Relacionamentos existem dos mais diversos, mas os mais duradouros e verdadeiros
são com os "irracionais".
Por mais que certos sapiens não queiram dar o braço a torcer dizendo
não gostar de animais ditos irracionais, lá no fundo (às
vezes bem no fundo mesmo) há um animal de sua preferência. Por
anoso sou forçado a assumir a minha preferência.
Tentei alguns animais:
Pássaros. Sou amante da liberdade;
Animais silvestres. Acho contraproducente além de ilegal;
Cachorros. Apegam-se muito a nós, ficam muito dependentes e nos tolhem
a liberdade.
E aí por que não os gatos. Gatos. Gatos?
A princípio relutei um pouco. Os achava muito arrogantes, mas com o passar
dos tempos fui me aproximando feles. Recentemente, viúvo, sofrendo a
perda da companheira de muitos anos e anoso apareceu na minha caiçara
em Itamaracá - PE, uma gata vira-latas, velha, magra, feia e sofrida.
Inicialmente fiz pouco caso, mas o sofrimento e a solidão... (pontos
em comum?). Ela ficava de lá e eu de cá. Um dia dei um restinho
de comida e ela depois de saborear sem a mínima relutância e cerimônia,
me agradeceu erguendo bem a cauda magra e se esfregando nos meus tornozelos.
Fiquei na minha e ela Foi Ficando e Ficou. Batizei-a de FFF (se lê Fê,
Fê, Fê). Engravidou e gestou e pariu três gatinhos (dois o
garotinho[= cinco aninhos] da vizinha matou-as de pancadas e esfregaduras).
Escapou um que eu batizei de Babão, pois era muito manso e ficava junto
da gente mordendo nossa roupa e babando. Foi morto por um vizinho com "1080"
talvez pelo estranho hábito de ser gentil babando.
Viajei. Perambulando pelaí, conhecendo novas paragens e revendo outras.
Conhecendo novas gentes. Renovando-me e me livrando da viúves. Passei
três anos ausente de minha caiçara. Voltei renovado e pronto para
recomeçar e lá na minha caiçara me recebeu com um esfregar-se
pelos meus tornozelos e um miadinho (talvez saudoso) esfomeado. A FFF. Ficou
"tomando conta" do pedaço onde ela fora bem tratada. (fui descobrindo
com o tempo).
A FFF é voluntariosa, braba (entrou no território dela ela bota
pra correr até cavalo) e excelente mãe. Depois da minha volta
pariu mais quatro gatinhos. Dois o mesmo menino da vizinha (agora com nove anos)
matou pelo mesmo método. Escapou um casal. Batizei o casal de Gatinha
e Gatão. Até agora estão vivos e fortes, mas... (o vizinho
do "1080" ainda está por lá)...
Passo tempos observando estes três: a FFF, a Gatinha e o Gatão.
Somente permanecem com quem os trata bem. Ronronam quando estão dengosos
e carentes. São independentes e com personalidades próprias e
diversas. Têm lugares preferidos. Alimentam-se em horários diferentes.
Tão pouco se lixando se eu entro ou saio. (a não ser quando me
esqueço de colocar a ração e sou lembrado pelo rabo erguido
e o esfregar-se nos meus tornozelos miando).
Agora estou gostando da arrogância deles, pois ela simboliza independência
e liberdade. Eu quereria ser arrogante como os gatos.
Às vezes ficava a me perguntar por que escolhi gatos como animais de
estimação depois de anoso e livre. Sabem por quê: Estou
anoso, mas sou HOMEM e como tal adoro mulheres. Mulheres e gatos - ou seres
parecidos! Além do mais: mulher dengosa e gostosa é... GATA.