a finitude e o
limite que se encerra num dia que não sabemos?
Devo compreender que jamais conseguirei realizar esse sonho? E então
me conscientizar dessa verdade sem traumas ou amarguras?
Vou... Pensando, conjeturando em minhas próprias atividades, procurando
conclusões que no momento não consigo tirar e sentindo-me vazia
e impotente como em tantos momentos dessa estrada pedregulhosa.
Vou... Sem ao menos entender a mim mesma, desejando ouvir o som de uma verdade
que ainda não se fez objetiva e perguntando-me se estarei errada em tanta
coisa que empreendi.
Vou... E as alegrias se misturam às dúvidas, mas prossigo até
o momento que a certeza me sussurrar a palavra certa e sugerir a conclusão
que dará sentido real à minha caminhada.
Estou confusa, parei nesse instante sem saber a direção que tomo,
indecisa, titubeante, mas em paz com minha consciência que seguiu até
agora intuições e sonhos e procurou entender um planeta descompassado,
lindo, contrastante onde habitamos e chegamos independente de nossa vontade.
Vou... E já nem sei o que é mais concreto, a minha vontade de
acertar ou a incerteza de que estou fazendo o melhor, já não sei...
Lá longe o horizonte, a fé que depositei na vida, o trabalho intenso
e maravilhoso, o fascínio de lutar e vencer. Mesmo assim já não
sei o que realmente é o mais verossímil.
E continuo caminhando, absorvendo a verdade e procurando não desistir
apesar das decepções e do abismo, revivendo das cinzas de minha
própria alma que por vezes se obscurece, mas revive na luz estonteante
das estrelas.
Por vezes não enxergo, mas acelero o passo.