Nesse fim de ano, o sol causticante, o calor abrasante, mais uma vez delineio
a natureza que me sorri.
Minha alma devaneia ao sentir esse ano mágico de perdas irrecuperáveis e
encanto fascinante, de paixão, amor, realização, doçura e ao mesmo tempo,
severidade, por vezes até injustiças. Períodos entremeados de contrastes e
descobertas. Verdades mágicas que fizeram de minha vida uma seqüência
incoercível de contradições.
Descobri há muito tempo que minhas sensações, negativas ou positivas terão
sempre que ser tão intensas a ponto de não deixar que eu fique refletindo em
suas conseqüências. E volto-me então absorvida por qualquer coisa que me possa
levar ao infinito espaço de minha mente, e viver, viver, viver cada pequeno
momento em lágrimas ou risos. Não importa. Tudo que interessa é que consiga
viver.
Nesse ano experimentei dias tão maravilhosos que independente de tudo, deu-me
a impressão que nada existia senão aquelas horas que passaram tão rápidas como
um segundo.Que me deram percepções de estar vivendo no espaço que eu amo,
levitando literalmente surpreendida pelo vazio entre o céu e a terra, flutuando
agradavelmente como se tivesse podendo alcançar as estrelas.
Não estou apenas fazendo uma reflexão, mas tentando descobrir, como se pode
viver entre a felicidade e a dor ao mesmo tempo. E foi isso que aconteceu.
Enquanto chorava pela perda de pessoas queridas, e não entendia o súbito e
saudoso desaparecimento, via, convivia com realidades tão deslumbrantes que me
levavam por sendas de prazer inigualável.
Pude saber da cura de uma criança, meu protegido, que sofria de uma doença
que levou meu irmãozinho aos cinco anos e vi no mesmo lugar pessoas
controladas no alcoolismo e freqüentando essa instituição magnífica dos
alcoólicos anônimos.
Compreendo que o contraste por vezes é aterrador e os altos e baixos que
passamos pode nos levar á loucura, mas também ao fascínio. Esse ano passou
célere, em dias seguidos de arroubos enquanto tentanva descobrir o que
havia, o que estava acontecendo e tendo certeza que o racional e emocional
nunca andam juntos.
Nada é previsível nesse mundo e acho mesmo que se fosse seríamos um
bando de alucinados, cada um esperando seus momentos , sem conseguir caminhar
com tranqüilidade nem procurar entender seus irmãos tão próximos.
Presenciei a violência, soubemos notícias que me deixaram estarrecida pelo
fato de como é possível um ser humano agir dessa forma, vi a indiferença, frieza
e observei a ironia e em contrapartida a esperança surgia no horizonte
previsível em cores, o sol brilhava tão quente e com luz difusa entrando
desvairadamente pelas janelas e os pássaros ensaiavam seu vôo rumo ao espaço,
enquanto acompanhava a beleza desse planeta fixando incompreensivelmente o
infinito que um dia conheceria.
Senti apatia e entusiasmo fremente, caí em certas ocasiões no marasmo e fui
dominada pelo arrebatamento, vivi a escuridão e as estrelas, a lua e a vida me
presentearam várias vezes, com seu brilho.
Encontrei nos dias desse ano tantas e tão grandes provas de amizade
compreensão e ternura, que meu coração se confrangeu imaginando a maravilha do
espírito mas em certos momentos pude fixar o vazio, sem entender o que
faria. E o que mais me sensibilizou foi o amor pleno e transbordante
incapaz de ser ignorado, e os gestos de solidariedade e aconchego mesmo vivendo
na era fascinante da tecnologia.
Valeu a pena sentir esse ano, valeu a pena percorrê-lo e acreditar em sonhos,
crer no inatingível e ter convicção que a vida merece crédito em todos os
aspectos mesmo que transitória.