A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Estendendo as mãos

(Vânia Moreira Diniz)

Não sei porque revolvi meu interior e encontrei muita coisa a cultivar. Lembrei-me, então das inumeráveis vezes em que prometi, voltar para dentro de mim, podar ervas daninhas e hidratar as flores e frutos que estavam prestes a ficar maduros e completos.

Hoje, recordando essa ocasião vi que por falta de tempo ou displicência não tenho feito esse exercício de reflexão a que me proponho agora. Muita coisa aconteceu, e enquanto me concentro num momento de introspecção, procuro entender o mistério da vida que sempre me fascinou.

Culpamos aos dirigentes do país, à nossas autoridades, às outras pessoas, à família, parentes e amigos, mas esquecemos que antes de tudo devemos olhar para nós mesmos. E é isso que faço nesse momento, è exatamente isso, que repentinamente pensei quando senti novamente e de forma intensa o que podemos fazer pelos nossos semelhantes e por nós mesmos.

Nesse momento da minha vida que considero o apogeu, quero estender minhas mãos para todos, e procurar o gesto de amor e carinho que esqueci ontem, que não fui capaz de transmitir hoje em muitas oportunidades cruciantes.

Contemplo toda a natureza em volta de mim, cada objeto a meu lado, o amigo computador, companheiro fiel de todas as minhas horas, onde deposito as alucinações de meu cérebro, paixão de meu coração, loucuras de meu ser integral, experiências de minha alma, sabendo que ele tudo entenderá e absorverá, sem um minuto de crítica.

Volto à realidade, mas procuro uma certa escuridão para que possa refletir com mais liberdade, calma e privacidade. Isso dentro da própria solidão que existe na vida do escritor e nas horas em que produz. E me vejo totalmente entregue a reflexões, fantasias idéias e no recolhimento desse instante, percorro caminhos desconhecidos e me comprazo em mais uma vez verificar como são infinitos nossos pensamentos que voam em silêncio.

Recolher-nos em certas horas é a única maneira de podermos exercer a liberdade de pensar, aliás, a única liberdade que realmente temos. Neles ninguém penetra se não quisermos.Por isso fico ali, durante alguns minutos e vôo numa distância infinita, retenho algumas idéias rápidas e retorno ao meu mundo, certo que o planeta é magnificamente expressivo e fecho os olhos ainda uma vez.

Quando os reabro sinto que minhas perspectivas são ilimitadas e ao mesmo tempo etéreas, porém encontro-me num espaço de esperanças, luz e felicidade.Estendendo as mãos encontro o verdadeiro sentido de uma existência, plena em todos os sentidos, estendendo as mãos, posso encontrar desvendado o mistério do desabrochar interior, da realização sonhada e finalmente enxergar verdadeiramente com os olhos da alma que refletem meu olhar exterior


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