A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Adágios de Antigamente!...

(Armando Sousa)

Verdade esta é a palavra que se ouve sempre dos mais idosos... Eu também posso dizer antigamente no meu tempo de criança havia muitos poucos pais que sabiam ler, e podeis crer que não é mentira, isto pelo menos nos meios rurais, quando as pessoas, nasciam casavam envelheciam, morriam, sem conhecer mais que duas ou três dezenas de léguas ao redor de sua aldeia, e quase sempre por causa das feiras e romarias, onde os romeiros ou feirantes carregavam quase na generalidade os seus farnéis.

Mas dizia o meu pai, antigamente era muito pior, sabia-se muito menos.

O aprender era mais visionário que literário; hoje já pode ir para escola quem tem um pai sindicalizado: o sindicato oferece livros que podem passar de irmão para irmão até nova edição; no meu tempo veio mesmo nova edição, mas tive de ficar com os livros velhinhos de meu irmão, porque meu pai morreu antes de eu entrar na escola.

Então foi minha mãe que nem ler sabia, me ensinou o principal para seguir na vida: eu ao querer saber como se aprendia, minha mãe me explicou: antigamente poucos tinham possibilidade de escola, aqueles que não fossem de sangue real, ou filhos dos Regedores, ou filhos de capitães da guarda real, ou então tinham de estar ligados aos mosteiros e monges que tinham outra metade do poder, claro, isto mais nos meios rurais, porque D. Dinis já tinha fundado universidades centenas de anos a traz: a industria era pouca nos meios rurais, e o comercio envolvia-se quase em troca de produtos, quase que se podia dizer que não havia comercio, comparado com o que há hoje. Isto era naqueles tempos em que ficava a olhar para o ar ao ouvir um roncar de avião ou mesmo o apito do comboio.

Meus pais, dizia minha mãe; nunca nos deixaram ir aprender com as freiras ou monges, o motivo porquê eles o sabiam e eu nunca perguntei, escola não havia na freguesia, e assim cresci sem nada saber o que são letras.

Então minha mãe dizia, como teu pai era dos mais letrado da aldeia, nunca me fez falta o saber ler, mas agora vejo o quanto é difícil o não saber e viver apenas de adágios do povo.

Ou do almanaque que o Nequinha vai verificar quando lhe fazemos perguntas.

Mas meu filho saber adágios e seus significados, já é alguma coisa, assim eu tos vou passar, porque é desses adágios que os menos letrados se defendem: verdade que é. e esses nunca mais me esqueceram.

Eu amigos, os vou passar a transcrever, esta maneira como se aprendia antigamente.

Um dos primeiros foi (o barato sai caro) (bom filho a casa torna) o bom junto ao pequeno fica maior, junto ao mau fica pior) ( o casamento e a mortalha no céu se talha) ( o diabo cobre com uma manta e descobre com um chocalho) (o fruto proibido é o mais apetecido) (o diabo tece-as) o ganho e a lazeira andam de feira em feira) (o ladrão volta sempre ao local do crime) (Não deves ter mais olhos que barriga) (o melão e a mulher são maus de conhecer) (o morgado e a morgada e o resto da manada não prestam para nada) (o novo por não saber o velho por não poder deitam tudo a perder) (o pouco basta "mas" o muito se gasta) ( o prometido é devido) ( o que anda a cavalo vive pouco o que anda a pé vive menos) (o que está feito, feito está) (o que não mata engorda) ( o que o juízo dos pais acumula, a loucura dos filhos desbarata) (o que tem de ser tem muita força) o Robalo quem o quiser tem de escama-lo) (o segredo é a alma do negocio) ( o seu a seu dono) (o sol quando nasce é para todos, {será?}(o tempo ajuíza melhor) ( tempo perdido nunca se acha) ( o ultimo a rir é o que ri melhor) (o vinho e amigo do mais antigo) (ofende os bons quem poupa os maus) ( olho azul de Português não é sinal de boa rês) (olhos que não vêem coração não tem) ( terra que fores ter faz como vires fazer) ( os amigos são para as ocasiões) ( Natal salto de Pardal) {dias a crescer}( os homens não se medem aos palmos) (as ações determinam o homem) ( os olhos pedem barriga que sofre) ( ouro adquirido sono perdido) ( Outubro quente traz o diabo no ventre) (houve tudo bem mas diz o que te convém) ( ovelha que berra bocado que perde)

