A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Certos Dias...

(Armando Sousa)

Dias escuros e chuvosos, o pensamento deixa-se encharcar pela sensação de que a linha final onde a alegria vivida em nós, esta próxima a desmoronar-se.

A verdade é que não encontramos uma porta para onde poderemos atirar do pensamento os problemas que acumulamos nestes momentos em que a luz do sol se refuta a nos visitar.

Creio amor, que contigo não ha diferença, também fazes parte deste mundo em que os astros encharcam o pensamento de tristeza, dentro destas quatro paredes, onde não vislumbras as cores e perfumes que os jardins exalam, e são para nós humanos a cura cancerosa da tristeza e solidão.

Quantas vezes já quiseste fugir destes dias que a natureza reserva para nos infringir um pouco de sofrimento, se já aconteceu contigo; te digo, espera um pouco, vale apenas resistir mais uns momentos, o sol vai abrir com todo esplendor, o verde vai ser verde de mil cores, e as gotas de chuva vão dar mais cor e perfume a todas as flores.

Deixa tua coragem dormir mais um pouco, dá-lhe o repouso que esta chuva quizilenta quer dar trabalho a cama; não desesperes... deixa-te sonhar com os pintassilgos comendo a semente dos cosmos, e baloiçando sem forcas para voar, também encharcados.

Deixa-te mais um pouco no sonho, olha se encontras essa mocinha que ontem te mirou e te deu um trejeito, sim ela hoje também estará encharcada, esperando que lhes dei-as alguns minutos de vida cheia de alegria no seu sonhar.

Olha que ela também sonha.

Armando, escreve mais um pouquinho, mesmo que a estupidez diga para parares de escrever; resistir mais um momento, é o ideal, o sol vai ultrapassar as barreiras desta massa acinzentada e vai brilhar.

A ilusão fascina, mas com o sol não existe ilusão, a alegria é real com as flores a deitar o perfuma da cura.

A alegria toda a gente agrada, tem o poder fascinante de se poder transmitir, e transitar de coração em coração.

A alegria dada pela natureza e muito mais importante que a dada pela gloria do triunfo.

O prazer e efémero e pouco duradouro, quando passar de vencedor a vencido desvanece, deixando apenas um ar de vaidade, mas onde reside também um ar de inveja ao descer os louros.

A carência de um dia de sol nos deixa aturdidos de tristeza, ficamos débeis e deprimidos.

Toda avia no tempo que nos deu nossos sonhos, encheu-nos de paixões criadas num pensamento que vem dos infinitos do nada.

A primavera chega brincando, com dias mornos, outros dias, as pedras de gelo a bater nas janelas, como a vida fosse feita de samba com estribilhos de viras e canas verdes.

Ao ver aqueles riscos de fogo e ouvir ribombos de meter medo, penamos ser o fim que se avizinha... mas não... logo uns raios de sol desce e faz elevar as cores do arco ires, e a vida volta a ter cores, passarada volta outra vez as suas cabrioladas, os esquilos a correr nos fios que nos trazem a luz, as flores abrem parecendo piscar com as gostas que vão correndo como drupas de sangue que dão vida a tudo que tem vida.

Amor nestes dias assim cinzentos resista, talvez alguém que o ama esteja sentado nos minutos do tempo esperando um raio de sol que o eleve ao trono da felicidade.

Nunca se deixe envolver pela tristeza, porque as dores estão escondidas nela.

Guarde nas mãos sempre um pouco de primavera, para arremessar a estes dias escuros, pois vale a pena viver cada minuto.

Mas lembra-te, na cama, na casa 24 horas por dia, não vives nada... amor, mesmo em dias escuros faz de tua vida uma eterna primavera, e deixa que o tempo traga o bálsamo que alivia as dores.

(de Toronto, Ontario - Canadá)

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