Às vezes perdemos de nos relacionar com alguém pelo simples
fato de uma visão inicial distorcida.
Informa o dicionário em um verbete, que o espaço privado de luz
pela interposição ou presença de corpo opaco é a
sombra. Ainda continua nos fornece sinônimos como: Escuridão, trevas,
noite. Depois nos fornece uma interpretação metafórica
e nos informa que ela é uma coisa que parece impalpável e imaterial.
Mancha, nódoa. Defeito, senão. Aparência, vestígio.
Ligeira noção; tintura. Poder, proteção. Na pintura
ela é os lugares mais sombrios ou mais obscuros de um quadro. Poeticamente
é tudo o que entristece a alma. Ainda pode ser: A região dos mortos,
as almas dos mortos, trevas, etc., etc.
Toda esta embolação vernácula não dirá nada
se não se partir para a causa da sombra sobre a qual este texto se firma:
Uma formiguinha (dessas "doidinhas" que invadem nosso açucareiro,
manja?) que ia passando por um tapete e os raios do Sol nascente (cinco e cinco
da matina) incidiram sobre a dita cuja e sua sombra ficou quilométrica.
O que me chamou a atenção foi sua sombra caminhando, pois a formiguinha
era um nadica de nada e não dava quase pra ser vista por mim que estava
sem óculos e sentado para a "meditação" matinal.
Que lapa de sombra! Cá com meus botões (por sinal não os
tinha nenhum naquele momento, pois estava como vim ao mundo, mas com as transformações
normais dos meus sessenta e seis aninhos) comecei a filosofar sobre certos medos
que temos das coisas, em virtude de sombras (aqui cabe bem o "Mito da Caverna"
platônico).
Estar na sombra de alguém é estar protegido por este alguém
e neste caso a sombra é poder, proteção, concorda? Pois
sim.
Muito comum é ver-se a sombra de alguém bem maior do que ela é
e se este alguém viveu em tempos remotos aí "o encanto"
dobra. Sua sombra cresce cada vez mais que se afasta do ponto de origem temporal.
Simples mortais, às vezes obscuros, se tornam deuses. (Meu avô
paterno, pra mim, hoje, já bisavô, é quase um semi-deus
e meu pai um deus.) Porque se tenta modificar o passado? Será que o Tartarana
do Rosa tem razão quando diz: - "... mocidade é tarefa pra
mais tarde se desmentir"? Desmenti-se o passado para se apresentar um presente
digno de merecer os diversos paraísos celestiais.
Irrita-me muito a mim, pecador confesso, a santidade de certos personagens que
tiveram um passado mais sujo que pau de galinheiro. Ouço diuturnamente
elogios a crápulas e vejo estátuas erigidas a pústulas
que me fazem lembrar excrementos. Como eles puderam ter suas sombras aumentadas
e distorcidas? (puxa, como estou amargo neste dia de natal de dois mil e sete!)
Vou parar por aqui senão vou acabar duvidando até da divindade
de Jesus.