Verdade esta é a palavra que se ouve sempre dos mais idosos... Eu também
posso dizer antigamente no meu tempo de criança havia muitos poucos pais
que sabiam ler, e podeis crer que não é mentira, isto pelo menos
nos meios rurais, quando as pessoas, nasciam casavam envelheciam, morriam, sem
conhecer mais que duas ou três dezenas de léguas ao redor de sua
aldeia, e quase sempre por causa das feiras e romarias, onde os romeiros ou
feirantes carregavam quase na generalidade os seus farnéis.
Mas dizia o meu pai, antigamente era muito pior, sabia-se muito menos.
O aprender era mais visionário que literário; hoje já pode
ir para escola quem tem um pai sindicalizado: o sindicato oferece livros que
podem passar de irmão para irmão até nova edição;
no meu tempo veio mesmo nova edição, mas tive de ficar com os
livros velhinhos de meu irmão, porque meu pai morreu antes de eu entrar
na escola.
Então foi minha mãe que nem ler sabia, me ensinou o principal
para seguir na vida: eu ao querer saber como se aprendia, minha mãe me
explicou: antigamente poucos tinham possibilidade de escola, aqueles que não
fossem de sangue real, ou filhos dos Regedores, ou filhos de capitães
da guarda real, ou então tinham de estar ligados aos mosteiros e monges
que tinham outra metade do poder, claro, isto mais nos meios rurais, porque
D. Dinis já tinha fundado universidades centenas de anos a traz: a industria
era pouca nos meios rurais, e o comercio envolvia-se quase em troca de produtos,
quase que se podia dizer que não havia comercio, comparado com o que
há hoje. Isto era naqueles tempos em que ficava a olhar para o ar ao
ouvir um roncar de avião ou mesmo o apito do comboio.
Meus pais, dizia minha mãe; nunca nos deixaram ir aprender com as freiras
ou monges, o motivo porquê eles o sabiam e eu nunca perguntei, escola
não havia na freguesia, e assim cresci sem nada saber o que são
letras.
Então minha mãe dizia, como teu pai era dos mais letrado da aldeia,
nunca me fez falta o saber ler, mas agora vejo o quanto é difícil
o não saber e viver apenas de adágios do povo.
Ou do almanaque que o Nequinha vai verificar quando lhe fazemos perguntas.
Mas meu filho saber adágios e seus significados, já é alguma
coisa, assim eu tos vou passar, porque é desses adágios que os
menos letrados se defendem: verdade que é. e esses nunca mais me esqueceram.
Eu amigos, os vou passar a transcrever, esta maneira como se aprendia antigamente.
Um dos primeiros foi (o barato sai caro) (bom filho a casa torna) o bom junto
ao pequeno fica maior, junto ao mau fica pior) ( o casamento e a mortalha no
céu se talha) ( o diabo cobre com uma manta e descobre com um chocalho)
(o fruto proibido é o mais apetecido) (o diabo tece-as) o ganho e a lazeira
andam de feira em feira) (o ladrão volta sempre ao local do crime) (Não
deves ter mais olhos que barriga) (o melão e a mulher são maus
de conhecer) (o morgado e a morgada e o resto da manada não prestam para
nada) (o novo por não saber o velho por não poder deitam tudo
a perder) (o pouco basta "mas" o muito se gasta) ( o prometido é
devido) ( o que anda a cavalo vive pouco o que anda a pé vive menos)
(o que está feito, feito está) (o que não mata engorda)
( o que o juízo dos pais acumula, a loucura dos filhos desbarata) (o
que tem de ser tem muita força) o Robalo quem o quiser tem de escama-lo)
(o segredo é a alma do negocio) ( o seu a seu dono) (o sol quando nasce
é para todos, {será?}(o tempo ajuíza melhor) ( tempo perdido
nunca se acha) ( o ultimo a rir é o que ri melhor) (o vinho e amigo do
mais antigo) (ofende os bons quem poupa os maus) ( olho azul de Português
não é sinal de boa rês) (olhos que não vêem
coração não tem) ( terra que fores ter faz como vires fazer)
( os amigos são para as ocasiões) ( Natal salto de Pardal) {dias
a crescer}( os homens não se medem aos palmos) (as ações
determinam o homem) ( os olhos pedem barriga que sofre) ( ouro adquirido sono
perdido) ( Outubro quente traz o diabo no ventre) (houve tudo bem mas diz o
que te convém) ( ovelha que berra bocado que perde)
Amigos os adágios são muitos, vinham sempre acompanhado com uma
historia moralística ou explicação, é isso mesmo
que vos fazer hoje para quebrar a monotonia. Isto é milagre.
