A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Nosso presidente sempre em campanha

(Vânia Moreira Diniz)

Custei a imaginar o nosso querido Lula como presidente da república. Tive minhas dúvidas persistentes e levei algum tempo para crer nisso. E nessa última campanha, senti seu carisma e quando vi estava apaixonada pela figura do Presidente assim como muitos brasileiros. Disposta a votar naquele homem simples sem cultura acadêmica, que tinha sofrido tantas privações e enfrentado uma vida difícil e tormentosa.

Por isso mesmo avaliei o quanto ele devia entender do nosso povo sofrido, pobre, sem condições quase de sobreviver. Mas para mim, Lula age como se estivesse eternamente em campanha, palavras bonitas, sorriso franco, angariando ainda mais a simpatia de um povo crédulo e carente.

Chego à conclusão que o poder, o sucesso e fama realmente modificam a maioria das pessoas ou pelo menos as desviam de um caminho que traçaram, dos ideais mais vigorosos em relação ao povo e a tudo que empreenderam.

Acredito que nosso Presidente ainda queira melhorar a vida de seus conterrâneos e sonhe com uma nação justa, onde todos possam “fazer pelo menos três refeições ao dia” como ele vaticinava. Só não acredito que seus sonhos para com seus concidadãos sejam maiores que a ambição e alegria ao sentir que está sendo reconhecido pelo mundo inteiro.

O entusiasmo e a fé nele próprio se dirige muito mais para seus ideais pessoais do que para a área social. E se ainda fala nisso é porque essa linha é um caminho cada vez mais amplo para o sucesso.

Na realidade, os dias comuns dos brasileiros continuam assoberbados de tristezas, sem dinheiro suficiente para pagar a comida diária e com falta absoluta de segurança sequer para tomar um simples ônibus e ir ao trabalho. E quando o sorridente Presidente fala em aumentar o salário mínimo em maior proporção idealiza ao mesmo tempo um menor ganho para o aposentado que lutou anos e anos e agora na velhice não consegue ter a estabilidade de direitos e um valor adequado para comprar remédios no período mais frágil de sua vida . Ou seja para cobrir um, descobre o outro. Soluções sem conteúdo humanitário.

Creio que um governo que gasta milhões em um avião luxuoso para as inúmeras viagens do seu maior mandatário poderia ter um salário mínimo digno e garantir a qualidade de vida de seus velhos.

Quando o nosso querido Lula estava na campanha, tudo parecia mais fácil e o brasileiro crédulo, visualizou mais uma vez um futuro menos incerto, protegido e consciente.

O povo delirava, em seu entusiasmo, olhando, admirando aquele homem que ultrapassara tudo desde a dor da fome até a discriminação de uma família simples que se deslocara de uma região pobre e totalmente sem recursos para o estado mais promissor do país.

Ai está o presidente Lula, um homem do povo, que sofreu, intempéries e privações, abandonou tudo para defender o trabalhador, com raça e determinação e que no momento preciso e vital, eleito pelo povo, não sabe o que fazer de seus objetivos mais nobres, vertiginosamente encantado com o poder e com as glórias da fama que brilham esplendorosamente empanando as lembranças dos dias passados e tão recentes. Nosso Presidente ainda está em campanha. Quer mais admiração, mais sucesso, mais popularidade, mais gritos entusiásticos esquecendo que o momento é de retorno e que o povo brasileiro espera na prática um mínimo de tudo que o seu Presidente sugestionou ao lançar-se como candidato. Já não são palavras, mas um presidente que esteja presente em suas angústias e esperanças. Não mais precisamos da sua delirante e carismática campanha. Precisamos de ação...


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