A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Público e de qualidade

(Ivaldo Gomes)

Não basta ser público, tem que ter qualidade.

Essa deve ser a máxima de qualquer governo que queira ser respeitado. Parece até recorrente o tema da qualidade no serviço público. Mas é necessário ficar batendo nessa tecla só pra lembrar que a montanha que pagamos de impostos não justifica o serviço público que temos. E somos carentes, pela falta de aplicação dos recursos existentes para várias áreas. O que nos chama mais a atenção - até pela proximidade do dia a dia - é a educação, a saúde e a segurança pública. As três nos atingem de maneira brutal, pela falta de condições adequadas e de qualidade que esses serviços não possuem.

Nunca acreditei - e os Tribunais de Contas são os responsáveis pela minha descrença - de que se aplicam de fato e de direito os 25% para a educação e os 15% para a saúde. Reafirmo o que digo aqui pois se a Paraíba aplicasse os 25% constitucionais na educação ela com certeza não estaria da forma que se encontra. Tenho quase trinta anos de serviço público escolar e sei o que estou aqui afirmando. E se acham que não é verdade, façam as contas. Pegue para cada bilhão arrecadado de nossos impostos e retire duzentos e cinqüenta milhões. Conte os bilhões de receita do Estado e concluirá que é impossível tanto dinheiro assim estar sendo aplicado e as escolas estarem da maneira que se encontram. Na saúde o raciocínio é o mesmo.

Fico a imaginar a dificuldade do presidente do Tribunal de Contas em justificar a aprovação das contas do Estado. E olhe que isso não é de agora. Daí que a carência se tornou crônica. Mas como aqui se brinca de se fazer educação - a coisa mais importante no Estado - vamos de mal a pior. E o danado é que nenhuma autoridade nunca se debruçou de verdade sobre esse assunto. Apesar de ganharem para fazer justamente isso: fiscalizar a aplicação obrigatória dos recursos definidos na Constituição. O 'controle' estatal expressa - e não poderia ser diferente - a sociedade que temos. Quem ganha mais tem mais e quem ganha menos tem menos. Mesmo aquele princípio jurídico que diz que 'quem pode mais pode menos e quem pode menos pode mais' aqui não prevalece.

Serviço público tem que ter qualidade e qualidade só se consegue com investimento e controle sobre ele. Não basta a justificativa de que é público, para ser sinônimo de coisa ruim, desorganizada, confusa, caótica. Pois caótico é o quadro da saúde, da educação e da segurança estadual. Entra ano e sai ano e a coisa não muda. As políticas se justificam mais não resolvem os nossos problemas nessas áreas. A falta de cobertura em saúde pública na Paraíba é muito grande. Se levantar direito a informação verá que uns três ou quatro paraibanos - se muito - têm realmente uma cobertura adequada. O resto é fila, cansaço e descaso. Se acha que estou mentindo passe um dia no Hospital de Trauma de João Pessoa ou vá pessoalmente ao CAME de Jaguaribe. Passe pelas maternidades e CAIS de bairros como Mangabeira. Já o PSF - infelizmente - é uma justificativa para um atendimento precário e de pouca resultabilidade.

A segurança então só de Deus. Sair de casa hoje é uma aventura. Nunca se sabe se volta. Normalmente volta estressado. O trânsito quase sempre engarrafado - em alguns locais o dia todo - eleva os batimentos cardíacos e a paciência baixa a níveis insuportáveis. Daí mais competição no transito e mais desavenças na rua. Semana passada vi um senhor quase bater num motoqueiro porque ele passou bem pertinho do 'seu' carro e isso é um afronta. As casas da gente mais parecem presídios com seus muros altos, grades por todo lado e cerca elétrica. Mas se não for assim você tem a casa arrombada, invadida, como já aconteceu aqui em casa várias vezes. Armas? Nem pensar! Seria apenas mais uma na insegurança pública desses dias com cadáveres aparecendo todas as manhãs em nossos bairros. Que vida é essa que levamos mesmo?

O sentido da coisa pública deve ser mais do que este que estamos assistindo há bastante tempo. O pior é isso: bastante tempo. Volto a reafirmar o que disse em artigo anterior: a Paraíba (nordeste - Brasil) precisa repactuar urgentemente um outro modelo público, onde a eficiência e a eficácia sejam marcas e reconhecimento de todos que vivem por aqui. Não basta ser público, tem que ter qualidade. E nem o discurso de que o dinheiro não existe não cola mais. O dinheiro existe só que precisa ser aplicado e bem aplicado. Essa é a diferença nos dias de hoje. E precisamos melhorar e muito. Muito mesmo o serviço público hoje oferecido.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente