Vivo numa casa de esquina com 600 m2 de área total, muitas plantas e
animais soltos na natureza. Passei uns vinte anos pelejando com um jardim, que
por mais que você cuide fica sempre do jeito dele. O hábito de
colocar xerém no quintal e água sempre limpa, atraiu uma série
de pássaros que passaram a morar literalmente em nossa casa. Como aqui
ninguém mexe nos seus ninhos e nem os ameaça, eles vivem a cantarolar
pra alegria dos que vivem ou convivem por aqui. Um raro privilégio que
levou uns vinte anos para acontecer da forma como acontece hoje. Poder colher
uma rosa ou mesmo contemplá-la à distância ou ainda sorver
seu perfume inebriante é um privilégio que se leva tempo para
acontecer. E tudo parece passar tão rápido. Parece que foi ontem
que plantamos essas plantas de agora.
A última novidade - de muitas que tenho pra contar um dia - é
que um pequeno passarinho, que chamo de Pintassilgo, escolhe de vez em quando
um suporte de luz para fazer seu ninho, bem aqui acima da minha cabeça,
vendo-me teclar essa simples crônica do meu dia a dia. Já fez cocô
uma vez nas minhas costas quando passava. Agora mesmo os filhotes estão
lá... piu... piu.... piu... piu.... Bem baixinho, parecendo um
ensaio de como chamar a 'mamãe' o tempo todo. Ou quem sabe exercitando
o canto para o cantar que um dia cantará. E eu não sei se vocês
já ouviram um Pintassilgo cantando. É um trinado rápido
e vigoroso. É como uma melodia rápida, ligeira, mas extremamente
agradável, delicados, em seus compassos e sibilados. Extremamente melodioso,
mavioso. Pois bem, estão agora ali agora... piu.... piu.... piu....
Devem ficar mais uns dez dias e depois o mundo será o limite e o quintal
que habito por aqui o seu universo e referência. Talvez volte pra fazer
o ninho dos seus próprios filhotes. E ai vai começar tudo de novo.
Os vôos rasantes entre os basculantes da sala e da salinha de estudo onde
fica um computador, um altar e a passagem para a cozinha, o canto mais gostoso
da casa. Todos são felizes na cozinha! Já dizia o sábio.
Ou seja, de barriga cheia tudo fica mais fácil de ser resolvido.
Essa semana levei bronca quase que diariamente do Pintassilgo que está
instalado - morando mesmo - no suporte que sustenta a lâmpada aqui de
casa. É que esqueci de deixar aberto o basculante e a porta que dá
acesso ao seu ninho. Da mesa da sala da cozinha, ouvia os trinados de reclamação.
Como ele poderia entrar na sala se eu fechei o basculante e a porta? Assim também
já era demais. E ela ou ele - acho que era o pai - pois tinha cara de
brabo e ficou várias vezes trinando pra gente da grade do portão
da cozinha (tenho testemunhas). Parei o café e fui admoestado agora por
Ana Maria, que dizia: 'O bichinho quer entrar... Vá abrir a porta logo'...
Depois não sabem o porquê desses 'inquilinos' impertinentes, que
alem de não 'pagarem o aluguel' são cheios de direitos. Sem falar
no chão que tenho que limpar todos os dias. Mas não reclamo. Os
vôos de casa à dentro, os trinados, o canto, o piado dos filhotes
querendo comida, pagam de sobra o 'aluguel' desse mundinho que pensamos possuir.
Que eles sejam felizes ali e eu aqui. Cada um do seu jeito.
Outro dia eu vou contar a historia do Sapo Cururu 'Ozze Osbourne', um sapão
de verdade que apareceu aqui em casa e vive aprontando presepadas. E as lagartixas
que gostam de tomar banho e chupar frutas caídas pelo chão?