Dias escuros e chuvosos, o pensamento deixa-se encharcar pela sensação
de que a linha final onde a alegria vivida em nós, esta próxima
a desmoronar-se.
A verdade é que não encontramos uma porta para onde poderemos
atirar do pensamento os problemas que acumulamos nestes momentos em que a luz
do sol se refuta a nos visitar.
Creio amor, que contigo não ha diferença, também fazes
parte deste mundo em que os astros encharcam o pensamento de tristeza, dentro
destas quatro paredes, onde não vislumbras as cores e perfumes que os
jardins exalam, e são para nós humanos a cura cancerosa da tristeza
e solidão.
Quantas vezes já quiseste fugir destes dias que a natureza reserva para
nos infringir um pouco de sofrimento, se já aconteceu contigo; te digo,
espera um pouco, vale apenas resistir mais uns momentos, o sol vai abrir com
todo esplendor, o verde vai ser verde de mil cores, e as gotas de chuva vão
dar mais cor e perfume a todas as flores.
Deixa tua coragem dormir mais um pouco, dá-lhe o repouso que esta chuva
quizilenta quer dar trabalho a cama; não desesperes... deixa-te sonhar
com os pintassilgos comendo a semente dos cosmos, e baloiçando sem forcas
para voar, também encharcados.
Deixa-te mais um pouco no sonho, olha se encontras essa mocinha que ontem te
mirou e te deu um trejeito, sim ela hoje também estará encharcada,
esperando que lhes dei-as alguns minutos de vida cheia de alegria no seu sonhar.
Olha que ela também sonha.
Armando, escreve mais um pouquinho, mesmo que a estupidez diga para parares
de escrever; resistir mais um momento, é o ideal, o sol vai ultrapassar
as barreiras desta massa acinzentada e vai brilhar.
A ilusão fascina, mas com o sol não existe ilusão, a alegria
é real com as flores a deitar o perfuma da cura.
A alegria toda a gente agrada, tem o poder fascinante de se poder transmitir,
e transitar de coração em coração.
A alegria dada pela natureza e muito mais importante que a dada pela gloria
do triunfo.
O prazer e efémero e pouco duradouro, quando passar de vencedor a vencido
desvanece, deixando apenas um ar de vaidade, mas onde reside também um
ar de inveja ao descer os louros.
A carência de um dia de sol nos deixa aturdidos de tristeza, ficamos débeis
e deprimidos.
Toda avia no tempo que nos deu nossos sonhos, encheu-nos de paixões criadas
num pensamento que vem dos infinitos do nada.
A primavera chega brincando, com dias mornos, outros dias, as pedras de gelo
a bater nas janelas, como a vida fosse feita de samba com estribilhos de viras
e canas verdes.
Ao ver aqueles riscos de fogo e ouvir ribombos de meter medo, penamos ser o
fim que se avizinha... mas não... logo uns raios de sol desce e faz elevar
as cores do arco ires, e a vida volta a ter cores, passarada volta outra vez
as suas cabrioladas, os esquilos a correr nos fios que nos trazem a luz, as
flores abrem parecendo piscar com as gostas que vão correndo como drupas
de sangue que dão vida a tudo que tem vida.
Amor nestes dias assim cinzentos resista, talvez alguém que o ama esteja
sentado nos minutos do tempo esperando um raio de sol que o eleve ao trono da
felicidade.
Nunca se deixe envolver pela tristeza, porque as dores estão escondidas
nela.
Guarde nas mãos sempre um pouco de primavera, para arremessar a estes
dias escuros, pois vale a pena viver cada minuto.
Mas lembra-te, na cama, na casa 24 horas por dia, não vives nada... amor,
mesmo em dias escuros faz de tua vida uma eterna primavera, e deixa que o tempo
traga o bálsamo que alivia as dores.
(de Toronto, Ontario - Canadá)