Amigos os adágios são muitos, vinham sempre acompanhado com uma historia moralística ou explicação, é isso mesmo que vos fazer hoje para quebrar a monotonia. Isto é milagre.

Dia de inverno e neve, Alcino quase não via uma Sra. na beira da estrada com a neve que caia: no ultimo minuto a enxergou e parou o seu velho carro de três cavalos: era um antigo carocha; Alcino pode ver que aquela velha Sra. precisava de ajuda, ele parou em frente do Mercedes de pneu furado.

A Sra. mesmo com um sorriso teve medo do homem; uma hora que ali estava e ninguém tinha parado para lhe dar ajuda, ou enviar ajuda, será que me vai fazer mal, roubar?

Alcino estava magro e muito mal vestido, a que a pobreza e fome o tinham reduzido.

Alcino podia ver que a Sra. estava a tremer de medo e de frio, só mesmo uma criança poderia por tanto medo em sua cara. Alcino chegou junto dessa Sra. e disse, o meu nome é Alcino, estou aqui para ajudar a senhora com esse pneu furado.

Sra. disse o Alcino; por favor, entre dentro do carro e feixe os vidros que está muito frio.

Alcino teve um pouco de dificuldade em localizar o bom sitio para o macaco, mas depois de umas arranhadelas e das costas frias de neve lá conseguiu.

Ao apertar os últimos parafusos a Sra. abriu a janela e disse, quanto lhe devo por sua ajuda... Ele respondeu, parei para ajudar, não é este meu trabalho, e uma ajuda não se paga... Ela insistiu, dizendo não seria o dinheiro que lhe fazia falta... Então Alcino já entrando no seu velho carro disse... Sra. quando a senhora vir alguém que precisa de ajuda, ajude e lembre-se de mim... Este seguiu: ela pôs o seu Mercedes rolando e se foi "mas" ainda com frio. Adiante encontros uma estação de gasolina de campanha com um velho restaurante café: entrou e sentou-se, vendo que a empregada lavava pratos, mas que por vezes deitava mãos à barriga.

Esta Sra. viu que a empregada era uma mulher prenhe e quase no fim do tempo, mas sem dar tréguas ao trabalho...Ao mesmo tempo viu lágrimas que rolavam, talvez dores de cansada... Chamou-a perguntando qual o motivo de suas lágrimas... Respondeu dores e apreensão, estou no fim do tempo, meu marido sem trabalho, e sem reservas de dinheiro.

E a mulher partiu continuando com sua limpeza.

Restaurante estava vazio eram horas de partir, a Sra. do Mercedes, chamou-a e deu-lhe uma nota de cem para pagar...

A empregada foi fazer o troco... Ao voltar a Sra. tinha desaparecido; esta olha para todos os lados, mas nada, foi á porta e viu o carro a desaparecer na próxima curva.

Devagar voltou para levantar os pratos da Sra. quando reparou num guardanapo escrito; dizia o troco é para você e junto um cartão que dizia procuro um homem para todos os serviços à volta de minha casa.

A Senhora deitou mais uma vez a mão ao ventre e com a outra mão pegou no guardanapo e o cartão, e qual a surpresa ao ver mais quatro notas de cem debaixo do guardanapo escrito.

Terminou a limpeza e voltou a casa cheia de alegria e esperança... o marido a esperava cabisbaixo, apenas dizendo corri tudo e nada, ela o abraçou com as quatro notas na mão dizendo Alcino vê!... Isto sim é milagre.

(de Toronto, Ontario - Canadá)

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