A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas

Jarbas Pereira

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A mulher de preto

(Jarbas Pereira)

Ela vinha de preto descendo a escada. Assim como quem sabe dos poderes que tem. As unhas feitas. A calcinha preparada.

Passou por mim e não disse uma palavra. Até seus cabelos não quiseram conversa. Não me surpreendi, fazia 3 anos que esse tipo de coisa acontecia.

A festa rolou até de madrugada. E lá vinha ela de novo descendo a escada. Dessa vez veio falar comigo. Me deu um sincero oi. Como quem anuncia que o dia do felizardo chegou.

O silêncio falou por mim.

Ela não esperava por isso. Gritou até.

Resolvi me dar uma segunda chance. Esperei por ela na porta do banheiro. Ela também me esperava na porta. A faca. Falência múltipla dos órgãos. 18 profundos cortes.

Ela desceu as escadas. Parecia saciada. Sentou na mesa e informou que em instantes eu iria descer. Desconcertada, olhou meu guardanapo.

Meus amor é tanto que ultrapassa os limites da vida. Te amo até em morte.

O choro. Quebrou o copo de caipirinha e cortou o próprio pescoço. Antes de sucumbir ao chão jogou o bebê no pára-brisa do carro que passava na rua.

O bebê nem era meu. O pai resolvera dar uma festa para comemorar com ela o aniversário de dois anos do filho.

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