A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Uma Mulher Especial

(Vânia Moreira Diniz)

Uma das imagens mais ternas que vem com freqüência em meus pensamentos foi de alguém muito especial que já se foi há uns anos atrás. Recordo-me que durante toda a minha vida ela foi o esteio dos momentos tristes ou alegres. Chamei-a sempre de babá mesmo quando já era adulta, porque não saberia falar de outra maneira. Em várias oportunidades foi de uma força extraordinária até mesmo quando um dia me defendeu de um acontecimento que eu poderia ter morrido, não fosse a sua intervenção.

Acho que tomara conta de todas as pessoas da família, mas comigo tinha um cuidado demasiado e mesmo pequenina eu sentia a expressão diferente e extremamente meiga quando me tomava nos braços. Era mãe essencialmente, e não queria nada mais que isso.

Sabia mais de meus sentimentos, meus mistérios, minha história, minha vida do que minha mãe. E era a primeira a ser procurada quando eu tinha um grande acontecimento a relatar, quando chegava ofegante pela corrida, louca para lhe dizer o que me emocionara, alegrara e me tornara tão essencialmente feliz.

Havia uma pureza tão inerente nessa mulher, uma dedicação tão evidente e profunda por uma filha que não era dela de sangue, que me emocionava toda vez depois que já me tornara adulta, de pensar nessa sensação que só podia vir dela. Mas eu a amava como se minha mãe fosse. E hoje toda vez que falo dela, as lágrimas não podem deixar de descer.

Quando eu nascera, ela já se encontrava na casa de meus avós e eles haviam criado o filho dela. Com todo o carinho. Essa doação de amor que vira e fora testemunha era algo que sempre me impressionara. Tive a enorme alegria de testemunhar a generosidade, amor, sentimentos e atitude nobres dessa fantástica mulher e pude presenciar o quanto ela era corajosa e firme quando se tratava de nos defender.Especialmente eu fora alguém protegida por ela numa hora muito difícil em que eu era inocente e indefesa.

Na época que vim para Brasília, a sua dor fora tão grande que eu me sentira transida de aflição ao ver seu desespero e sentira uma saudade tão grande que doía como se fosse uma dor física. E o coração dói verdadeiramente. Já senti isso em várias oportunidades.

Seu nome era Joaquina, mas todos na família a chamavam de mãequina, menos eu que me acostumara desde que nasci a chamá-la de babá. Nunca vi exemplo de bondade tão especialmente tocante, tão espontâneo e natural em todas as manifestações.

Foi essa mulher, babá ou mãequina que ensolarou meu tempos de infância, me defendeu o quanto pode das intempéries, chorou inusitadas e muitas vezes comigo e aprendeu a acompanhar o ritmo de minhas risadas intermináveis.

Soube também ficar a meu lado, paciente e extremamente carinhosa num período difícil em que ela via e me acompanhava mesmo quando eu estava silenciosa ou arredia.

Jamais poderei esquecê-la, esteja onde estiver, porque sei que eu a mantenho viva e sempre solidária dentro do meu coração.


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