A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Exclusão, uma triste realidade

(Vânia Moreira Diniz)

O preconceito é uma das mais tristes distorções e exclusões com as quais convivemos ainda de forma intensa na nossa sociedade. Triste realidade a nos cercar de forma hedionda, maltratando seres humanos indefesos porque atinge justamente as pessoas mais frágeis e, no entanto, valorosas. Ela fere impiedosamente eliminando o que de mais admirável há no ser humano. : O respeito por seu semelhante.

Estamos pelo menos em Brasília passando por um problema fruto desse mesmo preconceito em outras nuances, mas igualmente frio amargo e dissimulado.

Estou falando nesse momento em relação às crianças especiais, que estudam em regime de inclusão nas escolas do governo da capital. Acho que ainda não foi compreendido que cada pessoa caminha ao seu próprio ritmo e com uma natureza própria que poderá ser até diferente, mas não sinônimo de incapacidade.

Cada sala do ensino fundamental pode ter até três crianças especiais, mas os responsáveis por elas enfrentam a tortura da vaga e quando chegam ao quinto ano, os pais se deparam com o problema de maneira ainda mais drástica. Isso porque naturalmente acham que não seria necessário abrir mais turmas, pois as escolas têm a concepção que poucas chegarão até lá.Se já era difícil nas turmas menores, nessa fase do ensino, os pais enfrentam um problema aterrador e a Secretaria de educação não "entende" absolutamente o apelo e ainda mais, são indiferentes aos pedidos que já deveriam estar na pauta de seus encargos.

Estão enganadas quando deduzem que as crianças não chegariam até lá porque o número de crianças é cada vez maior, abrindo brechas, evoluindo, alcançando o horizonte luminoso que a maioria dos dirigentes não acreditou. O futuro aí sim se torna negro porque os pais desesperados temem não conseguirem um colégio para que seus filhos sejam matriculados. Isso é possível? É viável? É compreensivo?

Abram-se então outras classes ou salas para isso, o que não é possível é se dizer que uma criança ou adolescente não terá lugar para concluir seus estudos e que os pais além do esforço garra, luta e coragem para enfrentar os problemas diários ainda tenham que escalar montanhas para conseguir que seus filhos avancem e cheguem a ser pessoas capazes de enfrentar a vida. E a cidadania? Onde está ela? O mínimo que se pode oferecer ao cidadão é o direito de estudar, de ter acesso à educação. Mas não se pensou nos jovenzinhos que enfrentaram dificuldades de aprendizado, esqueceram os problemas das crianças deficientes por um motivo qualquer, se afastaram do problema, não pensaram nisso.

Brasília, a capital do país está de frente com essa dificuldade simplesmente porque os excluíram de seus programas, pensamentos, pautas e soluções e que fazer com os adolescentes que estão subindo degrau a degrau e que agora param, sem que lhe dêem a mão para que possam continuar sua escalada?

Preconceito? Sim, um preconceito camuflado, mas o simples fato de não terem pensado na possibilidade de chegar esse momento já é uma exclusão e pedimos que os responsáveis pelo ensino fundamental se sensibilizem nessa hora que uma mãe está chorando, não porque seu filho é portador da síndrome de down ou de qualquer outra deficiência, mas porque a cidadania de nosso povo está sendo relegada. E por vezes quando se procura a Secretaria de educação as respostas são formais, dando esperanças aparentes de uma solução, mas sem objetividade.

Estou pedindo o direito de protestar contra a falta de cidadania, que, aliás, é meu dever de cidadã, mulher, educadora, humanista escritora, poeta, é meu dever de brasileira.


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