A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Palhaço Xuxu e Cia

(Ivaldo Gomes)

Ontem tivemos a oportunidade de voltar num passado onde a magia, o riso, a surpresa, a delicadeza, o sonho estava na sua frente. Embaixo de um céu colorido de linhas e cores. Estávamos no circo. No circo escola do Centro Cultural Piollin. Fui ver, sentir, viver, rir, sorrir e me encantar com o trabalho de tanta gente que se esforça noite e dia para que a arte seja perene enquanto dure. E nada mais deslumbrante do aquele palhaço caminhando com sua bengala, mala, sapatos imensos, calças listadas, sorriso largo e irreverente. Além é claro, do ator emocionante que é Luiz Carlos Vasconcelos. Quem não foi ver ontem na abertura do encontro de circo, perdeu umas das melhores performances do Palhaço Xuxu. Sorrimos por boa hora e meia. A platéia ria e se divertia com as irreverências do palhaço e as situações absurdas que ele cria.

Voltamos pra casa com a sensação de que estivemos vendo um grande espetáculo. Com todas as dificuldades que a infra-estrutura cultural ainda possui no Estado. Não é fácil fazer, viver de cultura por aqui. Com todas essas leis em vigor, ainda é muito difícil se manter na arte pela arte. A maioria que lida com ela hoje na Paraíba, possui alguma outra forma de se manter. Pois viver apenas dela, é um privilégio de poucos. E desses - a maioria - não vive na Paraíba. Pois se vivesse não se sustentariam como pessoa, como família e compromissos mil. Mas a arte é uma coisa que quando contamina você não tem mais jeito. Agora é se virar pra conviver com ela e se possível fazê-la avançar. Pois arte tem muito de sudação. Mais transpiração que 'suspiração'.

Nos reencontrar com o palhaço que existe dentro de todos nós é um momento mágico. Desconheço quem não aprecie uma boa palhaçada. E Luiz consegue colocar no seu Palhaço Xuxu, toda uma delicadeza, toda uma grandeza das coisas de que são feitos um palhaço. É engraçado, astuto, inteligente, meigo, farsante, hilário, estapafúrdio, envolvente, mágico no ato de fazer rir. E tudo isso o Palhaço Xuxu possui e distribui com uma bondade que só os palhaços possuem. O Circo precisa continuar. Pois o espetáculo já está pra começar. As pessoas estão chegando e as cortinas vão se abrir e o palhaço vai fazer rir a platéia que se esquecerá do mundo como ele é e pensará que é feliz eternamente nas gargalhadas que dá e ouve. Como é bom ouvir o som das risadas na platéia. Como é bom estar ali e também está sorrindo. Um sorriso atrás do outro. Preso na magia do palhaço que a tudo controla e descontrola.

A Companhia Lua Crescente, o Piollin e tudo que vai acontecer nesse encontro, só nos mostram que a Paraíba continua andando pra frente. Pelo menos sempre esteve andando pra frente nas artes. Na sua produção artística. Com todas as dificuldades e em todos os momentos. O que nunca faltou na Paraíba foi produção artística. Daí minha admiração e meu respeito pelos artistas dessa terra. Que não precisam ser vistos como excêntricos e diferentes, mas como humanos que são. Artistas é o que são. Com todas as necessidades de sobrevivência. Os artistas são os artífices da sociedade. Cabe a eles a tarefa árdua e interminável de dá forma ao pensamento. A eles cabe o registro da história. São eternos em seus momentos de criação. Pois se conectam com forças que só a arte pode dá acesso. Mas acesso mesmo aconteceu ontem. E foi de riso. E gostaria de agradecer. Sim, agradecer ao Palhaço Xuxu, a faxina que ele fez nas teias de aranha que já começavam a querer tomar conta do meu palhaço interior. Que ontem mais uma vez acordou e sorriu pra mim.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente