A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Lições e Exemplos

(Armando Sousa)

Amigos leitores, seria desnecessário vos dizer que amo a leitura, mas sempre gostei de histórias realísticas, que entram dentro do coração fazendo-o vibrar e aprovar, desaprovar ou aprender com o exemplo recebido na leitura, sem essa leitura ser manobrada com interesses de propaganda, com imagens imaginadas pelos mesmos interesses.

Gosto de ler, mesmo desaprovando quando as coisas acontecem naturalmente na nossa vida, e quantas vezes procurar encontrar as causas bem fundo dentro de nós, procurar dar resposta a esses acontecimentos, e daí receber ou dar conselhos para uma vida que vivemos em conjunto com a sociedade.

Como exemplo quero falar-vos daquela mulher, por sinal com um nome Português, essa mulher deixou sua filha de dois anos deitada no seu berço de morte com o apartamento fechado e saiu para dançar (Salsa) voltando a casa 36 horas mais tarde para encontrar sua filha morta, dentro do apartamento fazia mais de 30° graus; soube-se depois, que a menina de nome fatídico, Adrisona, morreu de sede e fome.

Amigos ao procurar dentro de nós respostas para essa mãe, creio que encontraremos o cometimento de sermos muito mais humanos, e nunca nos passa pela cabeça que pudéramos ter nascido muito piores que essa mãe, se assim pensarmos, nunca pediríamos condenação dente por dente ou olho por olho.

Mas são verdades que, estas coisas nos deixam fazer cometimentos de sermos muito mais cautelosos e humanos.

Sobre filhos e pais, anos atrás li uma história escrita por um escritor creio ser Brasileiro que definia o ódio sem razão; e que eu , leitores, vou procurar imitar transcrever.

... Eram cerca de três horas da tarde o Sr. do correio bateu na porta onde estava instalada a mala do correio; José veio abrir e deparou-se com uma mão estendida com um telegrama, este pegou nele avidamente sem mesmo dizer obrigado ao empregado especial do correio, foi lendo e fechando a porta; mal humorado resmungava, morreu, morreu o meu pai.... velório das sete as nove... missa e enterro 9 da manhã.

A resmungar José foi dizer a sua esposa; esta nunca tinha conhecido o sogro, devido ao mau relacionamento que estes tinham, depois de José ter abandonado a casa devido a freqüentes discussões causadas pelo mau caminho que José seguia com falta àescola; bebedeiras e noites na prisão.

Este partiu prometendo nunca mais voltar depois de receber duas palmadas dadas pelo pai, depois deste o ir buscar de entre grades.

Sempre arranjou um trabalho e casou-se, teve filhos, procurava a pesca ou caça para no fim de semana estar longe deles.

Sua esposa tantas vezes pedia; vamos ver teus pais e mostra-lhes os nossos filhos, chega de ódios, mas José odiava seu pai e sempre dizia não irei mais a casa de meu pai, prometi e não vou...

O velho viveu os últimos anos acabrunhado e envergonhado, as horas que passava em frente à caldeira onde era derretido o ferro, queimando-lhe muitas vezes as pestanas e os olhos que ficavam vermelhos causando pavor a quem não o conhecia.

José tomou o caminho, do comboio e partiu depois de cortar a barba e vestir roupa lavada.

No velório foi abraçar sua mãe mas de olhar frio, a gente não era muita, mas suficiente para o fazer baixar o olhar de vergonha ao dar de olhos com o irmão da rapariga, que tinha esbarrado o carro naquela noite que a polícia o levou preso.

Ele muitas vezes a via estendida no caixão, e olhava suas mãos assassinas, sentindo em sonhos a razão de seu pai lhe erguer as mãos.

Mas ainda sentia o ódio que lhe encandeava a mente.

O caixão estava coberto de rosas de todas as cores, talvez as rosas que seu pai tanto gostava de podar e transplantar.

Ao outro dia o enterro; mas nem uma rosa deitou sobre o caixão do velhote... terminaram as cerimónias e José veio com sua mãe prometendo de voltar com os filhos, pois agora já não teria o velho de olhos vermelho.

Sua mãe levou-o às arrecadações mostrando-lhe uma motorizada, dizendo, estava encomendada e chegou dois dias depois de tu partires; ao mesmo tempo a mãe entregava ao José um pacote, este tinha escrito, (para meu filho).

José sentou-se e abriu; deparou com uma caderneta que abriu,... dizia moto-pede, licença n° J-54... pertence a José Cabral... seguia-se a direcção e data que remontava a dias depois de sua abrupta saída de casa.

José dobrou tudo e meteu ao bolso: abraçou a mãe, de olhos secos e brilhantes e saiu; já no comboio, retirou do bolso o livro escrito à mão que ele reconheceu a letra de seu pai.

Principiava... 1950, devido a dificuldade pedi a meu pai para me deixar imigrar... minha família, minha irmã e Pai; minha mãe morreu de parto de minha irmã. Primeiros tempos enviei dinheiro para uma casinha para meu pai e irmã; este morreu sem eu poder voltar ao país, minha irmã morria pouco depois de câncer de mama.

Só pude chegar um dia depois de seu enterro; dotei todos os restos à sociedade de câncer e voltei para minha esposa que se debatia com dificuldade de estar prenhe.

Dias depois deu nascimento a um grande rapaz que me deu muito orgulho sabendo que ele poderia continuar com o nome de família, a mãe essa não pode alcançar mais filhos devido ao parto; José crescia e era tudo para nós; os tempos modificaram e as dificuldade surgiam, para dar a primeira bicicleta a pedal a José já este tinha quase doze anos e pronto a entrar na escola secundária, as horas extras que tive de fazer, não custavam devido ao meu contentamento; José que se ia tornando exigente, e eu compreendia.

Meu filho me orgulhava como estudante, mas se ia tornando desobediente.

José tinha vergonha da nossa pobreza; bebia... um dia tive de o retirar calabouço da polícia... a sua companheira de boémia morreu com um despiste do carro, foi nessa altura que disciplinei o José com dois safanões.

José me ergueu a voz e saiu de casa prometeu nunca mais voltar...mas afinal eu apenas queria fazer dele um homem de bem, creio que me vai doer muito, e sempre, aqueles dois safanões que lhe dei... mas espero velo voltar para que possa ver como nós o adoremos e usar sua bicicleta a motor...

O resto estava em branco, um diário que seu pai não teve mais forças para continuar.

José, desesperado ergueu as mãos, e pedia perdão; agora via que nunca chegaria a ser um pai compreensivo e bondoso como seu pai...prometendo como lembrança de ir tratar das rosas que seu pai tanto amava.

Nas primaveras seguintes quando os botões principiassem abrindo seu pai pode-se ver seu grande arrependimento.

(de Toronto, Ontario - Canadá)

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