Ontem conversava amenidades com Ana Maria, companheira de mais de vinte anos
de estrada e brincávamos com as dificuldades que as mulheres têm
de acordar cedo. Dizia pra ela que os 'dois neurônios' dos homens e mulheres,
que chamo de Tico e Teco, são diferentes pela manhã. Nunca, em
tempo algum, os dois neurônios femininos acordam ao mesmo tempo. As mulheres
não foram feitas pra levantarem às cinco da manhã. Pode
e deve dormir tarde, nada demais. Mas acordar cedo, não é uma
especialidade feminina. Até porque no 'universo feminino' acordar é
um ritual que deve ser seguido à risca.
Primeiro ela acorda. Fica ali olhando o tempo, esperando os sentidos irem voltando
aos poucos. Depois levantam com uma mansidão que parece mais que estão
se aninhando pra voltar a dormir. Arrumam a cama, pega as toalhas e vão
ao banheiro em passos lentos. Ah! O banheiro! Lá se permitem ficar por
um bom tempo. Primeiro o banho - e que banho - mulher não toma banho
como homem. É um cuidado especial com cada parte do corpo. Uma mulher
tomando banho é texto pra longos artigos. E depois do banho? Ah! Depois
do banho! Primeiro as várias toalhas. Uma pra cabeça - ajuda a
secar os cabelos - outra pro corpo, outra para os pés. Tudo feito em
movimentos delicados e quase parando.
Agora o espelho, o pentear dos cabelos, o desodorante, os cremes pra tudo e
mais um pouco, pois mulher que se preze detesta esse negócio de rugas
e celulite nem pensar. Após uma leve água de cheiro atrás
das orelhas, braços e pernas, ela sai toda enrolada para o quarto agora
para se vestir. Ah! O guarda-roupa feminino! Guarda-roupa feminino é
uma odisséia de coisas, cheiros e cores. Dá até prazer
em ver um guarda-roupa feminino de tão arrumado. É tudo milimetricamente
calculado. Nada está no lugar errado. E ai vem o desfile de tira isso
e bota aquilo, até ela se sentir bem, confortável com ela mesma.
Do acordar até aqui, já se passaram pelo menos uma boa hora. Agora
vamos ao desjejum.
Água pra acordar o estômago e frutas da época para fazê-lo
funcionar. Depois um café com algum pão, biscoito, queijo branco
e mais um tempo pra relaxar que ninguém é de ferro. Nesse instante
os dois neurônios já estão se comunicando. Pois agora, depois
de alguns espreguiçamentos eles começam a trabalhar em dupla.
Um já responde ao outro com mais velocidade. Pois as mulheres, de verdade,
só começam a funcionar mesmo, depois das nove horas. Por tanto,
não atrapalhe a vida de uma mulher até as nove horas da manhã.
Daí pra frente ela toca o que tiver que ser tocado.
Cada dia que passa fico mais apaixonado pelo mundo das mulheres. E olhe que
é o nosso próprio mundo, mas elas conseguem - não me pergunte
como - criar um seu a parte. É outro tempo, outro ritmo, que só
com sua benevolência é que começamos a entender depois dos
trinta anos, pelo menos. Pois eu só vim entender as 'maçadas'
das mulheres depois de adentrar no seu mundo particular. Elas conseguem levar
horas se ajeitando e por mais que você diga que já estamos atrasados
elas dizem: estou saindo! Não se sabe mesmo pra onde, mas quando elas
saem, dá gosto ter esperado tanto.
Essa semana meus três filhos adolescentes, de paquerinhas na vida e de
férias, me pediram pra levá-los pro shopping que eles tinham marcado
às quatro horas em ponto (coisa de homem) um cinema com as meninas. Chegamos
lá quinze pras quatro e ficamos a esperar as meninas. Deu quatro, quatro
e quinze, e quatro e meia e toca o telefone: estamos nos arrumando, disseram
elas. E tome a esperar. Lá pra cinco horas elas chegam como se fossem
três e meia (coisa de mulher). Mas de tão lindas e cheirosas, a
maçada dada vai logo descendo de elevador. Mas eu aproveitei o momento
'pedagógico' e sapequei pros meninos: vão se acostumando. As mulheres
têm um tempo diferente do nosso. É que os nossos dois neurônios
são masculinos. Logo têm essa praticidade inata.
Mas confesso a vocês que tudo de bom que aprendi na vida foi com as mulheres.
Elas são o alento da minha vida. Mesmo aquelas que não vivem comigo.
E olhe que ainda são poucas. Pois aqui em casa só tem homem (cinco
filhos homens). Salvo claro, Ana Maria, que terminou montando um 'harém'
ao contrário. Até o varal de roupa é uma graça:
vinte e cinco cuecas e cinco calcinhas. E quando se junta o monte de amigos
- todos homens - até porque eles estão ainda naquela idade de
que 'homem anda com homem', mas já estão se interessando pelas
curvas sinuosas que andam perambulando pelos corredores da escola e da vizinhança
em torno de casa.
Aquele balanço no andar, com aquele jeito só seu de pisar em nossos
sonhos, é indiscutivelmente sensual e feminino. E que bom que elas existem
e são da maneira que são. Viva as nossas mulheres! Vamos protegê-las
para que elas tornem mais bela e mais afetiva as nossas vidas. Reconheçamos
que sem elas tudo isso aqui é muito chato. E até o designe não
teria o menor sentido sem a sua existência. Que dirá o dia e a
noite. Mas aceite meu conselho: não acorde uma mulher muito cedo. Pois
elas não são a mesma pessoa com que você dormiu. E olhe,
em alguns casos é até perigoso. Pois pode acordar o mau humor
que acompanha as primeiras horas da manhã de uma mulher.