Tem um pensamento que gosto muito e que uso como rodapé de uma página
eletrônica que volto a editar chamada Livre Pensar que diz o seguinte:
"Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero"
de Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais. Pois bem, esse libertário dramaturgo
francês nascido no século XVIII, defendia a crítica sincera
como uma forma de fazer avançar o pensamento humano. Entendia ele que
se não temos o direito de criticar de forma sincera, de nada vale os
elogios feitos. Hoje em dia continua muito atual sua preocupação.
Pois alguns defensores dos atuais dirigentes da política na Paraíba
ficam abespinhados com as críticas que fazemos aos seus chefes de plantão.
Eu até entendo (não aceito) que eles façam à defesa
do chefe, mas deviam, até por uma questão de decência, de
honestidade mesmo, informar aos seus possíveis leitores, que eles recebem
do erário público para fazer esse tipo de defesa. Até porque
com o rabo preso no cargo de confiança não poderia ser diferente.
Continuo me esforçando para ficar justamente do outro lado desse balcão
de negócios em que se transformou a administração pública
na Paraíba. Faço questão de não ser da 'confiança'
desses senhores e senhoras, que confunde o público com o privado, apesar
de todo esse discurso de impessoalidade hoje tão em voga. Esse discurso
não sobrevive a uma simples olhadela nos nomes e na forma de como esses
cargos de 'confiança' foram escolhidos.
A falta crônica da crítica nas coisas da cidade de João
Pessoa e do nosso Estado da Paraíba, está virando uma epidemia
que a todos acomete. Alguns, por questões que só suas consciências
conseguem explicar, só sabem fazer o elogio insincero ou optam por eleger
apenas um lado da moeda de troca para desancar com suas críticas. E o
pior é que o 'esquema' que ele apóia (protege/defende) sofre das
mesmas mazelas, mas eles só conseguem ver o mesmo lado do cordão
encarnado ou azul que assumiram defender. Ou sendo mais direto: são pagos
para defender. Mesmo que o jornalismo ou a ética do bem informar, formar,
vá pras cucuias.
Essa relação de dependência financeira com os elogiados
é o que se tem mais visto por aqui. A contratação de 'assessores'
com o dinheiro público - não para fazer o público entender
o quê de fato se passa na real administração - mas para
dourar a 'pílula' e deixar o chefe bem na foto. Essa falta de criticidade
tem levado alguns as raias da inconseqüência quando os mesmos ficam
cegos em não vêem os prejuízos causados a olhos vistos por
seus chefes de ocasião, mesmo que com isso até o seu meio ambiente
fique atingido. Digo isso me referindo a muitos que lidam com a imprensa na
Paraíba e não conseguem nem balbuciar uma palavra que não
seja para elogiar o chefe ou apenas criticar os desafetos do chefe.
A falta de uma crítica sincera tem levado ao engodo, a enganação,
a propaganda enganosa, que visa dá à realidade coisas que nela
não existe. É muito estranho ver a cidade empestada de brasões
louvando a impessoalidade do prefeito desta linda cidade e não ver em
nenhum canto uma única crítica a esse estado de egolatria exacerbado.
Parece que se quer criar um novo Dulce, a lá Mussolini, onde a repetição
da pessoalidade, colados no discurso de que 'nunca fomos tão felizardos'
em ter a magnânima presença dos atuais dirigentes governamentais,
seja no município de João Pessoa, seja em Campina Grande ou na
direção do nosso Estado vegetativo. Tudo isso só cansa
a nossa inteligência.
As técnicas rudimentares de se repetir os bordões, os brasões,
além de ser uma arma autoritária e nazista, é também
a ponta do iceberg por onde vão derreter toda essa propaganda, marketing,
merchendaising político, que se tenta fazer dessas figuras, que apesar
de terem amealhado apoios populares, agem como se fossem uns ditadores impondo
sua vontade e seu jeito de pensar. Joseph Goobels, propagandista e coordenador
de comunicação de Adolf Hitler, criou a máxima de que:
'se repita uma mentira milhares de vezes e ela passará a ser vista como
verdade'. Só que ele se esqueceu de dizer - ou omitiu por puro ato falho
- que essas mentiras não podem sobreviver todo tempo e para todo mundo.
Pois se podem enganar alguns por algum tempo, mas todo mundo o tempo todo é
impossível.
Portanto, criticar ainda é a melhor maneira de contribuir com o possível
e frágil controle social que a sociedade civil - organizada ou não
- poderá ainda fazer de bem a todo esse estado de coisas que estão
ai. Se com a gente criticando, controlando, fiscalizando, as coisas acontecem
dessa maneira, com milhares de escândalos todos os anos, imagine se ficássemos
calados como querem os 'assessores' pagos com o nosso erário público?
Imagine quais as versões que esses 'assessores' não nos impingiriam
se pudessem mascarar a realidade todos os dias e todas as horas como eles acham
que podem?
Vamos continuar no exercício democrático da crítica sincera,
para que até os elogios, quando tivermos que fazê-los, sejam também
sinceros. Pois de enganação, falsos messias e salvadores da pátria
estamos todos de saco cheio. Acho que de ovário também. Seria
bom que mesmo os poucos críticos de plantão, ao fazerem suas críticas,
dissessem também como andam suas ligações com esse mundo
do poder por aqui. Até, repito, para que a crítica tenha alguma
credibilidade. Pois 'sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero'.