Quando vim morar aqui no Conjunto Anatólia, hoje Bancários como
bairro, em João Pessoa - PB foi nos idos de 1979. Tudo terminava aqui.
Daqui pra frente só o prédio já desativado da antiga Penitenciária
de Mangabeira. Que hoje só tem o pórtico de entrada da antiga
penitenciária ali dentro do prédio da CEHAP. O muro da minha casa
era oitenta centímetros de altura. Eu chegava em casa e passava o pé
por cima do muro baixo. Nem o portão abria. Ai arrombaram minha casa
pela primeira vez. Levaram besteiras. Mas fiquei indignado com aquele atrevimento.
De alguém se achar no direito de entrar sem minha permissão no
canto que escolhi pra viver e tenho a posse legal do mesmo. Coisa de cidadania.
Direitos inalienáveis.
Ponderei daqui, dali e achei que aumentando o muro pra um e vinte centímetros
estaria resolvido o problema. Assim fiz e fiquei sem a capacidade de passar
por cima do muro. Agora tinha sempre - até hoje - que abrir e fechar
o portão. Sim, agora tem um portão. Mais uns três anos e
ai entraram de novo na minha ausência e levaram o que foi possível
e de interesse deles. Pois foi mais de um pelas evidências deixadas. Levaram
coisa de pouca monta. Pois que não tem perde pouco. Fiquei injuriado.
Escrevi uns artigos desaforados e disse que não aceitava que entrassem
em meu ressinto estrito e sagrado sem o nosso convite. Pensei, ponderei e fiquei
a imaginar que se o muro 'fosse mais alto' eles não entrariam mais. Lego
engano que se fez mesmo aumentando o muro pra um e sessenta centímetros
de altura.
Agora não mais me restava a menor dúvida. Ou o muro sobe ou a
violência não fica distante de minha casa. E pense numa equação
sociológica de difícil solução. Nunca me desanimo
nessa hora. Tenho sempre o senso de responsabilidade aliado a defesa dos meus
mais queridos. Todos nós temos pessoas queridas e queremos que elas sejam
felizes. Assim como nós queremos que todos o sejam. Mas o muro a um metro
e oitenta não me fez mais feliz. Pode ter me feito ilusoriamente mais
seguro. Nunca feliz por estar entre um muro e uma realidade. E depois de tudo
isso, quando achei que tudo isso tinha passado pela altura do muro, a casa foi
'visitada de novo' e ai as minhas certezas se desvaneceram de vez. Muro a dois
e dez centímetros. Mais quarenta de cerca elétrica. Está
feita a prisão em meu próprio Estado.
O pior de ter a casa invadida na sua ausência (ainda bem!), é você
ver suas coisas reviradas. Levadas como se fosse um bota fora onde as pessoas
pegam o que querem. Só que sem a autorização dos seus proprietários.
Não é o valor material - e é também - o que conta.
Mas o valor sentimental. Imagine aquela aliança que você deu a
sua mulher - ao seu amor - no dia do casamento, ser roubada para servir pra
coisas como comprar besteiras materiais? Mas isso é seu sentimento guardado
a lenços chineses de emoção e boas lembranças. Não
aceito o argumento de que 'posso' invadir sua privacidade e destituí-lo
de seus direitos. E ponto. Vou morrer assim.
Na realidade esse texto, pretendia tratar de educação e saúde
pública. Pois essas são de fato as responsáveis por evitar
que a segurança pública tenha que comprar sempre mais, milhares
de carros, bombas, balas, metralhadoras, revolveres, cassetetes, bombas de efeito
moral, imoral etc. e tal. Como se a injustiça social pudesse ser combatida
com cassetetes, repressão e mais violência. Triste de um povo que
vive a mercê de fuzis e assassinatos. Com ou sem razão. Preocupa-me
essas explicações fáceis que pregam na imprensa. Logo ela
que deveria dar o exemplo. Não adianta pendurar uma plaqueta 'envolvido
com drogas' no pescoço da vítima para justificar os assassinatos
que pululam na cidade. É muito pouca explicação. O texto,
repito, deveria tratar de educação e saúde. Isso sim é
o que é importante - afora a economia é claro - e não a
repressão como forma de punir as desigualdades sociais. È claro
que o Estado precisa - ainda - de ter um aparato de repressão para bandidos
que subvertem a ordem de forma violenta e mata gratuitamente as pessoas em nome
de violência pura e gratuita.
Pra concluir esse texto sobre segurança pública, quer dizer, educação
e saúde, eu gostaria de pedir ao pessoal da imprensa, entre uma pauta
e outra que colocasse lá também essa pauta: educação
e saúde. E fosse atrás dos dados oficiais que diz que os governos
devem aplicar um percentual obrigatório em educação e saúde.
Quem sabe se a gente conseguir que esse percentual seja aplicado a gente não
passe para a pauta seguinte: lazer e cultura. Pois precisamos sair disso. Desse
rame rame, lenga lenga, de que fulano fez ou vai fazer. Ah! Se a solução
fosse essa coisa de fulano de tal fez ou vai fazer, tudo estaria resolvido.
Pois o que não falta são fulanos. Com sinceridade eu não
estou nem ai com esse negócio de eleição, comercio popular
de venda de votos. E ainda chamam isso de democracia. Pois eu sou um analfabeto.
Pois o que eu entendo de democracia passa distante disso que dizem ser.
Voltaremos ao tema.