A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

A bebida e o amor

(Armando Sousa)

Uma sala, luzes brandas avermelhadas, um castiçal, velinhas ardendo, um ramo de flores, musica suave a imergir pelos cantos, o primeiro encontro em ambiente igual, o primeiro beijo o primeiro eriçamento de desejo, primeiro toque, a musica convida, com acordes suaves e de amor, uma mão estendida a pedir a dança... sim um olhar cheio de esperança.

De seguida a mente pede uma bebida alcoólica que transforma o ambientes em paixão ou talvez um dia em prisão.

Depois de jantar, se ruçar , se excitar os dois saem dando asas a sua paixão, entram no motel, o vestido cai, casaco na cadeira; pronto, mesmo de pé principia a brincadeira da noite sonhada accionada pelo primeiro inimigo; aquele principiar deveria ser sagrado mesmo em pecado; mas foi o álcool o grande autor.

Todos dependentes de bebida chegam à conclusão que o álcool lhes atiça a paixão, mais um copo os fará reviver, estes com uns copos chegam a pensar que tem magnetismo e beleza única.

Quando estão sobre os efeitos do álcool chegam a pensar que são atractivos, cheios beleza exclusiva.

Esquecem que o álcool não é mais que nojo e malcriadez, valentia e violência; esquecem que é tudo artificial mas que deixa feridas bem fundas, pode trazer historias sem principio nem fim, quantas vezes um destino de sofrimento.

Um casamento baseado em mentiras dos efeitos alcoólicos levam muitas vezes a nascerem filhos com deficiências que se tornam em castigo.

Quantas vezes o vicio leva um deles ou os dois ao bar, ao jogo, ao adultério...

Quase sempre ele que deixa a vida conjugal para se recrear jogando dominó ou a sueca ficando ela sozinha a matutar numa vida sem amor; então ela pega num copo de vinho para esquecer; ele não chega, a noite começa a ser grande e com insónias; vem a tentação de ir também à procura de satisfação.

Ali no bar, meio desajeitada, uma bebida, uma conversa mal principiada, o escutar duma piada, sobe a vergonha e pudor, foi o tomar consciência da bebida, ele vem, ali a encontra e principia a tomar em realidade o que poderia ter acontecido.

Tantas coisas vêm à mente, consciente de desgostos que pode causar a famílias, da vergonha que lhes incutiu deixando-os vergados ao pudor; esta era uma vida de amor baseada na bebida, e esta inconscientemente mentia.

Poderiam ter chegado ao adultério, a traição, o despedaçar de corações, deixando quantas vezes filhos sem pais, e dentro um ódio de matar.

Se sobreviverem um ou os dois ficariam farrapos humanos escravos da bebida... bem pensando seria melhor retroceder... se abraçaram, e agora sóbrios prometeram não mais voltar ao álcool, e fazer dum copo um abraço, beber-lho num beijo, mostrar a verdade num balouçar de desejo.

Desde esse dia retiram-se para um outro lugar, por de traz do casebre, se ouvia a água a telintar dum ribeirinho, neste e naquele charco se poderia ver o saltar e nadar de algum peixinho, nas arvores e nas parreiras fácil encontrar alguns ninhos, mas á tardinha ao por do sol a musica era maravilhosa que dava a cotovia e rouxinol.

Estes a tempo se livraram dos efeitos do álcool, trocaram ainda a tempo a fantasia pelo verdadeiro amor, evitaram a vergonha de uma vida mal vivida, e mal aconselhada pelo efeito da fantasia.

Mas afinal tantos que não conseguem retroceder e deixar de beber; tantos procuram esconder as dores de cabeça da bebedeira e se embrulham num dois três cigarros de Maria Joana que lhes dá por algum tempo o prazer de se esquecer que vivem na mentira.

Asa companhias de desnaturados aumentam, agora existe necessidade de ser igual, de trocar, de outro corpo experimentar, e se deixam introduzir no prazer que os enlouquece e os irá fazer morrer muito mais cedo.

Experimentaram os pozinhos brancos pelo nariz, aí que sensação de poder ir agora com uma morena, louca... ela, ela experimentar se pode com aquela grande coisa dum pretalhão.

Pronto tudo ruiu; daqui principia o caminho que leva ao desespero e á morte.

Creio que tens visto amigo, aquelas borrachas a apertar o braço a agulha a entrar, quantas vezes tirando sangue para diluir a droga e ter afeito imediato.

Amigos, não sei o que sentem, nem o quero saber, mas vejo que se lhes faltar essa porcaria começam a saltar e a tremer; e tantos tomam dobrado para morrer.

Esta torna-se numa vida miserável. Que nasceu muitas vezes duma cerveja sem controle, dum copo de vinho na ânsia de se fazer engraçado, e que afinal não soube controlar o resultado.

Amigo, nem tudo podes proibir, um dia, que teu filho esteja no segundo digite deixa-o experimentar, regula-lhe os golos e o efeito, mas não o deixes cair inocente nas malhas desses desnaturados droguistas, ou na pressão de amigos inimigos da sobriedade.

Diz-lhe toda a verdade, nada escondas, nem mesmo a sexualidade, a enorme mas doce loucura do encontro com uma mulher nua... mas que essa deve ser só sua para a vida

Dessa forma não apanhará venerável doença ou sida.

Fala com ela, mostra-lhe que sua sexualidade é muito mais que fazer xixi, ela pode construir um mundo sadio, a mulher por ela pode construir um mundo de amor.

A natureza é um paraíso de cor, a mulher plantada no seu lugar, neste jardim, é a mais linda e delicada flor.

Podes ter certeza que o amor pode ser regado a água pura, e traz muito mais prazer e candura.

(de Toronto, Ontario - Canadá)

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente