Tem um pensamento que gosto muito e que usei por alguns meses no rodapé
de uma página 'on line' que editava chamada Livre Pensar que dizia o
seguinte: "Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero".
Beaumarchais (1). Pois bem, esse libertário dramaturgo francês
nascido no século XVIII, defendia a crítica sincera como uma forma
de fazer avançar o pensamento humano. Entendia ele que se não
temos o direito de criticar de forma sincera, de nada vale os elogios feitos.
Hoje em dia continua muito atual sua preocupação. Pois alguns
defensores dos atuais dirigentes da política na Paraíba ficam
abespinhados com as críticas que fazemos aos seus chefes de plantão.
Eu até entendo (não aceito) que eles façam a defesa do
chefe, mas deviam, até por uma questão de decência, de honestidade
mesmo, informar aos seus possíveis leitores, que eles recebem do erário
público para fazer esse tipo de defesa. Até porque com o rabo
preso no cargo de confiança não poderia ser diferente. Continuo
me esforçando para ficar justamente do outro lado desse balcão
de negócios em que se transformou a administração pública
na Paraíba. Faço questão de não ser da 'confiança'
desses senhores e senhoras, que confunde o público com o privado, apesar
de todo esse discurso de impessoalidade hoje tão em voga. Esse discurso
não sobrevive a uma simples olhadela nos nomes e na forma de como esses
cargos de 'confiança' foram escolhidos.
A falta crônica da crítica nas coisas da cidade de João
Pessoa e do nosso Estado da Paraíba está virando uma epidemia
que a todos acomete. Alguns, por questões que só suas consciências
conseguem explicar, só sabem fazer o elogio insincero ou optam por eleger
apenas um lado da moeda de troca para desancar com suas críticas. E o
pior é que o 'esquema' que ele apóia (protege) sofre das mesmas
mazelas, mas eles só conseguem ver o mesmo lado do cordão encarnado
ou azul que assumiram defender.
Essa relação de dependência financeira com os elogiados
é o que se tem mais visto por aqui. A contratação de 'assessores'
com o dinheiro público - não para fazer o público entender
o quê de fato se passa na real administração - mas para
dourar a 'pírula' e deixar o chefe bem na foto. Essa falta de criticidade
tem levado alguns as raias da inconseqüência quando os mesmos ficam
cegos em não ver os prejuízos causados a olhos vistos por seus
chefetes de ocasião, mesmo que com isso até o seu meio ambiente
fique atingido. Digo isso me referindo a muitos que lidam com a imprensa na
Paraíba, que moram na praia do Cabo Branco e não conseguem nem
balbuciar uma palavra e nem tão pouco vê o estado de abandono que
aquele recanto aprazível da nossa cidade se encontra.
A falta de uma crítica sincera tem levado ao engodo, a enganação,
a propaganda enganosa, que visa dá a realidade coisas que nela não
existe. É muito estranho ver a cidade empestada de outdoors louvando
a impessoalidade do prefeito desta linda cidade e não ver em nenhum canto
uma única crítica a esse estado de egolatria exacerbado. Parece
que se quer criar um novo Dulce, a lá Mussolini, onde a repetição
da pessoalidade, colados no discurso de que 'nunca fomos tão felizardos'
em ter a magnânima presença dos atuais dirigentes governamentais,
seja no município de João Pessoa, seja em Campina Grande ou na
direção do nosso Estado vegetativo. Está cansando a nossa
inteligência.
As técnicas rudimentares de se repetir os bordões, além
de ser uma arma autoritária e nazista, é também a ponta
o iceberg por onde vão derreter toda essa propaganda, marketing, merchendaising
político, que se tenta fazer dessas figuras, que apesar de terem amealhado
apoios populares, agem como se fossem uns ditadores impondo sua vontade e seu
jeito de pensar. Joseph Goobels, propagandista e coordenador de comunicação
de Adolf Hitler, criou a máxima de que 'se repita uma mentira milhares
de vezes e ela passará a ser vista como verdade'. Só que ele se
esqueceu de dizer - ou omitiu por puro ato falho - que essas mentiras não
podem sobreviver todo tempo e para todo mundo. Pois se podem enganar alguns
por algum tempo, mas todo mundo o tempo todo é impossível.
Portanto, criticar ainda é a melhor maneira de contribuir com o possível
e frágil controle social que a sociedade civil - organizada ou não
- poderá ainda fazer de bem a todo esse estado de coisas que estão
ai. Se com a gente criticando, controlando, fiscalizando, as coisas acontecem
dessa maneira, com milhares de escândalos todos os anos, imagine se ficássemos
calados como querem os 'assessores' pagos com o nosso erário público?
Imagine quais as versões que esses 'assessores' não nos impingiriam
se pudessem mascarar a realidade todos os dias e todas as horas como eles acham
que podem?
Vamos continuar no exercício democrático da crítica sincera,
para que até os elogios, quando tivermos que fazê-los, sejam também
sinceros. Pois de enganação, falsos messias e salvadores da pátria
estamos todos de saco cheio. Acho que de ovário também. Seria
bom que mesmo os poucos críticos de plantão, ao fazerem suas críticas,
dissessem também como andam suas ligações com esse mundo
do poder por aqui. Até, repito, para que a crítica tenha alguma
credibilidade. Pois 'sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero'.
(25/07/2010)