Tenho também como hábito, tal qual o nosso cronista e poeta
inesquecível Luís Augusto Crispim, passeado por minha cidade a
passos contemplativos. Sempre fui apaixonado por essa terra. Desde que a vi
nos idos de 1975. De lá pra cá é um vai e vem sem fim.
Há vinte anos caminho na companhia agradável e apaixonante de
Ana Maria. Percorremos sempre os mesmos caminhos que é pra ter a certeza
de que eles continuam lá. Mesmo com as interferências das administrações
públicas eles continuam ali. E revisitamos todos sempre com a desculpa
de que vamos passear por ai.
Ao longo desses anos sempre notei pessoas vivendo nas ruas. Literalmente nas
ruas. Abandonadas por ausência crônica de políticas públicas
de inclusão social. Claro que estão também abandonados
de si próprios. O que não deixa de ser o pior dos abandonos. Pessoas
que se dilaceram na miséria, pobreza e no vício, principalmente
de álcool. Os vejo jogados nas calçadas de Tambaú, Manaíra,
Bessa. Nas grandes avenidas como a Epitácio Pessoa ou Beira Rio. No centro
da cidade então, os vemos nas praças e pátios de igrejas,
em jardins e marquises de prédios públicos. Vivem ali, jogados
e esquecidos de todos nós.
Penso que o Ministério Público deveria fazer alguma coisa. Cobrar
urgência dos governos atuais, através de atitudes concretas para
socorrer, tratar e reabilitar essas pessoas que se perderam de si e todos nós.
Elas deveriam ser interditadas no seu direito de autodestruição.
É uma questão de saúde pública. Um dever e uma obrigação
do Estado. Na defesa da cidadania abandonada e esquecida por quem de direito:
os governos e a sociedade que os mantém. Aqui no Bairro dos Bancários
onde moro, 'vive' um grupo de homens e algumas mulheres, perambulando e morrendo
à mingua pelas ruas do bairro. Acredito que nos outros bairros isso também
esteja ocorrendo.
É preciso que isso seja enfrentado de frente. Que seja criado programa
público para tratá-los e depois encaminhá-los a alguma
perspectiva de vida considerada humana. É de cortar o coração,
ver, assistir impotente, a tanto abandono público e privado. Essa semana
que passou, dois moradores de rua foram assassinados em João Pessoa e
Campina Grande. Acredito que em outras cidades da Paraíba esteja acontecendo
o mesmo. De tanto abandono, alguns se acham no direito de matá-los. 'Não
fará falta'! Acredita aqueles que nem coração deve possuir
mais.
MAIORES ABANDONADOS. Um problema nosso.