Eu sou de um tempo aqui em João Pessoa que as pessoas conversavam muito
e queriam um mundo melhor. Como toda e qualquer geração. Umas
mais outras menos. Mas todas querem que o mundo seja melhor. Apesar das guerras,
do lado desumano dos seres humanos o saldo é bom. Mesmo com o planeta
servindo de aterro sanitário pra gente. Estamos mais vivos do que mortos.
Lutamos nossas bandeiras e bradamos por coisas que hoje são até
plausíveis. Acho que o desabrochar da redemocratização
na Paraíba foi o melhor e maior momento vivido pela minha geração.
Era uma época de rupturas e mudanças. Os sonhos estavam à
flor da pele. O ano de 1979 foi o ano em o povo brasileiro acordou para sua
democracia. Insipiente ainda, mas na direção da utopia de termos
um dia um país de TODOS. Não esse todos de marca de
fantasia de governos ditos de esquerda.
Lembro que em 1979 eu estava como muitos outros na briga por
um piso salarial para os professores do Estado. Recém contratado para
a Secretaria de Educação e Cultura do Governo estadual, me vi
no meio de um turbilhão que poderíamos chamar, sem sombra de dúvidas,
de que das salas de reuniões da Associação do Magistério
Público da Paraíba AMPEP - saíram às
diretrizes para um enfrentamento da sociedade com a velha estrutura autoritária
que se esvaia em falta de perspectivas. Os militares depois de 24 anos no poder,
batiam continência e saiam de cena. O governo de agora seria civil
mesmo servil mas civil. E ai a gente se viu na rua. Fizemos todas as
passeatas que tínhamos direito. A Paraíba viveu dez anos de greves
e refregas. TODOS os sindicatos e associações (as novas, inclusive
como as ADUFs), passaram por momentos de ruptura com a ordem anterior. Pelegos
do sindicalismo militar se espatifaram depois de duas décadas no poder.
Na rasteira de uma convulsão social, vieram os partidos políticos
como o PT. A centralização sindical com a CUT. O MST na organização
dos trabalhadores do campo, junto com a CPT. E muitos embates públicos
com o poder constituído - ainda de forma arbitrária - pois os
governadores só seriam eleitos em novembro de 1982, agora pela via direta.
Aqui governava de forma nomeada pela ditadura militar o advogado e professor
Tarcísio de Miranda Burity. Um intelectual, erudito e extremamente vaidoso
para almejar o poder. Hoje - justiça seja feita - foi o melhor Governador
em relação aos professores. Em sua época e pelos enfrentamentos
que tivemos, nós professores da rede estadual de ensino, recebíamos
6,5 salários mínimos. Era o nosso piso salarial na época.
Arrancados a força e com as escolas em greve. Fomos o movimento social
que fez a primeira greve da rede pública na Paraíba depois do
AI 5. Isso é história e basta comprovar. Tudo acontecia o tempo
todo e tudo se pedia uma nova compreensão. Quando o conselho de greve
da AMPEP se reunia em sua sede em Tambiá, o governo se reunia na Secretaria
de Educação para acompanhar o desenrolar dos fatos.
Fatos esses que geraram mudanças profundas na estrutura sindical do
Estado. Passamos de uma hora para outra a contar cada vez mais com setores da
sociedade, que vendo o exemplo dos professores estaduais, começaram também
a se organizar e exigir mudanças. Isso tomou conta da sociedade naqueles
dias. Éramos um grupo grande. Mais de cem pessoas no início e
depois milhares. Existe um relato escrito muito importante e significativo,
feito pelo historiador, amigo e revolucionário professor Silvio Frank
Alem. Uma anotação de campo com detalhes tão significativos
quanto reais. É o melhor documento existente da época sobre aquele
movimento dos professores da rede estadual. E como num rastilho tudo começa
a ser replanejado. Arejado. Abrem-se as janelas e o sol da liberdade volta a
brilhar na sala de todos nós. E agora? Essa foi à hora. E soubemos
fazê-la quando ela chegou. Não negamos o poeta.
Mas trouxe você até aqui para lhe dizer que hoje pela manhã,
pensando nisso, descobri que os professores eram bem mais representados pela
Associação do Magistério Público da Paraíba
antiga AMPEP, do que pelo atual Sindicato dos Trabalhadores em Educação
SINTEP. Do qual sou sócio. O sindicato resultante daqueles dias
se acomodou aos repasses mensais das verbas e dos descontos em folha
de forma obrigatória aos sindicatos e suas centrais. O sindicalismo
que queria mudar o mundo virou sindicato de resultados. Onde a migalha a mais
não vai salvar o trabalhador, mas vai poder calar a sua boca. É
melhor está empregado com esse salário do que está desempregado.
Essa chantagem capitalista nunca nos deixou sossegados. Então vamos ver
onde as mensalidades dos sindicalizados vão ser postas. Fazemos um jornalzinho
vários e diremos que estamos indo. A crise é difícil,
atinge todo mundo, logo o tempo é de precaução. E vamos
vivendo de repasses mensais de contribuições e poucas informações.
E ai descobri também que a vida não mudou tanto assim. O mundo
é que anda muito mudado. E nos parece que do ponto de vista da natureza
sempre para pior. Nesse último mês de novembro a Amazônia
perdeu uma área, pelo desmatamento, de cerca de 600 km quadrados. Dá
pra ir até Cajazeiras e chegando lá você fez apenas um lado
da devastação. Pegue à mesma distância e faça
um quadrado. Ai está o tamanho da devastação. E não
acontece nada? O mundo anda muito mudado. Principalmente naqueles discursos
de mudança que existiam por aqui. Esses então, trocaram os planos
de política por planos de poder. A ordem é enriquecer
com ou através do erário público. Claro, que tudo dentro
da legalidade. Ou dentro dos conformes como diz o nobre jornalista
Rubéns Nóbrega. Mas vamos concluindo por aqui com uma outra frase
celebre de um outro jornalista também decente e importante na Paraíba
dos dias de hoje, chamado João Costa. Ele tem o hábito de terminar
suas crônicas com uma frase curta e direta: assim caminha a humanidade.
Fique com Deus.