O preconceito é uma das mais tristes distorções e exclusões
com as quais convivemos ainda de forma intensa na nossa sociedade. Triste realidade
a nos cercar de forma hedionda, maltratando seres humanos indefesos porque atinge
justamente as pessoas mais frágeis e, no entanto, valorosas. Ela fere
impiedosamente eliminando o que de mais admirável há no ser humano.
: O respeito por seu semelhante.
Estamos pelo menos em Brasília passando por um problema fruto desse mesmo
preconceito em outras nuances, mas igualmente frio amargo e dissimulado.
Estou falando nesse momento em relação às crianças
especiais, que estudam em regime de inclusão nas escolas do governo da
capital. Acho que ainda não foi compreendido que cada pessoa caminha
ao seu próprio ritmo e com uma natureza própria que poderá
ser até diferente, mas não sinônimo de incapacidade.
Cada sala do ensino fundamental pode ter até três crianças
especiais, mas os responsáveis por elas enfrentam a tortura da vaga e
quando chegam ao quinto ano, os pais se deparam com o problema de maneira ainda
mais drástica. Isso porque naturalmente acham que não seria necessário
abrir mais turmas, pois as escolas têm a concepção que poucas
chegarão até lá.Se já era difícil nas turmas
menores, nessa fase do ensino, os pais enfrentam um problema aterrador e a Secretaria
de educação não "entende" absolutamente o apelo
e ainda mais, são indiferentes aos pedidos que já deveriam estar
na pauta de seus encargos.
Estão enganadas quando deduzem que as crianças não chegariam
até lá porque o número de crianças é cada
vez maior, abrindo brechas, evoluindo, alcançando o horizonte luminoso
que a maioria dos dirigentes não acreditou. O futuro aí sim se
torna negro porque os pais desesperados temem não conseguirem um colégio
para que seus filhos sejam matriculados. Isso é possível? É
viável? É compreensivo?
Abram-se então outras classes ou salas para isso, o que não é
possível é se dizer que uma criança ou adolescente não
terá lugar para concluir seus estudos e que os pais além do esforço
garra, luta e coragem para enfrentar os problemas diários ainda tenham
que escalar montanhas para conseguir que seus filhos avancem e cheguem a ser
pessoas capazes de enfrentar a vida. E a cidadania? Onde está ela? O
mínimo que se pode oferecer ao cidadão é o direito de estudar,
de ter acesso à educação. Mas não se pensou nos
jovenzinhos que enfrentaram dificuldades de aprendizado, esqueceram os problemas
das crianças deficientes por um motivo qualquer, se afastaram do problema,
não pensaram nisso.
Brasília, a capital do país está de frente com essa dificuldade
simplesmente porque os excluíram de seus programas, pensamentos, pautas
e soluções e que fazer com os adolescentes que estão subindo
degrau a degrau e que agora param, sem que lhe dêem a mão para
que possam continuar sua escalada?
Preconceito? Sim, um preconceito camuflado, mas o simples fato de não
terem pensado na possibilidade de chegar esse momento já é uma
exclusão e pedimos que os responsáveis pelo ensino fundamental
se sensibilizem nessa hora que uma mãe está chorando, não
porque seu filho é portador da síndrome de down ou de qualquer
outra deficiência, mas porque a cidadania de nosso povo está sendo
relegada. E por vezes quando se procura a Secretaria de educação
as respostas são formais, dando esperanças aparentes de uma solução,
mas sem objetividade.
Estou pedindo o direito de protestar contra a falta de cidadania, que, aliás,
é meu dever de cidadã, mulher, educadora, humanista escritora,
poeta, é meu dever de brasileira.