Sigo acompanhando chocado todos os fatos decorrentes do fato de pessoas em estado
de loucura terminar por assassinar sete pessoas. João Pessoa semana passada
foi palco de uma chacina que foi notícia no país inteiro. Mas uma.
E essa tem todos os componentes de grandes tragédias. Pessoa simples, humildes,
sem formação escolar qualificada, sem as mesmas oportunidades sócio-econômicas,
de periferia de cidade, ocultos aos olhos das autoridades constituídas
e de suas pesquisas ditas sociais. Talvez o IBGE os tenha encontrado, mas ou muito
pouco adiantou para lhe garantir uma condição mais digna de ser
um cidadão em plenos direitos e usufruto deles. Cercados por ignorância
e injustiças, um dia a pressão é tanta e tantos são
os casos no dia a dia que a panela explode. Reações inexplicáveis
acontecem e choca o padrão realmente aceito da preservação
da vida.
Os argumentos para a tragédia social que ali aconteceu são muitas.
Inclusive que uma galinha mal dividida e a arenga de meninos vizinhos tinham
alimentado a animosidade entre o grupo de vizinhos. O que se sabe até
agora é que um casal vizinho resolveu matar todos da outra família
de uma vez na faca e no facão. E fez o que haviam combinado. O que a
mente humana é capaz de fazer a gente já viu em Alchimists, Nagazake,
Vietnã, Iraque. Tudo é possível de ficar pior. A mente
humana é ilimitada tanto para o bem quanto para o mal. Talvez o que divise
o bem e o mal seja o grau de educação que cada um possui. E olhe,
não estou a falar de qualquer educação. Estou a falar da
verdadeira educação que educa para a solidariedade, para a compreensão,
para o respeito. Para a convivência social saudável. Pois faltou
esse tipo de educação naqueles vizinhos. Foi e quantos ainda serão
tragados por tragédias que a falta de educação, a falta
de formação humanitária do convívio e do respeito
social poderá nos trazer?
Agora fica fácil julgar o ocorrido. Temos um casal de criminosos a
ser julgado e condenado. Mas o caso não está encerrado. Pois pode
acontecer de novo, com outros casais e outros vizinhos. Os apresentadores Datena,
Ratinho, Leão e outros papa-desgraça trarão logo mais na
sua sala, quarto, escritório, jardim, os crimes mais hediondos que estão
acontecendo ao vivo e a cores. Com possibilidades de golfadas de sangue e humilhações.
Mesmo ai, ainda falta muita educação. E vai continuar faltando,
pois os governos mentem calorosamente para a população dizendo
que cuida da educação dela. Basta ver as prestações
de contas em que o Tribunal de Contas - com seus conselheiros sendo nomeados
por pessoas que têm contas a serem julgadas por esses mesmos nomeados
- aprovam suas contas e nos diz que tudo anda bem, mas falta dinheiro. E eu
acrescentaria: vergonha também.
Outra coisa que me chocou também foi o oportunismo de alguns em partir
para se cometer mais crimes. Destruindo casas, torturando os criminosos e agora
até as igrejas disputam um 'memorial' a ser erguido no local da tragédia.
Vai virar um 'monumento' a exploração da fé religiosa e
logo logo vão aparecer os milagres feitos, principalmente pelas crianças
assassinadas de forma vil. Se querem mesmo fazer alguma coisa séria e
de verdade que tal começar a melhorar as escolas públicas na periferia
da cidade? De todas as cidades? Mas escola de verdade, dessas que os 25% da
educação - se fosse aplicado de verdade - criaria. E não
esses arremedos de escola que temos por aqui. Falar em melhorar o salário
e a capacitação dos professores seria até cabotino de minha
parte. Mesmo já ganhando um salário indecente para trinta anos
de serviços já prestados.
Faltou educação naquelas pessoas. Faltou o desenvolvimento de
uma ética, de uma filosofia de vida, de um modo de compreender a vida,
que jamais os levasse a esse beco sem saída da ignorância e violência.
Se você observar bem direitinho, toda raiz da violência está
calcada na ignorância. Da ignorância vem o preconceito - por falta
de compreensão -, se estabelece o egoísmo - por falta de doação
- e se efetiva a miséria - por falta de igualdade e oportunidade. Está
montada a síndrome da miséria da violência. Daí os
gestos mesquinhos, traiçoeiros, premeditados, oportunistas. E cadê
a educação para corrigir isso? Pois isso só se forma na
ausência dela. Da educação. Portanto, faltou educação
e sobrou violência para todos os lados. Há dias que convivemos
com a chacina dentro da casa de cada um.
E vamos fazer o quê? Construir mais presídios, comprar mais carros
de polícia, contratar mais filhos do povo para bater no povo, armá-los
para também contribuir com mais mortes no meio do povo? De bandidos a
inocentes? Morrem todos. Ou vamos mais uma vez deixar passar a oportunidade
da tragédia para refletir de que jeito mesmo queremos essa sociedade
e de como se educa pra vida, pra paz, pra prosperidade? Uma educação
que leve as pessoas ao desenvolvimento de suas capacidades técnicas e
artísticas. Críticas por natureza, onde possa saber sempre em
que lado ético ficar de cada situação. Onde a educação
para a cooperação (não a cooptação), educação
para o empreendedorismo (não ao assistencialismo), educação
para a solidariedade (não ao individualismo), seja de fato um entendimento
para se manter e se estabelecer uma convivência pacífica e de paz.
Com justiça social em resposta as injustiças de hoje (aqui o maior
problema a ser encarado). A ignorância - geradora de toda miséria
- precisa ser extirpada do nosso meio social. Mas ai caímos no sistema
que adotamos até agora. Ta vendo como precisamos mudar as coisas por
aqui?