Justamente próximo ao carnaval morre o musicista, aquele que transformava a tristeza da população em alegria e conseqüentemente os conflitos dolorosos do povo sofrido, no seu talento desafiador e entusiasmado. Pernambucano, pobre, mas querendo sobrepujar as seqüelas que sua vida impunha veio para o Rio de Janeiro num caminhão que carregava açúcar. Fugia desesperadamente da fome naquele momento. Só em 1950 começou como ritmista e teve suas duas primeiras composições gravadas por Jackson do pandeiro.
Ele queria caminhar, melhorar, fugir da miséria e encontrar na música não só sua identidade como a sobrevivência.Como ele mesmo dizia "lutar por dias melhores".
Estudou violão clássico durante oito anos e suas músicas falam acremente das injustiças sociais.
Com uma visão inteligente e sofredora, tinha um ângulo específico para enunciar suas opiniões cunhadas na observação do mundo e do dia a dia. Apesar de ter sido vendida mais de três milhões de cópias dos seus 25 discos a mídia sempre quis afastá-lo. Não aparecia em programas de televisão e nas salas vip das emissoras de FM.
Com uma capacidade imensa, sabia transformar as composições em uma agressão que ele achava necessária num mundo onde era discriminado justamente pelo seu valor. E tinha consciência que o fazia por milhares de pessoas que não tinham a música para se expressar. No começo de sua carreira não admitia ser chamado de pagodeiro porque dizia que música feita por pobre era assim classificada.
Seu talento foi reconhecido por todos aqueles que conviveram e eram fãs desse músico incomum, mas é claro que ele merecia muito mais reconhecimento da parte de toda a mídia. Seus parceiros se consideravam privilegiados e realmente o eram por conviver com esse homem que tanto como artista como pessoa se destacou pela qualidade e persistência traduzindo o sentimento do povo menos favorecido e sofredor.
Na verdade, Bezerra da Silva não morreu, viverá na alma de todos aqueles que vibraram com a intensidade do que ele interpretava e continuará a admirá-lo em outras pessoas que seguirão esse caminho que ele tão bem ensinou de firmeza, persistência e valor, não se detendo diante de preconceitos ou animosidades.
Sabemos, temos convicção que Bezerra da Silva cumpriu o seu papel e deixou uma obra valiosa, não só de conteúdo mas também de vida e brilhará no espaço com a luz intensa que clareou sua existência e enfeitou a vida de seus parceiros e ouvintes.
A ele nosso preito de gratidão e amor.