A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas

Jarbas Pereira

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História Inventada

(Jarbas Pereira)

Às seis horas da manhã tudo estará terminado. São pouco mais de meia noite e só escrevi essas duas linhas. O Fernando Sabino, uma vez, escreveu sobre quando ele trava diante de um papel em branco. Disse que só consegue escrever uma página a cada hora e meia. Eu não sou o Fernando. Com esse tempo só dá para escrever um parágrafo. Me conformo então em escrever só quatro parágrafos até às seis.

Me animo um pouco ao começar o segundo às uma e cinqüenta e sete. Apesar do atraso, tenho a sensação de que a coisa vai engrenar. Pausa. Ledo engano. Outra pausa. Tudo pára, eu, o papel, minha caneta. Sempre nunca se sabe como começar.

O relógio me avisa, como um soar de gongo, que fui inevitavelmente derrotado. Seis horas. Do lado de fora, o padeiro já está cansado de trabalhar. Aqui, a fornalha de palavras cisma em não dar massa ao texto.

O frio da noite me convida a dormir.

Frustrado, fiquei imaginando se o Fernando não tinha inventado essa história de demorar tanto para escrever uma história. Só para gente sentir a agonia de quem escreve. Imaginar como é ficar sentado durante horas à frente de um papel. Ver as idéias se embaralharem na mente e não mancharem o branco do papel. Ele deve ter feito isso sim. Assim como eu fiz agora.

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