Dia de inverno e neve, Alcino quase não via uma Sra. na beira da estrada
com a neve que caia: no ultimo minuto a enxergou e parou o seu velho carro de
três cavalos: era um antigo carocha; Alcino pode ver que aquela velha
Sra. precisava de ajuda, ele parou em frente do Mercedes de pneu furado.
A Sra. mesmo com um sorriso teve medo do homem; uma hora que ali estava e ninguém
tinha parado para lhe dar ajuda, ou enviar ajuda, será que me vai fazer
mal, roubar?
Alcino estava magro e muito mal vestido, a que a pobreza e fome o tinham reduzido.
Alcino podia ver que a Sra. estava a tremer de medo e de frio, só mesmo
uma criança poderia por tanto medo em sua cara. Alcino chegou junto dessa
Sra. e disse, o meu nome é Alcino, estou aqui para ajudar a senhora com
esse pneu furado.
Sra. disse o Alcino; por favor, entre dentro do carro e feixe os vidros que
está muito frio.
Alcino teve um pouco de dificuldade em localizar o bom sitio para o macaco,
mas depois de umas arranhadelas e das costas frias de neve lá conseguiu.
Ao apertar os últimos parafusos a Sra. abriu a janela e disse, quanto
lhe devo por sua ajuda... Ele respondeu, parei para ajudar, não é
este meu trabalho, e uma ajuda não se paga... Ela insistiu, dizendo não
seria o dinheiro que lhe fazia falta... Então Alcino já entrando
no seu velho carro disse... Sra. quando a senhora vir alguém que precisa
de ajuda, ajude e lembre-se de mim... Este seguiu: ela pôs o seu Mercedes
rolando e se foi "mas" ainda com frio. Adiante encontros uma estação
de gasolina de campanha com um velho restaurante café: entrou e sentou-se,
vendo que a empregada lavava pratos, mas que por vezes deitava mãos à
barriga.
Esta Sra. viu que a empregada era uma mulher prenhe e quase no fim do tempo,
mas sem dar tréguas ao trabalho...Ao mesmo tempo viu lágrimas
que rolavam, talvez dores de cansada... Chamou-a perguntando qual o motivo de
suas lágrimas... Respondeu dores e apreensão, estou no fim do
tempo, meu marido sem trabalho, e sem reservas de dinheiro.
E a mulher partiu continuando com sua limpeza.
Restaurante estava vazio eram horas de partir, a Sra. do Mercedes, chamou-a
e deu-lhe uma nota de cem para pagar...
A empregada foi fazer o troco... Ao voltar a Sra. tinha desaparecido; esta olha
para todos os lados, mas nada, foi á porta e viu o carro a desaparecer
na próxima curva.
Devagar voltou para levantar os pratos da Sra. quando reparou num guardanapo
escrito; dizia o troco é para você e junto um cartão que
dizia procuro um homem para todos os serviços à volta de minha
casa.
A Senhora deitou mais uma vez a mão ao ventre e com a outra mão
pegou no guardanapo e o cartão, e qual a surpresa ao ver mais quatro
notas de cem debaixo do guardanapo escrito.
Terminou a limpeza e voltou a casa cheia de alegria e esperança... o
marido a esperava cabisbaixo, apenas dizendo corri tudo e nada, ela o abraçou
com as quatro notas na mão dizendo Alcino vê!... Isto sim é
milagre.
(de Toronto, Ontario - Canadá)