Um dia, a serpente inquieta também ousou sonhar.
Desde que sobreviveu aos cinco primeiros anos vagando pelo pelos recônditos
enlouquecidos da web, a cobra atrevida passou a vislumbrar todos os sonhos do mundo.
Só não sabia o quanto seria difícil transformar desejos em
coisas palpáveis em meio a tantas pedras espalhadas pelo caminho.
Há dias, semanas, anos, o réptil anseia pelo instante em que vai
conseguir dizer o que o tempo que se esgota não permite.
É impossível disfarçar as escamas rasuradas e o olhar fosco,
reduzido ao inexorável.
A dificuldade para romper estes silêncios dolorosos esteve revestida de
prioridades ordinárias mas inquestionáveis.
E o ápode impotente viu o ano passar sem poder se preparar, questionando
todos os dias se ainda era possível persistir.
Estamos há menos de um mês de nosso aniversário de 10 anos.
A serpente ainda perambula - garganta rasgada - tentando reencontrar a bússola
e o verbo.
Talvez não haja mais tempo para celebrar a data.
Mas, às vezes, basta um segundo para mudar uma vida inteira. E é
essa esperança que o ofídio judiado quer empunhar, para que cada
um que habita nossos meandros possa fazer com que a data sagrada não passe
em vão.
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