Tenho urgência de escrever. Uma urgência angustiante. Preciso sempre
escrever mais. Como se sem isso me faltasse alguma coisa, ou não pudesse
me perpetuar.Quando era ainda garota minha mãe me disse, que eu dava
a impressão que precisava realizar as coisas rapidamente como se não
existisse o amanhã. E era mesmo mais ou menos isso. As mães se
não concordam, pelo menos tem a percepção da alma do filho.
E imagino que tenha sido isso que aconteceu com ela.
Atualmente continuo na mesma corrida contra o tempo e mais precisamente ultimamente,
como se necessitasse concretizar todos os meus sonhos num passe de mágica.
Num abrir rápido e profundo de olhos. No perpassar da borboleta azul
e maravilhosa, a me indicar um caminho encantado e desconhecido. A mostrar uma
paisagem já não tão familiar, mas igualmente aberta e maravilhosa.
A me indicar simultaneamente dois sentidos no novo caminhar de luz e uma escuridão
generosa contrastante e, no entanto poderosamente soberana.
Sinto urgência em derramar minha alma em flocos de poesia e fascinante
ternura, e ser entendida nos menores sentimentos expulsos num momento de explosão
inspirada e deliciosa. Urgência em divagar cada vez mais e com os olhos
da emoção plena e verdadeira. Sentindo em cada expressão,
minha alma que se deleita na esperança de todas as sensações.
Principalmente sinto urgência de escrever muito e cada vez mais, o que
couber no espaço do meu tempo, dissecar o ínfimo de cada sensação,
transformando as lágrimas em sorrisos e espalhando o amor generoso nas
palavras, dissertando sobre cada prazer sentido com volúpia e do amor
experimentado como doce néctar. De misturar num só passo, alegrias
e tristezas, choro e gargalhadas, transformando-os no viver contínuo
e desejado.
Tenho urgência de espalhar as letras, formar palavras e transformá-las
em esperança, vida , amor, sentimento, carícia , deleite, perdão,
carinho no paraíso inconsciente da nossa inusitada sensibilidade. Tenho
pressa, muita pressa de escrever cada vez mais o que me desfila pelos olhos
em devaneios, e o que se concentra no espírito, discreto e contrastantemente
delirante.
Tenho uma urgência voraz de escrever sempre mais, como se pudesse gozar
nesse momento em eterno orgasmo a simbiose do corpo e alma entrelaçados
em orgia literária. E conseguisse extrair deles a seiva da vida que se
extingue lenta e caprichosamente sem ânsias ou tormentos porém
progressivamente em intervalos cada vez mais curtos.
Preciso escrever , desejar, sentir, usufruir, ajudar, atender, socorrer, aspirar
o ar e me aquecer ao sol, fechar os olhos brincando nas ondas espumentas e grossas
, belas e inspiradoras. Preciso andar pela areia branca e sentir sua maciez,
apreciar a natureza e amar cada vez mais. Preciso escrever, preciso viver enquanto
puder. Tenho urgência de escrever cada vez mais...