Há alguns meses escrevi uma crônica sobre a esperança de
receber Lula como presidente da República. Aliás demorei um tempo
para acreditar e ter perspectivas com sua eleição. Já estamos
tão desiludidos que custamos a crer. Finalmente o sangue acelerou, o
coração bateu mais forte, concentrei-me naquele homem que me parecia
excepcionalmente valoroso e disposto a resgatar tudo aquilo que ele não
pudera usufruir doando para os brasileiros necessitados um pouco de fé,
confiança, conforto, vida digna, ausência de fome e de miséria.
Emocionei-me profundamente com suas palavras, atitudes, a descrição
de sua vida pobre, do sacrifício de sua família, do trabalho extenuante
de sua mãe. E imaginei, que mesmo não tendo a cultura de seus
antecessores e talvez por isso mesmo ele dominasse esse país com a força
da sua garra, vontade de transmitir aos seus concidadãos o que não
pudera usufruir.
Sabia que o vibrante candidato não tinha conhecimento acadêmico,
mas possuía em demasia a experiência que o mundo lhe fornecera,
atualizado que estava com as desesperanças de pessoas que como ele, ansiavam
por um Brasil melhor. Sabia que tinha andado pelo país, conhecia-o profundamente
em todas as nuances e sentidos e convivera com suas carências e sofrimentos.
Depois da eleição sempre o via empolgado, e achava mais do que
natural que alguém que conquistou o poder com sua própria vida
e lições aprendidas no dia-a-dia, aperfeiçoando o modo
de encará-las, tinha que estar entusiasmado pelo que vinha pela frente.
E o povo brasileiro inteiro ou quase, vibrava com aquele homem de origem humilde
que chegara ao mais alto escalão do poder político.
O tempo foi passando e por onde Lula caminhava o povo queria aclamá-lo
com todo o vigor, certos de que o homem salvador ali estava e por isso o país
inteiro estava disposto a empreender sacrifícios.Lula era uma verdadeira
fascinação nacional.
As semanas e meses se sucediam, as viagens do Presidente se multiplicavam, mas
todos concordavam, estavam ao lado dele, freneticamente delirantes com a "Fome
Zero" e com tudo que se delineava.
Pouco a pouco um sentimento estranho de dúvida foi tomando muito lentamente
o espaço que era destinado apenas à confiança e à
certeza.
Na verdade todos viam que o desemprego aumentava, o nosso querido Presidente
viajava como um verdadeiro rei em avião de luxo desmedido, havia desentendimentos
no governo e um dos assessores do Ministro chefe da casa Civil estava envolvido
em fatos obscuros, foi exonerado, é verdade, mas não permitida
pela base do governo, uma Cpi elucidativa.
Estava lançada a tristeza de saber que o Presidente não era mais
alguém do povo exatamente mas talvez o poder o transformara, usava palavras
agradáveis e sorrisos simpáticos mas sem a decisão necessária.
O poder está inativo. Não se vê, apesar de reconhecermos
que são pessoas capazes, um trabalho efetivo, dinâmico necessário,
vontade de tirar o povo do marasmo de uma vida sem horizontes encaminhando os
mais pobres para uma vida razoavelmente digna. Palavras, há em certos
momentos, frases de esperança que nunca se realizam, paliativos existentes
em outras épocas e não é isso que almejamos.
Vá, Sr Presidente, dê-nos pelo menos a esperança renovada
de uma vida mais digna num país imensamente grande e rico. Não
deixe que o povo se desiluda com a figura do Presidente que andou pelo mundo
inteiro e já convenceu os mandatários do exterior. A sua glória
está realizada, conseguiu a credibilidade que todos os presidentes sonham,
resta é que essa credibilidade seja implantada nesse país e convença
a cada pequeno trabalhador para que possa se refletir o brilho de fé
nos olhares apagados pela desesperança. Isso é que importante!
Estamos aqui como há pouco mais de um ano, confiando ainda, mas assistindo
ao espetáculo de suas viagens em avião portentoso, que custou
ao governo milhões de dólares, enquanto seus colaboradores se
digladiam para saber quem tem mais influência e poder.
Estamos aqui esperando o antigo Lula que sofreu, passou fome, lutou pelo seu
lugar ao sol, veio para a cidade grande com a garra de vencer, gritou e sofreu
para transformar esse país e tornou-se finalmente o Presidente.
Presidente, socorro, é que lhe pedimos.