A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Ministério Público presente

(Ivaldo Gomes)

Tem sido um presente – a nossa cidadania – ver as mudanças porque tem passado o Ministério Público Estadual na Paraíba. O atual Procurador-Geral de Justiça, Oswaldo Trigueiro do Valle Filho (e equipe), tem dito alto, claro e em bom som a que de fato veio. Daqui do meu canto cidadão vivo a exigir que a Constituição Brasileira seja aplicada com toda sua ênfase nas questões básicas de cidadania. Garantindo o direito à educação pública de qualidade, ao atendimento adequado na saúde e a certeza de segurança pública. Sem falar nos demais direitos garantidos em lei.

Folgo em ver todas as diligências encaminhadas pelo Ministério Público em torno dessas demandas. Fico satisfeito ao ler nos sites e jornais da cidade, todo o esforço da atual gestão em fiscalizar o cumprimento do que a lei exige. Nada mais que isso: o que exige a lei. Pois chegamos a um nível de ‘administração pública’ que chegam as raias do cinismo e da roubalheira a luz do dia. Basta ver o que os nossos ‘eleitos’ fazem com o erário que deveria ser público. Administram os ‘seus governos’ na base do nepotismo, patrimonialismo, com tanto apadrinhados que terminam instrumentalizando uma ação que deveria servir ao público e nunca aos interesses privados. Assemelhando-se a bandos, verdadeiras quadrilhas a dilapidar os recursos oriundos de nossos impostos.

Uma coisa eu nunca engoli como cidadão e professor. Como explicar que o Estado da Paraíba, que tem orçamento em torno de seis bilhões de reais em 2010 e tendo como obrigação constitucional aplicar 25% desse orçamento em educação pública, ela possa estar da maneira que esteja e que seus professores ganhem tão pouco, mesmo depois de dezenas de anos trabalhando com afinco e em condições mínimas de trabalho? Ora, se essa montanha de dinheiro estivesse sendo aplicada regiamente como manda a legislação, as escolas públicas não estariam da maneira que estão. Isso é óbvio. Mas, infelizmente até agora, nem o próprio Ministério Público e nem tão pouco o Tribunal de Contas do Estado tinham de fato se esforçado para cobrar isso com a vontade política que vemos agora. E isso é louvável apesar de não justificar os anos de silêncio que se fez e que de certa forma ajudou a ‘construir’ esse quadro que ai se encontra. Se alguém aqui achar que estou exagerando, procure uma escola pública e veja com seus próprios olhos.

Cito aqui um simples exemplo para demonstrar que a falta de compromisso com a educação de qualidade, tem levado ao fechamento de milhares de oportunidades. Veja o caso do antigo DEDE/CIEF em João Pessoa. Um centro esportivo, no coração de João Pessoa, que tem capacidade instalada de atender cerca de cinco mil pessoas/dia, vive a passar por dificuldades de todas as formas e maneiras que você possa imaginar. O centro pertence ao Governo do Estado e logo ele deveria prover os recursos necessários para que aquele centro funcionasse dentro de condições adequadas. Lá tem um ginásio esportivo que está fechado há dois anos, por falta de um conserto que custa cinco mil reais. Imagine um ginásio que custa algo em torno de um milhão e meio de reais, parado por falta de um concerto de cinco mil reais? É um absurdo. E olhe a culpa não é dos dirigentes de lá. Pois todos eles já oficializaram pedidos e mais pedidos para o concerto. Mas cadê decisão política de fazê-lo? Ou melhor, pra onde está indo os 25% da educação que não tem recursos para manter aquele centro de forma adequada?

Espero que o Ministério Público Estadual faça de fato uma fiscalização de verdade em todo o sistema de educação pública do Estado da Paraíba. Passe um pente fino em todos os municípios e OBRIGUE os seus governos a cumprirem com o que manda a lei em vigor. Pois não temos mais tempo de ficarmos a ver a violência – principalmente por falta de educação – a crescer em nosso seio e os recursos que deveriam ser aplicados na educação serem desviados para fins que com certeza não justificarão os meios. Pois esses recursos constitucionais são de fato para serem aplicados nas rubricas definidas constitucionalmente. E quando vejo as diligências e as posturas públicas que os atuais procuradores do Ministério Público Estadual têm assumido, reacende em mim (nós cidadãos) a fé e a esperança de que a coisa agora vai mudar. E mudar para o que já devia vir acontecendo. Dinheiro público aplicado rigorosamente na coisa pública. É só isso o que queremos.

(19 fevereiro 2010)

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