Ontem tivemos a oportunidade de voltar num passado onde a magia, o riso, a surpresa,
a delicadeza, o sonho estava na sua frente. Embaixo de um céu colorido
de linhas e cores. Estávamos no circo. No circo escola do Centro Cultural
Piollin. Fui ver, sentir, viver, rir, sorrir e me encantar com o trabalho de
tanta gente que se esforça noite e dia para que a arte seja perene enquanto
dure. E nada mais deslumbrante do aquele palhaço caminhando com sua bengala,
mala, sapatos imensos, calças listadas, sorriso largo e irreverente.
Além é claro, do ator emocionante que é Luiz Carlos Vasconcelos.
Quem não foi ver ontem na abertura do encontro de circo, perdeu umas
das melhores performances do Palhaço Xuxu. Sorrimos por boa hora e meia.
A platéia ria e se divertia com as irreverências do palhaço
e as situações absurdas que ele cria.
Voltamos pra casa com a sensação de que estivemos vendo um grande
espetáculo. Com todas as dificuldades que a infra-estrutura cultural
ainda possui no Estado. Não é fácil fazer, viver de cultura
por aqui. Com todas essas leis em vigor, ainda é muito difícil
se manter na arte pela arte. A maioria que lida com ela hoje na Paraíba,
possui alguma outra forma de se manter. Pois viver apenas dela, é um
privilégio de poucos. E desses - a maioria - não vive na Paraíba.
Pois se vivesse não se sustentariam como pessoa, como família
e compromissos mil. Mas a arte é uma coisa que quando contamina você
não tem mais jeito. Agora é se virar pra conviver com ela e se
possível fazê-la avançar. Pois arte tem muito de sudação.
Mais transpiração que 'suspiração'.
Nos reencontrar com o palhaço que existe dentro de todos nós é
um momento mágico. Desconheço quem não aprecie uma boa
palhaçada. E Luiz consegue colocar no seu Palhaço Xuxu, toda uma
delicadeza, toda uma grandeza das coisas de que são feitos um palhaço.
É engraçado, astuto, inteligente, meigo, farsante, hilário,
estapafúrdio, envolvente, mágico no ato de fazer rir. E tudo isso
o Palhaço Xuxu possui e distribui com uma bondade que só os palhaços
possuem. O Circo precisa continuar. Pois o espetáculo já está
pra começar. As pessoas estão chegando e as cortinas vão
se abrir e o palhaço vai fazer rir a platéia que se esquecerá
do mundo como ele é e pensará que é feliz eternamente nas
gargalhadas que dá e ouve. Como é bom ouvir o som das risadas
na platéia. Como é bom estar ali e também está sorrindo.
Um sorriso atrás do outro. Preso na magia do palhaço que a tudo
controla e descontrola.
A Companhia Lua Crescente, o Piollin e tudo que vai acontecer nesse encontro,
só nos mostram que a Paraíba continua andando pra frente. Pelo
menos sempre esteve andando pra frente nas artes. Na sua produção
artística. Com todas as dificuldades e em todos os momentos. O que nunca
faltou na Paraíba foi produção artística. Daí
minha admiração e meu respeito pelos artistas dessa terra. Que
não precisam ser vistos como excêntricos e diferentes, mas como
humanos que são. Artistas é o que são. Com todas as necessidades
de sobrevivência. Os artistas são os artífices da sociedade.
Cabe a eles a tarefa árdua e interminável de dá forma ao
pensamento. A eles cabe o registro da história. São eternos em
seus momentos de criação. Pois se conectam com forças que
só a arte pode dá acesso. Mas acesso mesmo aconteceu ontem. E
foi de riso. E gostaria de agradecer. Sim, agradecer ao Palhaço Xuxu,
a faxina que ele fez nas teias de aranha que já começavam a querer
tomar conta do meu palhaço interior. Que ontem mais uma vez acordou e
sorriu pra mim.