Enquanto algumas recordações se impunham em meio ao turbilhão
de sonhos descontrolados pude analisar minuciosamente minha terra natal, o Rio
de janeiro e sentar-me docemente perto da praia aspirando a maresia, odor particular
do mar que desde a minha infância me acompanha com intimidade.
Lentamente a brisa que sopra e também tão conhecida fazia com
que meus pensamentos se dirigissem a cenas particularmente doces e encantadoras
que constituíram minha infância e adolescência. E a beleza
natural que talvez eu nem prestasse atenção na época, me
dá aquela saudade dos lugares em que cresci.
Tudo hoje é diferente e embora a fascinação e o feitiço
maravilhoso transbordem em cada uma de suas esquinas, eu lamento que a violência,
a pior espécie de guerra, esteja dominando as ruas e vicejando dolorosamente,
fazendo com que pessoas inocentes sejam atingidas e a fome e a miséria
ainda mais permaneçam em cada trecho da cidade.
Será que os nossos dirigentes ainda não compreenderam que a falta
de emprego e condições adequadas está transformando a cidade
tristemente nesse campo de batalha?
Será que realmente não dá para que os que governam a cidade
esqueçam seu egocentrismo, individualismo, vaidade ou luta por um poder
ainda maior, e lembrem que o cidadão carioca está precisando de
sua proteção e das promessas não concretizadas?
Claro que como sempre digo, gostaria de estar tratando de minha literatura,
convicta de que o governo estaria cumprindo seu dever. E não deixasse
que os bandidos se tornassem famosos, o que faz com que eles se julguem superiores
e intocáveis enquanto maltratam e trucidam as pessoas de bem, que precisam
trabalhar e que lutam para dar às suas famílias e ao país
condições dignas e honradas.
A verdade é que onde o estado encolhe, o bandido domina. Isso quer dizer
que nesses lugares faltam hospitais, postos de saúde , postos policiais,
centro de treinamento e desenvolvimento de pessoas como o SESC , SENAI e SESI,
organizações que tem demonstrado eficiência nas suas respectivas
áreas e apesar de serem organizações privadas vivem com
recursos advindos da folha de pagamento dos trabalhadores, não seriam
também recursos públicos dada a sua compusoriedade de recolhimento?
Claro que as pessoas que cuidam dos Direitos humanos tem que proteger os indivíduos
que se encontram presos ou recolhidos em presídio e que não podem
ser vítimas de vinganças ou maus tratos. Mas porque não
protegem também e gritam pelos direitos dos trabalhadores honestos que
carecem de proteção e que se arriscam permanentemente enquanto
lutam pela sobrevivência? Porque só lembram dos algozes e nunca
das vítimas?
Tristemente parece que nos acostumamos com a visão da truculência
e quando ela é repetida já não nos traz a emoção
que deveria. E então presenciamos a descrição de cenas
que nem uma guerra é capaz de conter e sem aquela revolta que nos moveu
nos primeiros tempos.
Mas a verdade é que precisamos reagir e urgentemente. Gritar, pedir,
demonstrar nossa dor, unirmos nossos esforços implorando que os mandatários
dos governos, especialmente das cidades mais afrontadas tomem uma providência.
Estamos cansados de reuniões, de esperas, de aconselhamentos, de palavras
bonitas ou relaxantes que não levam a nada, de ver os dirigentes viajarem
e serem considerados "maravilhosos", o que queremos é que eles
sejam eficazes dentro de nosso país, em momentos que já se tornaram
corriqueiros de atrocidades e barbárie, pondo em risco a vida e o bem
estar de nossa população.
Espero assim que o estado em cumprimento a preceitos constitucionais promova
e assegure segurança, saúde e educação. Isso é
o primordial.
Enquanto admiro o horizonte , penso que a esperança não pode ter
ido embora, que a fé deve continuar firme e consistente enquanto nos
conscientizamos que em nossos direitos à cidadania se inclui, exigir
que possamos todos nós caminhar com segurança pelas ruas de nossas
cidades, admirando, estudando, trabalhando , lutando para o crescimento do Brasil
e nos sacrificando mas acreditando na lucidez daqueles que foram eleitos para
pensar no povo.