Às seis horas da manhã tudo estará terminado. São
pouco mais de meia noite e só escrevi essas duas linhas. O Fernando Sabino,
uma vez, escreveu sobre quando ele trava diante de um papel em branco. Disse que
só consegue escrever uma página a cada hora e meia. Eu não
sou o Fernando. Com esse tempo só dá para escrever um parágrafo.
Me conformo então em escrever só quatro parágrafos até
às seis.
Me animo um pouco ao começar o segundo às uma e cinqüenta e
sete. Apesar do atraso, tenho a sensação de que a coisa vai engrenar.
Pausa. Ledo engano. Outra pausa. Tudo pára, eu, o papel, minha caneta.
Sempre nunca se sabe como começar.
O relógio me avisa, como um soar de gongo, que fui inevitavelmente derrotado.
Seis horas. Do lado de fora, o padeiro já está cansado de trabalhar.
Aqui, a fornalha de palavras cisma em não dar massa ao texto.
O frio da noite me convida a dormir.
Frustrado, fiquei imaginando se o Fernando não tinha inventado essa história
de demorar tanto para escrever uma história. Só para gente sentir
a agonia de quem escreve. Imaginar como é ficar sentado durante horas à
frente de um papel. Ver as idéias se embaralharem na mente e não
mancharem o branco do papel. Ele deve ter feito isso sim. Assim como eu fiz agora.