Ela vinha de preto descendo a escada. Assim como quem sabe dos poderes que
tem. As unhas feitas. A calcinha preparada.
Passou por mim e não disse uma palavra. Até seus cabelos não
quiseram conversa. Não me surpreendi, fazia 3 anos que esse tipo de coisa
acontecia.
A festa rolou até de madrugada. E lá vinha ela de novo descendo
a escada. Dessa vez veio falar comigo. Me deu um sincero oi. Como quem anuncia
que o dia do felizardo chegou.
O silêncio falou por mim.
Ela não esperava por isso. Gritou até.
Resolvi me dar uma segunda chance. Esperei por ela na porta do banheiro. Ela
também me esperava na porta. A faca. Falência múltipla dos
órgãos. 18 profundos cortes.
Ela desceu as escadas. Parecia saciada. Sentou na mesa e informou que em instantes
eu iria descer. Desconcertada, olhou meu guardanapo.
Meus amor é tanto que ultrapassa os limites da vida. Te amo até
em morte.
O choro. Quebrou o copo de caipirinha e cortou o próprio pescoço.
Antes de sucumbir ao chão jogou o bebê no pára-brisa do
carro que passava na rua.
O bebê nem era meu. O pai resolvera dar uma festa para comemorar com ela
o aniversário de dois anos do filho.