Ontem foi um dia de festa e alegria. Fui visitar e participar de uma festa,
numa clínica onde muitas crianças maravilhosas carregam suas síndromes
as mais variadas e são tratadas e acarinhadas com amor fazendo com que
cresçam com a auto-estima em progressão. Desde de síndrome
de Down até todas as outras maiores ou menores que as tornam uma criança
especial.
Entrando aproximei-me de alguém que amo especialmente. Loura, os olhos
azuis esverdeados fixando ao longe um ponto indistinto, imagino que queira trazer
para seu interior ainda tão infantil, esperanças e visualize o
colorido da felicidade . Minha vontade é abraçá-la e pedir-lhe
que nos proteja, chorando silenciosamente no seu colinho frágil e pequenino.
Minha vontade é pedir-lhe fortaleza em minhas fraquezas para que possa
ajudá-la. Minha vontade é infundir-lhe um calor tão grande
que suas mãozinhas geralmente frias possam aquecer-se. Minha vontade
é beijá-la e protegê-la do mundo e da vida, dizendo-lhe
que sempre estarei aqui. Mas estaria enganando a mim e a ela. Prometo, então
que de onde estiver a amarei sempre. Minha vontade é sempre vê-la
sorrir invariavelmente e terei também nos lábios o sorriso úmido
da esperança.
Aproximei-me de cada uma das crianças sentindo seus anseios indistintos,
vontades não expressas e vigor nas investidas, que começam a manifestar-se
de uma maneira singular e emocionante.E amei-as a todas. Querendo perscrutar
seus mundos diferentes e me envolver com cada uma, levando ininterruptamente
a fé que carrego e canalizo em direção a elas.
Em meio ao barulho dos balões e as guloseimas que usufruíam encantados,
percebi o quanto de vida e alegria existiam nos rostinhos inocentes que me fixavam
como a pedir que lhes desse as mãos. Transformei-me em um deles, percorrendo
os meandros de seus cérebros e querendo ver na densidade semi-obscura
dos pensamentos, a luz que estaria sempre presente no decorrer confuso da vida.
Tive a convicção da vitória, do desenvolvimento lento,
mas progressivo, da alegria que transparecia, da paz que parecia projetar algo
claro e objetivo, naquele confusos caminhos da mente ainda não definida.
Sinto então uma mãozinha fria, apesar do corpo completamente agasalhado
que buscava meu calor. Era a minha pequenina, tão linda sempre sonhando
com aquele colorido que a encantava. Dei-lhe a mão e percorremos juntas
todo o espaço, que estava cercado por barraquinhas cheias de guloseimas,
ou preparado para a "pescaria" de pequenas lembranças.
Enquanto segurava-a com uma das mãos, voltei-me para pegar a mãozinha
de outra criança, cujos olhos amendoados, nos traços marcantes
da síndrome de Down, só ocorridos pela diferença de um
cromossomo, estavam evidentes, e procurei ler dentro de seu olhar a força
que carregavam. E então as pequenas pescaram com minha ajuda cada uma
a sua prenda.
Vi fascinada enquanto olhavam confusas para o pequeno presente, que a vida se
manifestava em cada lembrança que recebessem, com aquele olhar curioso
que concentrado por um minuto, apareceu com expressão ligeiramente definida
e rápida. Amei aquele instante perpassado tão rápido, que
enchia meus olhos de lágrimas abundantes e os das pequeninas de lucidez.